18/05/2025

Com ou sem Bolsonaro: direita se divide e repensa futuro das eleições em 2026

Na ultima semana, o STF publicou o acórdão que transforma o ex-presidente e sete ex-assessores em réus por tentativa de golpe de Estado - (crédito: Platobr)

Com risco de prisão e fora das urnas até 2030, Bolsonaro segue como líder da oposição, mas força a direita a escolher entre fidelidade cega, aposta em sucessores ou disputa interna pelo protagonismo

O cerco se fecha sobre Jair Bolsonaro (PL). Na ultima semana, o Supremo Tribunal Federal (STF) publicou o acórdão que transforma o ex-presidente e sete ex-assessores em réus por tentativa de golpe de Estado. Com risco real de prisão e fora das urnas até 2030, Bolsonaro vê sua influência pressionar a direita, que se articula às pressas para sobreviver com — ou sem — seu principal líder. Cresce a disputa silenciosa entre aliados fiéis, oportunistas de ocasião e possíveis sucessores.

A imprensa ouviu deputados, senadores e articuladores para entender como cada ala da direita está se posicionando nesse cenário de incerteza.

Fechados com Bolsonaro

Entre os bolsonaristas mais próximos, a palavra de ordem é fidelidade. O deputado federal Rodolfo Nogueira (PL-MS) disse que qualquer impedimento a Bolsonaro é uma ameaça à democracia: “Meu candidato em 2026 é Jair Messias Bolsonaro. Qualquer eleição que o impeça de concorrer, negando ao povo o direito de escolher livremente seu presidente, não pode ser considerada verdadeiramente democrática”.

O ex-secretário de Cultura Mário Frias (PL-RJ), e atual deputado federal, também foi enfático ao falar: “Jair Bolsonaro. Não tenho outra opção”, afirmou. Para ele, nomes como Michelle Bolsonaro (PL), Tarcísio de Freitas (Republicanos), Romeu Zema (Novo) e Ronaldo Caiado (União Brasil) são importantes, mas “não existe outra liderança ou estratégia. Jair Bolsonaro é a direita no Brasil”, reforçou.

A senadora Damares Alves (Republicanos) reforçou o coro: “Nós não cogitamos qualquer possibilidade de ter outro candidato que não seja Bolsonaro”.

Outro nome influente dentro do Congresso, Luciano Zucco (PL-RS), destacou a narrativa de perseguição: “Bolsonaro está sendo vítima da maior campanha de perseguição política de nossa história”. “Ele só está inelegível porque hoje é um candidato imbatível nas urnas”, apontou.

O ex-ministro do Turismo Gilson Machado (PL-PE) foi além, ao prever que “o presidente vai decidir, em conjunto com as pessoas que ele confia, quem será o nome”.

Jogo duplo

Em outro campo estão aqueles que mantêm o discurso de lealdade, mas operam em busca de protagonismo. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), por exemplo, evita se colocar como pré-candidato, mas amplia sua visibilidade nacional ao participar de atos de protestos ao lado do ex-presidente e ao intensificar a interlocução com o mercado e o centro político.

Romeu Zema (Novo), embora não enfrente diretamente Bolsonaro, também se movimenta nos bastidores, inclusive com lideranças do próprio PL. Mesmo no partido do ex-presidente, alguns parlamentares admitem, reservadamente, que a legenda precisa estar preparada para um segundo candidato.

Alternativas

Alguns nomes da direita já assumem publicamente que desejam ocupar o espaço de Bolsonaro. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), já se lançou como pré-candidato e apareceu em primeiro lugar em uma recente pesquisa da Futura Inteligência, com 37,8% das intenções de voto, à frente de Lula, com 37,3%.

No Paraná, o governador Ratinho Júnior (PSD) ainda não oficializou candidatura, mas tem deixado recados claros. Ao Correio, declarou: “Eu sempre digo que é dever da minha geração apresentar um projeto de Brasil para o futuro, com todo respeito à geração que nos antecedeu”. “Temos grandes nomes no cenário eleitoral e precisamos construir alianças em torno de uma transformação”, completou.

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) afirmou à reportagem que qualquer um dos nomes discutidos pela direita até aqui tem legitimidade para ser candidato à Presidência. “Agora, se vai ter o prestígio dos brasileiros e se vai ter condições e competitividade de combater Lula e Bolsonaro, eu acho que não tem”, observou.

Possível prisão

Se Bolsonaro for preso, a expectativa é de forte mobilização popular. Gilson Machado disse que a base reagirá, principalmente nas redes sociais: “Bolsonaro criou a consciência das liberdades, a consciência de não negociar com o errado e nem com a falta de liberdade religiosa. Isso ninguém tira”.

Para o cientista político da UnB Felipe Rodrigues, a ausência física de Bolsonaro pode provocar uma fragmentação da direita: “O bolsonarismo como movimento cultural e político tem elementos que transcendem a figura pessoal de Bolsonaro”, comentou. Rodrigues destacou que figuras como Tarcísio, Zema ou Caiado não possuem o mesmo nível de mobilização. Quanto a Michelle Bolsonaro, vê vantagens e barreiras: “Ela tem forte conexão com o eleitorado evangélico e o sobrenome Bolsonaro. No entanto, sua inexperiência política e administrativa é um obstáculo significativo”.

Já o deputado estadual Marcio Pacheco (PP-PR) refutou a ideia de que a direita depende exclusivamente do ex-presidente: “A direita não existe por causa do Bolsonaro, ela se identificou com Bolsonaro. Depois disso, ficou muito claro quem é ou não de direita. A direita vai se manter forte independente de qualquer nome. Não é a questão de uma só pessoa, é uma questão de conceito, consciência, valores”.

Visão do PT

No campo governista, o tom é de cautela. O deputado José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, relatou que o impacto da “possível prisão [de Bolsonaro] pode beneficiar outros nomes da direita e não o PT”. “O partido [PT] ainda não definiu sua estratégia para um cenário sem Bolsonaro na disputa”, observou.

Com ou sem Bolsonaro, em 2026, a direita terá que decidir se segue unida ou se mergulha em um processo de dispersão. Seus aliados mais próximos insistem que ele será candidato e rejeitam discutir alternativas. Mas os movimentos nos bastidores indicam que nem todos estão dispostos a esperar o desfecho judicial. Independentemente de estar nas urnas ou não, a influência de Bolsonaro na política nacional seguirá sendo um fator decisivo.

Tribuna Livre, com informações das Agências Senado e Câmara

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