06/11/2025

“A defesa da democracia está em jogo”, diz Joe Biden

Joe Biden escolheu o Salão Oval da Casa Branca para explicar ao país os motivos de abandonar a campanha: alerta sobre o futuro - (crédito: Evan Vuccis/AFP)

Em discurso à nação, o presidente dos EUA afirma que tomou a decisão de não disputar a reeleição para unir o Partido Democrata. Ele revela que chegou o momento de dar lugar a “jovens vozes” e promete manter o foco nos seis meses finais de governo

Pouco mais de 72 horas depois de comunicar sua desistência de disputar as eleições de 5 de novembro e tentar um segundo mandato, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, escolheu o Salão Oval da Casa Branca para explicar à nação os motivos de sua decisão. “Tem sido a honra de minha vida servir como seu presidente. Mas a defesa da democracia, que está em jogo, é mais importante do qualquer título”, declarou. Segundo ele, a tarefa de proteger a democracia se trata do futuro e dos norte-americanos enquanto povo.

“Há um tempo e um lugar para longos anos de experiência na vida pública. Também há um tempo e um lugar para novas vozes, vozes frescas, sim, vozes jovens. A hora e o local são agora”, admitiu, ao acrescentar que abandonou a corrida por um segundo mandato para “unir” o Partido Democrata.

Biden advertiu que o país vive um ponto de inflexão. “A América está chamada a escolher entre mover adiante e retroceder, entre a esperança e o ódio, entre a união e a divisão”, disse, em clara referência ao magnata e candidato republicano Donald Trump. Ele contou que, nos últimos dias, ficou evidente a urgência de unificar os democratas em torno “dessa odisseia importante”. “Eu decidi que a melhor forma de seguir adiante é passar a tocha para uma nova geração. Essa é a melhor maneira de unir nossa nação”, explicou.

O líder norte-americano afirmou que, nos próximos seis meses, manterá o foco em seu trabalho como presidente. Prometeu desenvolver a economia, proteger as liberdades individuais e os direitos civis, combater o ódio e o extremismo e assegurar que a violência política não tenha lugar nos EUA. Também destacou que trabalhará por uma reforma na Suprema Corte dos Estados Unidos. “Nós continuaremos a trabalhar para garantir que os EUA permaneçam fortes e líderes do mundo livre.”

Denilde Holzhacker, professora de relações internacionais da ESPM-SP, acredita que, no discurso, Biden deixou bem claro que decidiu abandonar os planos de reeleição para tentar unificar o Partido Democrata. “Ele sabe que é um momento crucial para os Estados Unidos. Também sinaliza que a idade foi um fator importante, ao falar que é hora de passar a tocha para pessoas mais novas, independente das ambições pessoais”, explicou ao Correio. “O pronunciamento mostrou que ele sofreu a pressão do partido. Por outro lado, Biden elogiou Kamala Harris e sublinhou que a indicação da vice foi uma escolha dele. O presidente tentou equilibrar o discurso de que sua liderança foi colocada sob pressão, mas que a escolha final foi dele.”

“Momento crucial”

Para Holzhacker, Biden deu forte ênfase de que os Estados Unidos enfrentam um momento crucual, e que os perigos contra a democracia ainda estão presentes. “Por isso, procurou colocar seu sacrifício pessoal para garnatir o bem-estar e a liberdade do povo norte-americano acima de tudo”, comentou. Ela viu uma tentativa do democrata de se alinhar ao discurso de Kamala sobre a necessidade de uma mobilização contra os perigos apresentados por Trump.

“É importante, também, ressaltar que parte importante do discurso foi garantir que ele se mantém como presidente e que ainda tem muitas iniciativas internas e externas para trabalhar”, disse a professora da ESPM. Nesse sentido, ela visualiza a preocupação de Biden com o fato de políticos republicanos questionarem sua capacidade de se manter à frente do Salão Oval da Casa Branca.

Por sua vez, James Naylor Green, historiador político da Universidade Brown (Rhode Island), avaliou o discurso como “digno”. “Ele mostrou que ainda é um político e um presidente competente. A parte sobre a defesa da democracia é fundamental, no momento em que a extrema direita cresce em todo o mundo”, explicou ao Correio.

Adversários partem para a ofensiva

Na tarde desta quarta-feira (24/7), pouco antes do pronunciamento de Joe Biden, a vice Kamala Harris, potencial candidata à nomeação pelo Partido Democrata, tornou a render homenagar o presidente norte-americano. “Quero compartilhar com vocês o que sei dele, com base em minha experiência pessoal. Joe Biden é um líder com uma visão de ousadia sobre o futuro. Ele tem uma determinação extraordinária e profunda compaixão com o povo de nosso país. (…) Somos profundamente gratos por seu trabalho pela nossa nação”, declarou Kamala em evento da Zeta Phi Beta Sorority Inc., uma das organizações mais antigas do movimento negro, em Indianápolis. “Nós partilhamos uma visão de futuro, no qual  cada pessoa não apenas sobreviva, mas prospere. Um futuro de justiça social, econômica e sanitária.”

De acordo com Kamala, os Estados Unidos necessitam da liderança do movimento negro, mais uma vez. “Enfrentamos uma escolha entre duas visões diferentes: uma focada no futuro, outra no passado. Com seu apoio, eu os convido para o futuro da nação”, disse a democrata, que acusou Trump de querer fazer os Estados Unidos regressarem a um “passado sombrio”. “Esses extremistas querem nos atrasar, mas não vamos retroceder”, ressaltou. “Quando nós lutamos, vencemos.”

Trump escolheu Charlotte (Carolina do Norte) para o primeiro comício desde a desistência de Biden, no último domingo, e acusou Kamala de querer “executar” bebês — uma referência à defesa do aborto. “Ela quer abortos no oitavo e nono mês de gravidez, até o nascimento e até mesmo após o nascimento, executar bebês”, disse o candidato republicano.

Lunática de esquerda

O republicano chamou Kamala de “lunática radical de esquerda que destruirá o país”. Segundo ele, a vice de Biden permitiu a entrada de “terroristas” nos EUA. “Temos centenas e milhares de terroristas ingressando em nosso país, de todos os lugares do mundo”, declarou, antes de citar casos de estupro e assassinato supostamente cometidos por imigrantes. “Kamala cometeu crimes e não deveria ter a permissão de disputar a Presidência dos EUA.” Trump também classificou Kamala de “a força motriz ultraliberal por trás de cada catástrofe de Biden”.

Tribuna Livre, com informações da Agence France Presse.

Deixe um comentário

Leia também
O narcossubmarino transportando 1,7 toneladas de cocaína que foi interceptado no Atlântico
O narcossubmarino transportando 1,7 toneladas de cocaína que foi interceptado no Atlântico
Avião de carga cai e deixa sete mortos nos EUA
Avião de carga cai e deixa sete mortos nos EUA
Trabalhador fica preso sob escombros após desabamento de torre em Roma
Trabalhador fica preso sob escombros após desabamento de torre em Roma
Shein proíbe venda de bonecas sexuais após indignação com aparência infantil dos produtos
Shein proíbe venda de bonecas sexuais após indignação com aparência infantil dos produtos
Relatório entregue a governo Trump por Castro pede sanções antiterrorismo contra Comando Vermelho
Relatório entregue a governo Trump por Castro pede sanções antiterrorismo contra Comando Vermelho
Tarifaço terá audiência decisiva na Suprema Corte nesta quarta, e Trump diz que não vai comparecer
Tarifaço terá audiência decisiva na Suprema Corte nesta quarta, e Trump diz que não vai comparecer
Ataque a trem na Inglaterra: polícia descarta motivação 'terrorista'
Ataque a trem na Inglaterra: polícia descarta motivação 'terrorista'
Ataque dos EUA contra suposta embarcação 'narco' deixa três mortos
Ataque dos EUA contra suposta embarcação 'narco' deixa três mortos
Nobel da Paz questiona Lula como mediador entre EUA e Venezuela
Nobel da Paz questiona Lula como mediador entre EUA e Venezuela
Massacre em hospital do Sudão deixa mais de 450 mortos, diz OMS
Massacre em hospital do Sudão deixa mais de 450 mortos, diz OMS
Trump espera uma 'grande reunião' com Xi Jinping na Coreia do Sul
Trump espera uma 'grande reunião' com Xi Jinping na Coreia do Sul
Sobe para 20 o número de mortos no Haiti pelo furacão Melissa
Sobe para 20 o número de mortos no Haiti pelo furacão Melissa

Vídeo flagra homem de cueca invadindo casa de mulher

Vítima contou à polícia que homem chegou a entrar no quarto, mas fugiu depois que ela começou a gritar Uma mulher foi surpreendida com um homem, apenas de cueca, dentro da sua casa, no Bairro Monte Castelo, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A invasão aconteceu na noite

Leia mais...

Água Quente ganha nova creche parceira do GDF

Creche Rouxinol destaca-se como ponto de apoio fundamental para famílias da região administrativa A mais nova região administrativa do Distrito Federal, Água Quente celebrou a abertura de uma nova unidade escolar parceira. A Creche Rouxinol iniciou as atividades no dia 7 de outubro e vem proporcionando muito mais que educação,

Leia mais...

A sua privacidade é importante para o Tribuna Livre Brasil. Nossa política de privacidade visa garantir a transparência e segurança no tratamento de seus dados pessoais.