A realidade
mental do partido congelou-se no tempo do sindicalismo. E do estatismo, e do
capitalismo patrimonialista
Mario Sabino
A entrevista do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, ao
jornal Valor mostra que o cidadão não compreendeu as novas relações que se
estabeleceram no mundo do trabalho, desde o advento da revolução digital. A
reforma trabalhista, que flexibilizou as normas estabelecidas por uma
legislação que remonta à década de 1940, ajudou — e muito — que a taxa de
desemprego, em novembro de 2022, último dado divulgado pelo IBGE, fosse de
8,1%, a menor desde abril de 2015. Em números absolutos, são 8,7 milhões de
desempregados a menos, o menor contingente desde junho daquele mesmo ano.
Luiz Marinho, assim como todos os integrantes do PT,
culpa a reforma por ter “fragilizado” o mercado de trabalho e “achatado” a
massa salarial. Não é verdade. O mercado de trabalho viu-se fragilizado,
principalmente, por um fator circunstancial — o impacto econômico causado pela
pandemia — e a massa salarial foi achatada também por um fator estrutural: a
baixa produtividade dos trabalhadores brasileiros. Todos os estudos disponíveis
sobre o assunto mostram que ela permanece a mesma há décadas. Por falta de
qualificação, um trabalhador brasileiro demora uma hora para fazer o mesmo
produto que um americano faz em quinze minutos.
Quanto à pandemia, a reforma trabalhista teve a virtude
de atenuar os seus efeitos, como mostra um estudo da Faculdade de Economia e
Administração da USP, divulgado em maio de 2022. Apenas uma das suas mudanças,
a que dificulta a esbórnia processual na Justiça do Trabalho, causou uma
redução de 1,7 ponto percentual no desemprego. Em relação à baixa
produtividade, os diversos governos vêm fazendo quase nada para reverter o
quadro. Continuamos com uma educação abaixo da crítica, apesar de sermos um dos
países que mais gastam nesse quesito, em proporção do PIB. Gastamos mal.
A realidade mental de Luiz Marinho congelou-se no tempo
do sindicalismo. A de Lula também. Para ambos, mas não só para eles, o mundo se
divide entre empresários exploradores que não trabalham e trabalhadores
explorados que precisam ser tutelados por um Estado paternalista. Sobre a
regulamentação do trabalho por aplicativos, o ministro do Trabalho chegou a
dizer, na entrevista ao Valor, que é “problema do Uber”, se a empresa sair do
Brasil. Não é. É de uma massa de brasileiros que consegue obter uma renda
mensal por causa do aplicativo e não quer patrão.
Luiz Marinho ainda complementou o raciocínio torto, ao
afirmar que, se o Uber resolvesse sair do Brasil por causa de uma regulamentação
estrita demais, o governo criaria outro aplicativo. “Posso chamar os Correios,
que é uma empresa de logística e dizer para criar um aplicativo e substituir”.
Imagine-se o “Uber dos Correios”, no contexto da eficiência dos serviços
públicos brasileiros. A pessoa chamaria um carro hoje, para que chegasse
amanhã. E ainda teria de dar um dinheiro por fora ao motorista, para compensar
os encargos pagos por ele.
Na visão de Luiz Marinho e do PT, que ninguém se engane,
a estatização é sempre boa solução, não importa a área, apesar de todas as
evidências em contrário. O sueco Olof Palme, que foi primeiro-ministro do seu
país, dizia que, para o comunista, o capitalismo é uma ovelha a ser morta,
enquanto que, para o social-democrata, o capitalismo é uma ovelha que deve
permanecer viva, mas bem tosquiada. Para a esquerda brasileira, o capitalismo é
uma vaca patrimonialista a ser tolerada e alimentada pelo Estado — e que o
recompensa, bem como os seus agregados, fornecendo boa parte do leite que ela
produz.