Nove dos 27 cavalos que apresentaram sintomas de intoxicação depois de comer feno supostamente contaminado morreram
Nove cavalos do Instituto Equestre Camilla Costa, em Goiânia, faleceram na última semana depois de comer um rolo de feno supostamente contaminado com fungos. O portal conversou com dois veterinários que tiveram contato com os animais intoxicados para entender o que aconteceu com eles e ouviu que, além da possível presença dos fungos (constatada por um desses veterinários e pela dona do instituto), o que também pode ter colaborado para o agravamento do equino é o tipo de capim usado na alimentação deles, chamado Massai.
O capim Massai tem a característica de reduzir o fluxo intestinal e de potencializar o acúmulo de gases no abdômen do cavalo a partir da fermentação. Quando o acúmulo de gases é muito grande, a pressão sobre os pulmões aumenta a ponto de gerar risco de asfixia.
“O capim Massai é de um tipo bem tenro, de muita folha e pouca haste. A ingestão dele leva a uma paralisia dos movimentos intestinais a partir do sistema nervoso, ou seja: o animal deixa de flatular”, diz o médico veterinário José Bráulio Florentino Júnior, proprietário do Hospital Rural Veterinário. Bráulio afirma que casos de empazinamento como esse são relativamente comuns, que provavelmente foram agravados pela possível presença dos fungos.
“Eu tive um caso dois ou três anos atrás com feno recém cortado, que não estava fermentado. Dos seis animais morreram cinco”, relembra o médico.
Primeiro alerta
A médica veterinária Suyan Brethel foi uma das primeiras a detectar anomalias no comportamento dos animais, aproximadamente 15 dias antes do agravamento do quadro deles. Ela afirma ter constatado que o feno estava de fato com fungos no interior do rolo. “Pedi que não fosse ofertado aos cavalos, que fosse devolvido. Mas o fornecedor foi até lá e disse que estava tudo ok com o produto, que acabou sendo consumido”, diz ela.
Suyan concorda que o fato de que o feno ser de capim Massai pode ter contribuído para que os equinos passassem mal. “O Massai tem maior probabilidade de mofar no meio. O processo de enrolamento tem que ser feito com muita atenção, muito cuidado. A detecção também é complicada, porque ele mofa no meio”.
Suyan é professora da UniGoiás e, toda semana, leva alunos para ter aulas no instituto Equestre. Nessa semana, ela aproveitará a presença dos estudantes para discutir o quadro clínico dos cavalos e discutir com eles as possibilidades de tratamento e de cura.
Como já foi mostrado, 27 animais apresentaram sintomas de contaminação e nove morreram. A dona do instituto dispensou o fornecedor de feno e acionou a Polícia Civil para acompanhar o caso.