IPCA sobe 0,48%, abaixo do que o esperado pelo mercado, mas continua acima do teto da meta, de 4,50%, reforçando apostas de corte de juros apenas em 2026
Após registrar deflação de 0,11% em agosto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) voltou a acelerar em setembro e avançou 0,48%, conforme dados divulgados, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A variação mensal, apesar de ter ficado abaixo do esperado pelo mercado — a mediana das estimativas estava em 0,55% —, mostra uma tradicional recuperação em V do indicador do custo de vida entre agosto e setembro. E, no acumulado em 12 meses, passou de 5,13%, em agosto, para 5,17%, em setembro. Com isso, a inflação segue resiliente desde fevereiro, quando superou o patamar de 5% e continua acima do teto da meta perseguida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, é de 4,5%.
Logo, com esse cenário de inflação ainda resistente, dificilmente haverá redução da taxa básica da economia (Selic), atualmente em 15% ao ano, em 2025, apesar de a difusão de aumento de preços na economia ter diminuído de 57% para 52% na comparação mensal.
“O Copom ainda deve manter os juros estáveis, com possibilidade de cortes apenas em 2026. A difusão caiu de 57% para 52%, indicando uma inflação qualitativamente melhor”, afirmou Jason Vieira, economista-chefe da Lev Intelligence.
Na avaliação de Antônio da Luz, economista-chefe da Ecoagro, o IPCA deste mês não surpreendeu, apesar de vir mais forte que no mês passado, e destacou o impacto da conta de luz no resultado geral. Mesmo com a alta em setembro e o índice ainda acima dos 5% no acumulado dos últimos 12 meses, ele acredita que a inflação oficial vai fechar o ano em 4,85% e cair ainda mais nos primeiros meses de 2026. “No início do ano que vem, no primeiro trimestre, a gente vai ter inflação, pelo menos, dentro da banda, já no primeiro trimestre, nos primeiros meses do ano, a gente acredita que ela vem para dentro da banda, o que vai permitir a redução da Selic”, considerou.
Maior vilão
O fim do desconto do bônus de Itaipu na conta de luz dos consumidores era esperado, fez com que a energia elétrica fosse o principal vilão da inflação de setembro. Conforme os dados do IBGE, o impacto da alta de preços no grupo Habitação, de 0,45 ponto percentual no mês, foi responsável por 93% da variação do IPCA no mês. Aliás, o fim desse crédito fez com que a energia elétrica residencial avançasse 10,31% enquanto a variação mensal do grupo Habitação foi de 2,97%.
Também pesou nessa alta dos custos da energia elétrica a continuidade da bandeira vermelha 2, no mês passado, e o reajuste em algumas capitais do país, como São Luís, Vitória e Belém. A capital maranhense, inclusive, foi a que apresentou a maior inflação no mês de setembro entre as cidades analisadas na pesquisa, com alta de 1,02%, enquanto a menor foi a de Salvador, de 0,17%.
O gerente da pesquisa do IBGE, Fernando Gonçalves, lembrou que o resultado de setembro no grupo habitação é o maior para o mês desde 1995. “É importante destacar que em setembro estava em vigor a bandeira tarifária vermelha patamar 2, com a cobrança adicional de R$ 7,87 para cada 5 kW hora consumidos. No ano, a energia elétrica residencial acumula uma alta de 16,42%, destacando-se como o principal impacto individual com 0,63 ponto percentual no resultado acumulado do IPCA, que é de 3,64%. Em 12 meses, o resultado acumulado da energia elétrica é de 10,64%”, afirmou.
Além da habitação, outros cinco grupos pesquisados pelo IBGE registraram alta de preços em setembro: vestuário, (de 0,63%), transportes (0,01%), Saúde e cuidados pessoais (0,17%), Despesas pessoais (0,51%) e Educação (0,07%). Apenas três grupos tiveram queda de preços em setembro: artigos de residência (-0,4%), comunicação (-0,17%) e alimentação de bebidas (-0,26%). Neste último, destacou-se a deflação de 0,41% da alimentação no domicílio, com recuo de preços de alimentos in natura, como tomate (-11,52%), cebola (-10,16%), alho (-8,70%), batata-inglesa (-8,55%) e arroz (-2,14%).
Custos elevados
O coordenador do Centro de Pesquisas Econômicas e Mercadológicas (Cepem) da Faculdades Alves Farias (Alfa), Aurélio Troncoso, considerou que o Brasil vive uma inflação de custos, e não de demanda, ao contrário do que alguns economistas acreditam. Isso significa que o produto fica mais caro antes mesmo de começar a ser colocado na prateleira. E, com essa análise, ele acredita que a taxa básica de juros se encontra em patamar injustificável, aos 15% ao ano. “O, BC normalmente, utiliza a taxa de juros para poder restringir que as famílias comprem produtos no mercado. Aí, você tem uma política restritiva, que impede que a população vá às compras e comece a comprar mais do que aquilo que é necessário. E, na verdade, isso não está acontecendo há muitos anos”, considerou.
Ao analisar os dados do IPCA, o economista e consultor André Perfeito considerou que o fato de o indicador ter acelerado menos do que o esperado e com núcleos mais comportados é algo “benigno para a política monetária”. “Importantes medidas de núcleos tiveram desaceleração indicando que as pressões do mercado de trabalho estão menos intensas no índice. Não se pode dizer, com isso, que o Copom vai cortar os juros por conta dos números divulgados, mas é razoável supor que as medianas das projeções do mercado podem melhorar para o horizonte de curto prazo”, afirmou. Contudo, ele lembrou que as expectativas para o horizonte relevante de 2027 “estão emperradas no imbróglio fiscal atual, impedindo a queda da taxa Selic”.
Tribuna Livre, com informações do Comitê de Política Monetária (Copom)