Na sexta-feira, policiais invadiram a embaixada do México em Quito para capturar o ex-vice-presidente equatoriano Jorge Glas, que é condenado por corrupção. Após o episódio, o presidente mexicano López Obrador rompeu relações com o país.
Diplomatas mexicanos deixaram o Equador neste domingo (7) após romperem relações com o país depois que policiais invadiram a embaixada do México, em Quito, para capturar o ex-vice-presidente equatoriano Jorge Glas.
“Nosso pessoal diplomático deixa o Equador e volta para casa com a cabeça e o nome do México erguido após um ataque à nossa embaixada”, informou na rede social X a ministra das Relações Exteriores, Alicia Bárcena.
O grupo, que segundo as autoridades é composto por 18 pessoas, viaja por uma companhia aérea comercial, depois de ter sido descartado o envio de um avião militar devido às tensões.
Os funcionários e suas famílias foram acompanhados ao aeroporto de Quito pelos embaixadores da Alemanha, Panamá, Cuba e Honduras, bem como pelo presidente da Câmara de Comércio Equador-México, informou o Ministério das Relações Exteriores do México.
Glas recebeu asilo político do México e estava na embaixada desde dezembro 2023. Ele alega ser vítima de uma perseguição da Procuradoria-Geral do Equador.
Após a invasão, o presidente mexicano López Obrador anunciou o rompimento das relações diplomáticas com o Equador.
De acordo com a Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas, de 1961, os locais de missões de um país dentro de um outro — como embaixadas e consulados — são considerados invioláveis. Equador e México aderiram à regra na década de 1960.
Segundo o tratado, a entrada de agentes de estado dentro desses locais depende da autorização do chefe da missão estrangeira. Ou seja, no caso do Equador, a polícia deveria solicitar permissão ao embaixador mexicano para ingressar na Embaixada do México.
A prisão
Jorge Glas foi condenado a seis anos de prisão em 2017. Ele foi considerado culpado de receber propina da construtora Odebrecht em troca da concessão de contratos governamentais.
O governo do México anunciou na sexta-feira que tinha concedido asilo político a Glas.
Diante do anúncio, o Ministério das Relações Exteriores do Equador afirmou que o México estava violando acordos de asilo político. Além disso, autoridades equatorianas pediram permissão ao México para entrar na embaixada em Quito e prender Glas.
Durante a noite de sexta, um grupo de policiais equatorianos foi até a Embaixada do México com veículos escuros e arrombaram as portas externas da sede mexicana para entrar no local.
A principal avenida de acesso à embaixada também foi fechada pela polícia.
Em uma rede social, o presidente mexicano disse ter sido informado da invasão pela Secretária de Relações Exteriores e que o caso é uma violação do direito internacional e da soberania do México.
Por meio de um comunicado, o governo do Equador afirmou que não iria permitir que “nenhum criminoso fique impune”, referindo-se a Jorge Glas. Além disso, afirmou que o Equador respeita o povo mexicano e que embaixadas servem para estreitar relações entre os dois países.
Crise
A crise entre México e Equador começou a escalar após declarações do presidente López Obrador sobre as eleições equatorianas de 2023.
Na quarta-feira (3), Obrador comparou o assassinato de Fernando Villavicencio, que era candidato à Presidência do Equador, à violência na atual temporada eleitoral do México.
Villavicencio foi morto em agosto de 2023, após um comício em Quito. Já no caso do México, vários candidatos locais foram assassinados nas últimas semanas. As eleições mexicanas estão marcadas para junho.
Obrador também afirmou que a candidata de esquerda Luisa González, derrotada nas eleições do Equador, foi injustamente associada ao assassinato de Villavicencio. O presidente mexicano ainda culpou a mídia do Equador, chamando-a de corrupta.
López Obrador fez a comparação com o objetivo de atacar os veículos de mídia mexicanos, alvos de críticas frequentes por parte dele.
O governo do Equador considerou as falas de Obrador “infelizes” e, como resposta, declarou a embaixadora mexicana “persona non grata”.
O termo “persona non grata” é um instrumento jurídico utilizado nas relações internacionais para indicar que um representante oficial estrangeiro não é mais bem-vindo.
Tribuna Livre, com informações da Agência Reuters