Em 2024, os candidatos puderam declarar, de forma opcional, seu pertencimento étnico. Embora a maior parte dos declarantes seja de pessoas brancas, o aumento no número de indígenas chama atenção, crescendo 14,13% em relação ao pleito anterior
Com mais de 461,7 mil candidatos registrados para disputar cargos de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores em 5.569 municípios, as eleições municipais de 2024 estão se destacando como as maiores da história. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que a diversidade racial entre os candidatos reflete a diversidade étnico-racial do país, com um crescimento na participação indígena, que atinge níveis inéditos este ano.
Um estudo realizado pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), em parceria com o coletivo Common Data, analisou o perfil das candidaturas e revelou que dos mais de 461 mil candidatos, 207.467 (45,64%) se declararam brancos, 187.903 (41,34%) pardos, 51.782 (11,39%) pretos, 2.479 (0,55%) indígenas e 1.756 (0,39%) amarelos. Além disso, 3.141 candidatos (0,69%) não informaram sua cor ou raça.
Embora a maior parte dos candidatos ainda seja de pessoas brancas, o aumento no número de candidatos indígenas chama atenção, crescendo 14,13% em relação às eleições anteriores.
Em 2020, eram 2.172 registros de candidatos indígenas, número que subiu para 2.479 este ano. Pela primeira vez, os candidatos puderam declarar, de forma opcional, seu pertencimento étnico. Das 2.479 candidaturas indígenas, 1.966 divulgaram suas etnias, totalizando 176 etnias diferentes. Os povos Kaingang, Tikúna e Makuxí representam as três maiores etnias em número de candidatos, com 168, 150 e 107 representantes, respectivamente.
Roraima, tradicionalmente o estado com maior concentração de indígenas, continua liderando proporcionalmente, com 7,10% de candidaturas de pessoas indígenas. Em 2020, esse percentual era de 7,95%. O Inesc atribui o aumento geral à crescente organização e mobilização política dessas populações.
Apesar do crescimento na quantidade de candidaturas indígenas, o Inesc aponta que a presença desse grupo em cargos do Executivo ainda é limitada. Este ano, apenas 46 candidatos indígenas concorrem ao cargo de prefeito, sendo 40 homens e seis mulheres. Para o cargo de vice-prefeito, 63 indígenas se apresentam, dos quais 37 são homens e 26, mulheres.
Nas 26 capitais brasileiras que disputam as eleições municipais, há apenas um candidato indígena concorrendo ao cargo de prefeito: Lucínio Castelo de Assunção, da etnia Guarani, pelo Partido Liberal (PL), em Vitória, no Espírito Santo. Para o cargo de vice-prefeito, Amanda Brandão Paes Armelau, também do PL, disputa no Rio de Janeiro, mas sua etnia não foi informada.
Outro aspecto é o alinhamento político dos candidatos indígenas. Cerca de 41,87% estão afiliados a partidos de direita, enquanto 40,42% estão ligados à esquerda. Os 17,71% restantes estão filiados a partidos de centro.
A eleição municipal deste ano também bateu recorde de eleitores, com mais de 155,91 milhões de brasileiros aptos a votar. Desses, 140,03 milhões não informaram sua cor ou raça no cadastro eleitoral. Entre os que forneceram essa informação, 8,5 milhões (5,45%) se declararam pardos, 5,29 milhões (3,39%) brancos, 1,8 milhão (1,16%) pretos, 155,6 mil (0,10%) indígenas e 114,38 mil (0,07%) amarelos.
Com o primeiro turno marcado para 6 de outubro e o segundo para 27 de outubro, em cidades com mais de 200 mil eleitores, o Brasil se prepara para definir seus próximos líderes municipais. Com uma população indígena de quase 1,7 milhão de pessoas, segundo o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e representando 0,83% da população brasileira, as comunidades indígenas estão chegando mais atentas e dispostas a ocupar espaços na política.
Tribuna Livre, com informações do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc),