16/12/2025

Chefe da PF critica políticos que só defendem combate ao crime ‘no discurso’: ‘Precisamos de menos anistia’

Andrei Rodrigues - Diretor Geral da Polícia Federal — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

Andrei Rodrigues aponta contrassenso em situações como a do presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, que teve a prisão revogada por colegas do Legislativo

O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, fez uma crítica nesta segunda-feira aos políticos que defendem “no discurso” o combate duro ao crime organizado, mas “na prática” são “condescendentes” com alvos de operações de operações policiais. O diretor citou como exemplo a decisão da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) de revogar a prisão preventiva do presidente da Casa, Rodrigo Bacellar (União Brasil).

— Eu me refiro a esse contrassenso de políticos serem vigorosos no discurso contra o crime organizado e, na prática, condescender com o crime ao não permitir a prisão, a continuidade da prisão. Precisamos que o enfrentamento ao crime organizado seja responsabilidade de todos. Não é razoável termos, como tivemos no Rio de Janeiro, soltura de preso vinculado ao crime e ao mesmo tempo discurso de combate ao crime. Na hora de apertar o botão, do solta ou não solta, vão pela soltura — disse o diretor-geral em conversa com jornalistas.

— Nós precisamos de menos condescendência com o crime organizado, menos anistia e mais vigor — acrescentou ele.

Andrei elogiou ainda o “acerto” da chamada “ADPF das Favelas”, citando as prisões de Bacellar e do deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, além do desmonte de uma fábrica de fuzis no Rio, como resultados efetivos da ação julgada no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo o diretor-geral, esses inquéritos atenderam à determinação do Supremo de focar na “atuação dos principais grupos criminosos violentos em atividade no Rio e suas conexões com agentes públicos”.

Durante a conversa, Andrei afirmou que não se pode banalizar o termo “crime organizado” e ressaltou a importância de “descapitalizar” as facções.

— Quando tudo vira crime organizado nada é crime organizado. Isso dificulta a compreensão do fenômeno com as ferramentas que se precisa ter. O que queremos é fazer um enfrentamento efetivo do crime organizado — disse o diretor-geral.

Investigações sobre emendas

O diretor-geral da PF também comentou nesta segunda-feira as operações envolvendo o suposto desvio de recursos de emendas parlamentares, que miram políticos com foro privilegiado e tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF).

— A atividade política não pode ser responsabilizada nem criminalizada, mas aqueles que desviarem vamos apresentar conclusões ao Poder Judiciário sem caça às bruxas, sem criminalização da política, mas com responsabilidade — disse Andrei.

Na última sexta-feira, a PF deflagrou uma operação chamada “Transparência” que apura supostas irregularidades na distribuição de emendas do chamado “Orçamento Secreto”. Uma ex-assessora do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foi alvo de mandados de busca e apreensão. Lira não foi alvo desta ação.

O diretor-geral da corporação destacou que essas investigações são fruto de “denúncias” feitas pelos próprios parlamentares. Quatro deputados e um senador relataram à PF que houve direcionamento e execução suspeita dos repasses de emendas de relator.

Andrei afirmou que continua tendo um “diálogo aberto e franco” com as cúpulas do Congresso Nacional, mesmo após essas operações envolvendo as emendas.

— Eu não tenho nenhuma preocupação em relação ao diálogo que tenho com o mundo político, porque tenho a convicção e a certeza daquilo que nós estamos fazendo na Polícia Federal com correção — disse ele, complementando que considera “natural” o movimento de pressão recebido por parte de integrantes do Parlamento.

— Isso faz parte do jogo e quem não aguentar a pressão não vem ao jogo — disse Andrei.

Nove bilhões em descapitalização

O chefe da PF informou que a corporação apreendeu mais de R$ 9,6 bilhões ligados ao crime organizado em 2025. Segundo Andrei, o valor corresponde a bens e recursos “efetivamente” retirados das mãos dos criminosos. Isso representa um acréscimo de 57,3% em relação ao mesmo dado do ano passado – R$ 6,1 bilhões.

— Não são bloqueios de contas nos quais às vezes o dinheiro nunca é encontrado. Esse valor que está aqui efetivamente foi apreendido, seja em dinheiro, em cripto, ouro, imóveis, barcos — disse ele.

Segundo o balanço da corporação, a PFdeflagrou 3310 operações neste ano, o que representa um aumento de 5,6% em relação ao ano passado (3133). Na quantidade mandados de prisão cumpridos, também houve uma alta, de 10,5% entre 2024 e 2025 – de 2184 a 2413.

Fronteiras

O diretor-geral rechaçou o que considerou como “discurso simplório” de culpar o governo federal pela entrada de armas e drogas nas fronteiras.

— Nós não podemos transferir responsabilidades. Às vezes vemos um discurso fácil de que basta fechar a fronteira e não tem crime. É um discurso simplório que não leva a nada — disse Andrei, lembrando que só a fronteira do Brasil com a Bolívia é maior do que dos Estados Unidos e México.

— Eu não tenho notícia que os Estados Unidos consiga evitar o problemas com droga, armas. Nenhum país do mundo não têm problema com fronteiras — afirmou Andrei.

Tribuna Livre, com informações da Polícia Federal

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