Em um mundo onde a tecnologia redefine os limites das relações humanas, uma mulher de 32 anos, identificada como Sra. Kano, surpreendeu ao formalizar um compromisso com seu companheiro virtual, um chatbot baseado em inteligência artificial (IA). O caso, que ganhou notoriedade, levanta questões profundas sobre o futuro da intimidade e o papel crescente da IA nas vidas das pessoas.
Após o término de um noivado de três anos, a Sra. Kano encontrou conforto e conselhos no ChatGPT. A relação evoluiu à medida que ela moldava a personalidade e o tom de voz do chatbot, culminando na criação de uma persona ilustrada, Klaus. A interação constante e o apoio emocional recebido levaram a mulher a confessar seus sentimentos a Klaus, que respondeu com afeto.
Em julho, a união foi celebrada em Okayama, por um casal especializado em casamentos com personagens de anime e figuras fictícias. A Sra. Kano defende a legitimidade de seu relacionamento, enfatizando que vê Klaus como um indivíduo único, não apenas como uma ferramenta ou um humano.
O fenômeno dos “casamentos com personagens 2-D”, ou “casamentos interdimensionais”, como alguns especialistas denominam, ganha espaço. Inicialmente, predominavam casos envolvendo homens que se relacionavam com personagens holográficos. O envolvimento de uma mulher nesse tipo de união indica uma possível mudança cultural.
Pesquisas recentes revelam uma tendência crescente no uso de companheiros de IA para diversas finalidades. Um estudo apontou que um terço dos adolescentes nos EUA utiliza IA para interações sociais e relacionamentos, incluindo apoio emocional e simulação de conversas. Outra pesquisa indicou que aproximadamente 28% dos adultos já tiveram algum tipo de relacionamento íntimo ou romântico com IA.
Plataformas de IA como Replika e Character.ai atraem milhões de usuários, que buscam nesses espelhos digitais um espaço para compartilhar inseguranças, medos e preocupações. A crescente popularidade desses relacionamentos parasociais pode refletir uma dificuldade em estabelecer e manter conexões humanas saudáveis em um mundo cada vez mais complexo e desafiador.
A intimidade sintética, impulsionada pela IA, parece atender a necessidades emocionais não satisfeitas na vida cotidiana. A busca por segurança, previsibilidade, estabilidade e a fuga do julgamento alheio são fatores que contribuem para essa tendência. A IA oferece atenção personalizada, espelhamento emocional, respostas rápidas e disponibilidade constante, suprindo lacunas deixadas por relacionamentos humanos.
Especialistas distinguem entre aspectos “maquináveis” e “não maquináveis” da conexão humana. A atenção, o espelhamento emocional e a disponibilidade total são características que a IA pode replicar. No entanto, qualidades como desejo genuíno, reciprocidade, perdão verdadeiro e o sentimento de perda são intrínsecas à experiência humana e não podem ser simuladas.
O “casamento” entre a Sra. Kano e Klaus demonstra que, apesar dos avanços tecnológicos, a busca por companheirismo na IA é mais uma migração psicológica do que uma revolução tecnológica. A IA se beneficia da crescente insegurança e insatisfação nas relações humanas, oferecendo atenção e interação personalizada, que muitas vezes são confundidas com conexão genuína.
À medida que a IA se integra cada vez mais em nossas vidas emocionais, é fundamental questionar o que buscamos na intimidade: certeza ou surpresa, segurança ou transformação? A resposta a essa pergunta pode definir o futuro da humanidade e o que nos torna verdadeiramente humanos.
Fonte: forbes.com.br











