30/07/2025

As armas e estratégia usadas pelos EUA no bombardeio às instalações nucleares do Irã

As armas e estratégia usadas pelos EUA no bombardeio às instalações nucleares do Irã - (crédito: BBC)

O cronograma de como a complexa missão se desenrolou foi divulgado pelo Pentágono poucas horas após os ataques.

Voos de 18 horas na ida e 18 horas na volta, vários reabastecimentos em pleno ar e uma série de cortinas de fumaça: foi assim que a missão de bombardear as instalações nucleares do Irã aconteceu no sábado (21/6), de acordo com o general quatro estrelas Dan Caine, presidente do Estado-Maior Conjunto, o oficial de mais alta patente nas Forças Armadas dos EUA.

Embora o impacto total do que os EUA estão chamando de “Operação Martelo da Meia-Noite” ainda não esteja claro, um cronograma de como a complexa missão se desenrolou foi divulgado pelo Pentágono na manhã de domingo (22/6), poucas horas após os ataques.

Bombardeiros americanos “entraram, saíram e voltaram sem que o mundo soubesse”, disse o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, aos repórteres.

Tudo começou logo depois da meia-noite de sábado (21/6), quando Hegseth se juntou ao presidente dos EUA, Donald Trump, ao vice-presidente JD Vance, ao Secretário de Estado, Marco Rubio, e à equipe de elite do Pentágono na Sala de Crise da Casa Branca para assistir a uma frota de aeronaves decolar de uma base aérea americana na zona rural do Missouri.

Sob o manto da escuridão, bombardeiros B-2 decolaram da Base Aérea de Whiteman às 0h01 no horário de Washington (1h01 no horário de Brasília), de acordo com o Pentágono.

Seu alvo final: as instalações nucleares mais seguras do Irã.

Os jatos subsônicos, que viajam pouco abaixo da velocidade do som, sobrevoaram o Oceano Atlântico carregados com poderosas bombas “destruidoras de bunkers”, capazes de penetrar concreto a mais de 18 metros de profundidade.

Esse é o tipo de armamento necessário para atingir a instalação de enriquecimento nuclear do Irã em Fordo, que fica enterrada sob uma montanha no subsolo e é considerada o epicentro do programa nuclear do país.

Os EUA são o único país do mundo conhecido por possuir esse tipo de arma.

Mas o mundo não estava assistindo — ainda. Todos os olhos estavam voltados para o oeste, em direção ao Oceano Pacífico, após relatos de que bombardeiros haviam sido enviados ao território americano de Guam.

“Embora a mobilização não esteja sendo oficialmente conectada às discussões sobre a adesão dos EUA à guerra de Israel contra o Irã, poucos duvidarão da ligação”, escreveu a BBC quando foi noticiado o fato.

Mas tudo era apenas uma cortina de fumaça — de acordo com o relato feito pelo Pentágono: algo para desviar a atenção dos voos ultrassecretos que seguiam direto para o Irã pelo Atlântico.

Os aviões que voaram para o oeste sobre o Pacífico foram “uma cortina de fumaça conhecida apenas por um número extremamente pequeno de planejadores e líderes importantes”, disse o general Caine.

“O principal grupo de ataque, composto por sete bombardeiros B-2, cada um com dois tripulantes, avançou silenciosamente para o leste com comunicações mínimas”, acrescentou.

Esses aviões militares não aparecem em sites de rastreamento de voos, dificultando que a BBC verifique de forma independente a descrição dos eventos feita pelo Pentágono.

E embora as imagens de satélite mostrem a extensão dos danos nos locais durante a noite, elas não revelam os horários exatos em que foram atingidos.

Quando a frota chegou ao Oriente Médio, por volta das 17h no horário de Washington (18h no horário de Brasília), aeronaves de apoio se juntaram a ela — voando à sua frente para procurar caças inimigos e ameaças de mísseis terra-ar, no que o general Caine chamou de “manobra complexa e com curto tempo”.

Mas os caças iranianos não decolaram e nenhuma defesa aérea pareceu disparar um tiro, de acordo com autoridades americanas.

“O domínio israelense sobre o espaço aéreo iraniano preparou o terreno para que os bombardeiros americanos operassem livres”, disse Patrycja Bazylczyk, especialista em defesa antimísseis do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington DC, à BBC.

A próxima hora e quarenta minutos foram descritos pelo general Caine durante o briefing do Pentágono em um nível de detalhes normalmente não divulgado ao público.

Embora o briefing fornecesse horários para certos eventos, o mapa que mostrava a jornada dos bombardeiros não era uma rota de voo específica e diferia ligeiramente nas duas versões apresentadas.

O governo Trump proclamou os eventos como uma vitória total, afirmando que os EUA haviam “obliterado” o regime nuclear iraniano. Mas a verdadeira extensão dos danos e suas consequências ainda não foram mensuradas.

Embora o Irã tenha confirmado os ataques, o governo de Teerã minimizou a extensão dos danos e não forneceu um relato específico da sequência de eventos.

Por volta das 17h no horário de Washington (18h em Brasília), autoridades dos EUA disseram que mais de duas dúzias de mísseis de cruzeiro de ataque terrestre Tomahawk foram lançados de um submarino dos EUA estacionado no Mar Arábico em direção ao local nuclear perto de Isfahan, uma cidade de cerca de dois milhões de pessoas.

Embora a instalação nuclear esteja a centenas de quilômetros do interior, os submarinos estavam próximos o suficiente para permitir que os mísseis de cruzeiro impactassem aproximadamente ao mesmo tempo em que os B-2 lançavam suas bombas “destruidoras de bunkers” sobre as outras duas instalações nucleares, disse Stacie Pettyjohn, especialista em defesa do Centro para uma Nova Segurança Americana.

Tudo isso significava que os EUA foram capazes de realizar “um ataque surpresa coordenado em vários locais”, disse ela à BBC.

Enquanto isso, a frota de bombardeiros entrou no espaço aéreo iraniano, onde os EUA empregaram diversas outras táticas de cortina de fumaça, de acordo com o Pentágono.

Então os ataques aéreos começaram.

O bombardeiro líder lançou duas armas GBU-57 Massive Ordnance Penetrator — conhecidas como MOPs — no primeiro de vários alvos em Fordo por volta das 18h40 no horário de Washington (18h40 em Brasília), logo após as 2h da manhã no Irã.

Segundo especialistas, a bomba MOP consegue penetrar cerca de 18 metros de concreto ou 61 metros de terra antes de explodir. Isso significa que, embora não haja garantia de sucesso, é a única bomba no mundo que pode chegar perto de atingir a profundidade dos túneis da instalação de Fordo – que se acredita estarem de 80 a 90 metros abaixo da superfície.

Foi a primeira vez que bombas “destruidoras de bunkers” foram lançadas em uma operação de combate real.

Os bombardeiros restantes atingiram seus alvos — com um total de 14 MOPs lançados em Fordo e em uma segunda instalação nuclear em Natanz, segundo o Pentágono. E na instalação nuclear de Isfahan, a mais de 200 km de Fordo, os mísseis Tomahawk atingiram seus alvos.

Depois que os aviões passaram 18 horas no ar, todos os alvos foram atingidos em apenas 25 minutos antes de saírem do Irã às 19h30 no horário de Washington (20h30 em Brasília) para retornar aos EUA, de acordo com o Pentágono.

No total, cerca de 75 armas guiadas de precisão e mais de 125 aeronaves americanas foram usadas, e o Secretário Hegseth afirmou que a missão proporcionou uma destruição “poderosa e clara” das capacidades nucleares do Irã.

Mas as evidências do escopo total dos ataques levarão tempo para serem avaliadas — com mais filmagens necessárias para ver até que profundidade as bombas destruidoras de bunkers conseguiram penetrar nos principais locais nucleares.

“Este foi um ataque incrivelmente complicado e muito sofisticado que nenhum outro país no mundo poderia ter realizado”, disse Pettyjohn.

“Apesar do sucesso tático da operação, não está claro se ela atingirá o objetivo de atrasar permanentemente o programa nuclear do Irã.”

Tribuna Livre, com informações da BBC News

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