Estados Unidos aproveitam a morte de Yahya Sinwar, líder do Hamas, para costurar um cessar-fogo na Faixa de Gaza. Secretário de Estado Antony Blinken viaja a Israel. Executivo judeu promete US$ 100 mil a quem entregar refém vivo
Depois da morte de Yahya Sinwar, líder do grupo terrorista Hamas e mentor do massacre de 7 de outubro de 2023, os Estados Unidos veem uma oportunidade de alavancar um acordo que leve à libertação dos 101 reféns e a um cessar-fogo na Faixa de Gaza. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, viajou rumo a Israel e a países árabes para tentar costurar uma trégua. Em paralelo, um executivo israelense promete pagar US$ 100 mil (ou R$ 570 mil) a cada palestino — extremista do Hamas ou não — que entregar um refém vivo.
Na 11ª viagem ao Oriente Médio em um ano, Blinken permanecerá quatro dias na região e “discutirá a importância de colocar fim à guerra em Gaza, garantir a libertação de todos os reféns e aliviar o sofrimento do povo palestino”, informou o Departamento de Estado. A chancelaria norte-americana não divulgou o cronograma da visita nem os países onde Blinken fará escala. Durante o tour, o secretário também discutirá os acordos para o pós-guerra e tentará forjar uma “resolução diplomática” para o Líbano, apesar de não haver nenhum indício de trégua. Somente nesta segunda-feira, o movimento xiita Hezbollah disparou 170 foguetes em direção a Israel, que voltou a intensificar os bombardeios a bairros do sul de Beirute.
Eytan Gilboa, professor de relações internacionais da Universidade de Bar-Ilan, em Ramat Gan (perto de Tel Aviv), demonstra ceticismo em relação a uma trégua. “A guerra em Gaza não acabará até que a organização terrorista Hamas, um representante do Irã, deixe de existir enquanto corpo militar e governamental no território. O Hamas precisa ser substituído, e seus líderes remanescentes podem receber imunidade e abandonar Gaza. O Hamas é o principal obstáculo para o fim da guerra. Ele quer continuar a luta, expandi-la e atrair o Irã e seus outros representantes”, afirmou à reportagem, por e-mail.
A polícia de Israel anunciou a prisão de sete israelenses acusados de espionarem para o Irã. Por meio de um comunicado, a polícia informou que cinco adultos e dois menores foram recrutados por agentes dos serviços de inteligência iranianos, e as informações que colheram “causaram danos em matéria de segurança”.
Ex-CEO da SodaStream International — empresa vendida para a PepsiCo em 2018 por US$ 3,4 bilhões (cerca de R$ 19,3 bilhões) —, o israelense Daniel Birnbaum, 62 anos, contou ao Correio que decidiu pagar uma recompensa pela entrega de reféns vivos depois que o premiê Benjamin Netanyahu fez uma oferta genérica aos cidadãos da Faixa de Gaza. O chefe de governo prometeu passagem livre e imunidade, caso alguém entregue um sequestrado. “Apenas adicionei o componente financeiro”, afirmou Birnbaum, por telefone. “Acho que isso cria uma situação na qual até mesmo o mais malvado dos terroristas será capaz de abraçar a proposta, construir um futuro para sua família, abandonar Gaza, se instalar em algum outro lugar no Oriente Médio, erguer uma casa e viver”, acrescentou o morador de Tel Aviv.
A iniciativa de Birnbaum foi lançada na noite do último sábado (19/10). “Em primeiro lugar, pagaremos apenas por reféns vivos. Não queremos que matem reféns e que nos entreguem os corpos em troca de dinheiro”, ressaltou. Segundo o empresário, a libertação dos reféns seguirá um método planejado. “Nós exigiremos a exata localização do sequestrado e uma foto recente, no máximo tirada na véspera; e, então, coordenaremos o resgate. Ao mesmo tempo, é claro, nós retiraremos as pessoas do Hamas ou qualquer palestino que desejar sair de Gaza em segurança. O Exército de Israel cuidará dessa parte. Sou apenas um cara de negócios, que ama a vida e deseja que as pessoas vivam em paz e em harmonia.”
Birnbaum reconhece que negociar com terroristas não seria a melhor saída. “É óbvio que eles não merecem nada, são animais e têm que morrer. Mas, neste momento, precisamos resgatar os reféns. Qualquer coisa que tenhamos feito até agora não tem funcionado”, lembrou. “A guerra em Gaza não acabará até que o capítulo envolvendo os sequestrados se encerre. Decidimos pagar uma recompensa. Vai funcionar? Não sei. Mas algumas vezes precisamos tentar algo novo.”
Líbano
As Forças de Defesa de Israel (IDF) divulgaram que o Hezbollah escondeu, dentro do bunker usado pelo xeque Hassan Nasrallah, líder do grupo morto em 27 de setembro, cerca de US$ 500 milhões em dinheiro e ouro. Daniel Hagari, porta-voz das IDF, revelou que o montante era usado para financiar ataques contra Israel. “Este dinheiro poderia e ainda pode ser usado para reconstruir o Estado do Líbano”, declarou. O esconderijo estava situado sob o Hospital Al-Sahel, no coração de Beirute.
Na noite desta segunda-feira, a agência de notícias oficial libanesa (Ani) reportou 13 bombardeios no subúrbio do sul de Beirute, reduto do Hezbollah. “Um bombardeio israelense teve como alvo a zona de Ouzai. Trata-se do primeiro ataque contra o bairro de Ouzai desde o início da agressão israelense contra o Líbano”, acrescentou a Ani.
“A intensidade dos ataques nos subúrbios de Beirute foi excepcionalmente alta. Nuvens de fumaça são visíveis em grandes partes dos subúrbios ao sul de Beirute. Bairros inteiros foram reduzidos a escombros em outros bombardeios israelenses”, disse à reportagem a estudante de direito Tatiana Hasrouty, 19 anos, moradora de Beirute. “Os civis foram forçados a fugir, enquanto Israel continua a emitir ordens de evacuação antes dos ataques aéreos, com tempo mínimo para evacuação.”
Tribuna Livre, com informações da AFP