Primeiro deputado a se transferir para a nova capital e chefe de governo quando Brasília se tornou Patrimônio Cultural da Humanidade, o ex-presidente defende a manutenção dos recursos para proteger a República de episódios como o 8 de janeiro
O ex-presidente da República José Sarney mantém uma relação com Brasília há mais de seis décadas. Quando deputado da União Democrática Nacional (UDN), foi um dos poucos a votar a favor da transferência da capital federal. Sarney também foi o primeiro parlamentar a fixar residência na capital erguida por Juscelino Kubitschek.
As relações de Sarney com Brasília não remontam apenas ao início da trajetória do político. Sarney era chefe do Executivo quando o Brasil deu início efetivo à redemocratização, em 1985. Era o sinal de novos tempos para um país que vinha das sombras de 21 anos da ditadura. Brasília passava a representar a capital do poder civil na Nova República, e não mais o centro do regime militar.
Em mais um destino cruzado com Brasília, Sarney governava o país quando Brasília ganhou o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, em 1987. Mais uma vez, a cidade que simboliza a união nacional era reconhecida como um patrimônio de todos os brasileiros.
São por essas razões que José Sarney defende a manutenção do Fundo Constitucional do Distrito Federal, novamente sob ameaça pelo governo Lula. O ex-presidente faz um apelo para que o Congresso Nacional — e o país, por extensão — preservem o valor institucional da capital da República. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista concedida por Sarney ao Correio.
Por que defender o Fundo Constitucional do DF?
O Fundo Constitucional do Distrito Federal não é somente do interesse do DF, mas de todo o Brasil. Temos o dever de que a cidade de Brasília tenha recursos para atender às necessidades de segurança. Como verificamos aquilo que aconteceu em 8 de janeiro, há necessidade de uma polícia especializada de Brasília. Jamais foi tão necessário. O episódio de terrorismo ocorrido em novembro confirma que Brasília deve ter uma segurança própria.
A que o senhor atribui esses ataques a Brasília?
Há uma visão equivocada sobre a capital federal, de que ela tem muito mais recursos do que necessita. Ela sempre necessitará de recursos para atender à ampliação de suas funções. É uma obrigação de todos nós, brasileiros, lutarmos para que Brasília tenha os recursos necessários para cumprir com sua missão constitucional de capital do país.
Não é a primeira vez que querem diminuir a importância do centro das decisões políticas do país.
Já saí em defesa do Fundo Constitucional uma vez e volto a fazê-lo. Espero que o Congresso seja sensibilizado. Brasília é a capital federal e tem a missão de receber o Brasil inteiro. Penso que todos nós devemos manifestar nossa solidariedade para que esses recursos não sejam atingidos.
Como vê a movimentação no Congresso em favor do FCDF?
O governador Ibaneis tem absoluta razão quando invoca as atribuições novas de combater atos de violação e de ameaça às instituições, como ocorreu em 8 de janeiro e depois com esse homem que tentou atingir o Supremo Tribunal Federal.
Qual sua relação com a capital da República?
Eu tenho uma grande responsabilidade sobre Brasília. Foi no meu governo que ela se transformou em Patrimônio Cultural da Humanidade. Isso também implica responsabilidade de manter a cidade preservada, para que a concepção de Niemeyer e de Lucio Costa não seja prejudicada ou danificada. Ao mesmo tempo, fui também o primeiro deputado federal a me transferir para Brasília. E era deputado federal no Rio de Janeiro na votação da cidade de Brasília. Embora o meu partido, a UDN, fosse contra, não concordei. Coloquei-me a favor da transferência da capital do Rio de Janeiro para Brasília. Tenho, portanto, autoridade para fazer essa reivindicação em favor do FCDF.
Tribuna Livre, com informações do Correioweb