Episódio nos ensina é que não temos “salvadores” da democracia, mas seus violadores; a democracia não precisa de salvação. Precisa só de democracia, escreve Mario Rosa.
Acompanho a eleição para presidente dos Estados Unidos diariamente pelos comícios dos 2 lados. Fico com a permanente impressão de que, como se dizia do Brasil em relação à Argentina no passado, os Estados Unidos somos nós amanhã. Tudo por causa das hipocrisias, histerias, silenciamento, maquinações e falseamentos causados pela polarização nas grandes engrenagens de poder lá e cá.
Na última 6ª feira (12.jul.2024), num discurso em Detroit, o queridinho presidente da imprensa, Joe Biden, fez um furioso e insultante discurso contra seu adversário. Disse que tinha de ser eleito para “salvar a democracia”.
Estamos num tempo em que a virulência é “relativa”: uns podem dizer o que querem, podem xingar, falar as asneiras que quiserem. Já os outros são fascistas, totalitários, ultradireita. Ou seja, alguns ungidos podem tudo. Outros só podem levar bala. Literalmente, no caso de Donald Trump, e aí esse mecanismo implode e a farsa da mediação e da tentativa de ditar o que as massas podem ou não podem pensar leva a mais potente das bofetadas: a bofetada da realidade. A realidade nua e crua. A realidade cabal. A realidade que não pode ser editada, editorializada, adjetivada. A realidade desmonta essa dinâmica dos que se acham donos da verdade.
Biden, em seu discurso inflamado, flertou o tempo todo com uma fake news mirabolante: a de que Trump apoiaria um tal de “projeto 2025”, uma agenda ultraconservadora da Heritage Foundation. Dita por Trump tal asneira, seria corretamente taxada de fake news. Mas Biden e os democratas, como alguns setores perante a mídia brasileira, desfrutam de uma espécie de imunidade, inimputáveis. Podem falar o que lhes vier aos lábios e não serão escrutinados.
A maior idiotice que pode existir espalhada lá e aqui é que a eleição de Donald Trump criaria o risco de destruir a democracia dos Estados Unidos. Como se lá não houvesse instituições, como se não houvesse uma sociedade forte, como se o presidente pudesse ser um tirano acima dos 50 Estados federados que são como países dentro de um país, como se não houvesse lá o maior arsenal de guerra do mundo e Forças Armadas que jamais tolerariam um ditador.
Todos sabem disso tudo, mas ainda assim esse espantalho –FAKE NEWS!!!!– pode circular livremente só porque é dito pelo preferido (ainda) de parte de Hollywood, porque pega bem ser democrata, porque as pessoas “top” preferem essa tendência política. Então Biden pode tudo.
E, por aqui, para vilanizar a direita e transformar o Brasil (que idiotice!) numa espécie de Estados Unidos, e Trump numa espécie de conservador brasileiro (que tédio…), algumas vozes ecoaram a necessidade de “salvar a democracia” lá como a ante-sala da patacoada a ser proclamada aqui, daqui a 2 anos: vamos salvar a democracia no Brasil!. Pois agora temos a realidade: o candidato conservador sofreu um atentado a tiros. Seu oponente e incumbente continua com enormes dificuldades cognitivas (devidamente escondidas do grande público por um longo período pelo consórcio midiático anti-conservador dos EUA). E fica a pergunta: por que tudo subitamente parece invertido?… Por que o vilão parece vítima? A vítima não parece assim tão vítima? A realidade parece não combinar com as narrativas, tudo parece dissonante? A culpa é desse insuportável e insistente detalhe chamado fato: podem tentar escondê-lo, manipulá-lo, usar a força para calá-lo, mas pense numa coisa que resiste a todas as décadas, tiros, canetadas, efeitos manadas. O que esse atentado a Trump nos ensina é que não temos “salvadores” demais da democracia, mas, na verdade seus violadores. A democracia não precisa de salvação. Precisa só de democracia.
Tribuna Livre, com informações do portal PODER 360