09/08/2025

86 mil queixas de ataques a mulheres em sete meses

Com os dados recolhidos pela plataforma, ministra (ao centro) considera que será possível estudar melhor o processo que leva à agressão - (crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Ligue 180 fez mais de 594 mil atendimentos, de janeiro a julho deste ano. Ministério das Mulheres reunirá tais dados em uma nova plataforma, apresentada ontem, para ampliar o alcance das políticas públicas contra a brutalidade de gênero

O Ministério das Mulheres lançou, ontem, o Painel de Dados do Ligue 180, plataforma que sistematiza as denúncias feitas pela Central de Atendimento à Mulher. A ferramenta tem o objetivo de ampliar o alcance de políticas públicas para conter a violência de gênero, uma vez que de janeiro a julho deste ano o canal telefônico de denúncias fez 594.118 atendimentos — dos quais 86.025 foram relatos de agressões.

A maior parte dos contatos foi feita por ligação telefônica (84,2%), seguida de e-mail (13,5%), WhatsApp (2,3%) e videochamada em Libras (menos de 1%). Entre os tipos de violência relatados, o ataque físico lidera com 41,4% dos registros, seguido do psicológico (27,9%) e do sexual (3,6%). Em 40,7% dos casos, a agressão ocorreu dentro da casa da própria vítima. A ministra das Mulheres, Márcia Lopes, destacou a importância de ter estatísticas baseadas em evidências para fazer o enfrentamento à violência de gênero.

“Seja nos feminicídios ou em qualquer tipo de violência, a gente precisa entender melhor, estudar melhor, analisar e ter estratégias efetivas para mudar esse comportamento”, destacou, acrescentando que o painel cumpre uma orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de garantir transparência na divulgação de dados públicos. “Dar visibilidade aos dados é uma forma de responsabilizar o Estado por respostas mais eficazes, inclusivas e baseadas em evidências”, afirmou.

O painel também mostra o perfil social e racial das vítimas. Pelos dados reunidos, 57,7% das mulheres atendidas se identificam como heterossexuais e 44,3%, como negras. Entre os agressores, 49,2% são heterossexuais e 41,4%, negros. Em quase metade dos casos (47,6%), o agressor era o parceiro ou ex-parceiro da vítima. Os demais suspeitos incluem vizinhos (5,3%), pessoas com outros vínculos (11,5%) e situações sem vínculo declarado (8,8%).

Outro dado mostrado pelo painel é o tempo que a  mulher convive com a violência antes de fazer a denúncia: 21,7% das vítimas relataram episódios que começaram há mais de um ano, sendo que 9% sofrem há mais de cinco anos e 8,6%, há mais de uma década. Para o ministério, esses números evidenciam a urgência em ampliar o acesso à rede de apoio e desenvolver ações preventivas mais eficazes.

“É função do Ligue 180 preparar relatórios analíticos e uma base de dados para fortalecimento das políticas e direcionamento do orçamento, de forma efetiva, para a gente fomentar essas políticas mais eficazes, mais focadas e mais territorializadas, de acordo com as dinâmicas das violências que a gente vem identificando”, observou Ellen dos Santos Costa, coordenadora-geral da Central de Atendimento à Mulher — Ligue 180 do ministério.

Reestruturação

A Central do Ligue 180 passou por uma reestruturação nos últimos meses, com foco na qualificação dos serviços. Foram implementadas melhorias tecnológicas, a ampliação dos canais de atendimento e o reforço na formação das equipes, com atenção especial às mulheres indígenas, negras, com deficiência e LGBTQIA . Atualmente, o serviço conta com 288 atendentes especializadas e, ao todo, 332 profissionais.

Além disso, o ministério firmou 11 acordos de cooperação técnica com unidades da Federação e o Conselho Nacional do Ministério Público, com o objetivo de melhorar os fluxos de atendimento. Desde 2024, o Ligue 180 opera de forma independente da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos.

O Painel de Dados do Ligue 180 permite que qualquer pessoa acesse os dados por filtros, como unidade da Federação, tipo de violência, perfil da vítima, vínculo com o agressor e período da ocorrência. A expectativa do governo é de que a ferramenta seja acessada por jornalistas, pesquisadores, gestores públicos e entidades da sociedade civil. Chega no momento em que a Lei Maria da Penha completa 19 anos e, também, por conta da campanha Agosto Lilás, de conscientização e enfrentamento à brutalidade contra as mulheres.

“A gente tem um foco muito importante na transparência e na inteligência desses dados. Esse painel, hoje, permite que a gente repasse essa informação para a população, sociedade civil, a todos os governos estaduais, municipais, gestores públicos, quem trabalha diretamente na rede para poder entender como é ter esse retrato dessa violência no país inteiro”, salienta Ellen Costa.

Em caso de suspeita ou violação dos direitos da mulher, a orientação é procurar uma delegacia de polícia especializada ou ligar para o 190 ou para a Central de Atendimento à Mulher do Ministério das Mulheres, pelo número 180, disponível também no WhatsApp 61-99610-0180.

Tribuna Livre, com informações do Ministério das Mulheres

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