29/09/2025

Como tarifas de Trump podem afetar Hollywood?

A Amazon, sediada nos EUA, agora detém os direitos criativos de James Bond - (crédito: Getty Images)

À medida que Trump volta sua atenção para o que ele chama de indústria cinematográfica “moribunda” dos EUA, sua solução provocou fortes reações.

O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que aplicará tarifas de 100% sobre filmes produzidos em países estrangeiros, intensificando as disputas comerciais com países ao redor do mundo.

Trump afirmou em uma publicação no Truth Social que estava autorizando o Departamento de Comércio e o Representante Comercial dos EUA a iniciar o processo de imposição da taxa porque a indústria cinematográfica americana estava morrendo “muito rapidamente”.

Posteriormente, ele disse que consultaria executivos de Hollywood para ver se “eles estavam satisfeitos” com sua proposta, após a notícia ter repercutido na indústria.

Mas o que isso pode significar tanto para a indústria cinematográfica dos EUA quanto para a indústria cinematográfica global?

Hollywood está ‘morrendo’?

Ao anunciar as novas tarifas, Trump declarou que Hollywood estava “morrendo”. Será mesmo?

É verdade que a indústria cinematográfica passou por um momento muito difícil nos últimos anos.

A pandemia levou à paralisação das produções e o impacto continua.

Os estúdios de Hollywood gastaram US$ 11,3 bilhões (R$ 64 bilhões) em produções no segundo trimestre de 2024, uma queda de 20% em relação ao mesmo período de 2022, à medida que os estúdios continuavam a cortar custos na tentativa de se recuperar das perdas causadas pela covid-19.

Qualquer tentativa de recuperação foi então severamente sufocada pelas greves de atores e roteiristas de 2023.

Então, os incêndios florestais atingiram o país no início deste ano.

E, há vários anos, cada vez mais pessoas — não somente os jovens — têm recorrido ao YouTube e a outras plataformas de streaming para obter conteúdo.

Os EUA continuam sendo um importante polo de produção cinematográfica e, de acordo com a Variety, 2025 viu uma recuperação nos números de bilheteria em relação ao ano passado, com a receita doméstica total crescendo 15,8% em relação a 2024 até o momento.

O mais recente filme de super-heróis da Marvel, Thunderbolts*, liderou as bilheterias americanas neste fim de semana, arrecadando cerca de US$ 76 milhões, marcando um início promissor para a temporada de verão.

Mas Hollywood definitivamente ainda está em apuros.

O que Trump propõe?

O presidente afirma que quer “iniciar imediatamente o processo de instituir uma tarifa de 100% sobre todo e qualquer filme que entre em nosso país e seja produzido em terras estrangeiras. Queremos filmes feitos na América novamente!”

Isso levantou questionamentos sobre se as tarifas também se aplicariam a empresas cinematográficas americanas que produzem filmes no exterior.

Vários filmes recentes de grande porte produzidos por estúdios americanos foram filmados fora dos Estados Unidos, incluindo Deadpool & Wolverine, Wicked e Gladiador II. Franquias de sucesso como Missão Impossível também são filmadas no exterior.

Também não sabemos ainda se as tarifas serão aplicadas retroativamente.

Trump disse posteriormente a repórteres que “outras nações têm roubado os filmes e a capacidade de produção cinematográfica dos Estados Unidos”, o que pode sugerir que ele se referia somente a filmes não americanos.

O porta-voz da Casa Branca, Kush Desai, disse à BBC que “nenhuma decisão final sobre tarifas para filmes estrangeiros foi tomada” e acrescentou que o governo está “explorando todas as opções”.

Teremos que aguardar mais detalhes.

Que incentivos outros países oferecem?

Muitos países oferecem incentivos fiscais para incentivar a produção cinematográfica, como Nova Zelândia, Austrália e Reino Unido, e isso é algo que Trump quer abordar.

Mas não é o único motivo pelo qual uma produtora cinematográfica americana pode querer filmar no exterior.

Alguns optam por fazê-lo por causa da localização específica, cenários exóticos e emocionantes, por exemplo. Quem poderia esquecer a subida de Tom Cruise ao Burj Khalifa, em Dubai, em Missão: Impossível – Protocolo Fantasma?

O que isso poderia significar para o próximo filme de James Bond, uma franquia agora de propriedade da gigante americana Amazon, mas baseada em um icônico personagem britânico que trabalha para o MI6, sediado em Londres?

E não são somente outros países que oferecem incentivos – outros estados americanos estão atraindo a produção cinematográfica para longe de Hollywood.

Geórgia, Illinois e Kentucky estão entre os muitos outros estados americanos com os quais a Califórnia agora compete.

Gavin Newsom, governador da Califórnia, que Trump descreveu como “grosseiramente incompetente” ao falar sobre as tarifas de cinema na segunda-feira, está atualmente pressionando por seu plano para mais que dobrar os incentivos fiscais para cinema e TV no estado, para US$ 750 milhões anuais.

Embora Newsom ainda não tenha feito nenhum comentário sobre a proposta de Trump, seu assessor sênior de comunicação disse ao Deadline:

“Acreditamos que ele não tem autoridade para impor tarifas sob a Lei de Poderes de Emergência Econômica Internacional, uma vez que tarifas não são listadas como uma solução sob essa lei.”

Como essas tarifas realmente funcionariam?

Há mais perguntas do que respostas neste momento.

A Organização Mundial do Comércio (OMC) impôs uma moratória sobre tarifas para bens digitais até 2026. Presumivelmente, filmes são considerados bens digitais.

E em que baseariam as tarifas? Receita de bilheteria ou custos de produção? O conteúdo de streaming está incluído? Isso teria um enorme impacto em empresas americanas como a Netflix. E quanto à pós-produção, ou seja, à edição?

Tim Richards, CEO e fundador da Vue Entertainment, disse ao programa Today da BBC Radio 4: “Grande parte disso é o que constitui o cinema americano — é de onde vem o dinheiro, o roteiro, o diretor, o talento, onde foi filmado?”

E como classificar um filme estrangeiro quando tantos são coproduções e frequentemente filmados em vários países?

Trump parecia estar falando sobre cinema e não sobre TV, mas não está 100% claro neste momento. As tarifas se aplicariam a filmes feitos para streaming ou somente a lançamentos no cinema? Teremos que aguardar mais detalhes. E, claro, Trump pode voltar atrás nas propostas, como fez com outras tarifas.

O que isso poderia significar para outros países?

Obviamente, impor uma tarifa de 100% sobre filmes estrangeiros significa um enorme aumento de custos para as produtoras que desejam vender para o mercado americano.

Comentando o anúncio de Trump, a presidente do Comitê de Cultura, Mídia e Esporte do governo do Reino Unido, e deputada Dame Caroline Dinenage, disse: “No mês passado, o Comitê de Cultura, Mídia e Esporte alertou contra a complacência com nosso status de Hollywood da Europa. O anúncio do presidente Trump tornou esse alerta bastante real.

“Dificultar a produção de filmes no Reino Unido não é do interesse das empresas americanas. Seu investimento em instalações e talentos no Reino Unido, com base em propriedade intelectual de propriedade dos EUA, está apresentando retornos fantásticos em ambos os lados do Atlântico. Os ministros devem priorizar isso urgentemente como parte das negociações comerciais em andamento.”

A chefe do sindicato de mídia e entretenimento Bectu no Reino Unido, Philippa Childs, disse em um comunicado: “Essas tarifas, surgindo após a Covid e a recente desaceleração, podem desferir um golpe devastador em uma indústria que está apenas se recuperando e serão uma notícia realmente preocupante para dezenas de milhares de profissionais autônomos qualificados que fazem filmes no Reino Unido.”

Kirsty Bell, diretora-executiva da produtora Goldfinch, questionou como as tarifas funcionariam, apontando que sucessos de bilheteria como Barbie, distribuído pelo estúdio cinematográfico americano Warner Bros Pictures, “na verdade, foram filmados praticamente inteiramente no Reino Unido”.

“Se esses filmes americanos não forem ao menos parcialmente produzidos no Reino Unido, os trabalhadores autônomos ficarão desempregados”, disse ela à PA.

Os governos da Austrália e da Nova Zelândia também se manifestaram em apoio às indústrias cinematográficas de seus países.

“Ninguém deve ter dúvidas de que defenderemos inequivocamente os direitos da indústria cinematográfica australiana”, disse o ministro de Assuntos Internos da Austrália, Tony Burke.

O primeiro-ministro da Nova Zelândia, Christopher Luxon, disse em entrevista coletiva que seu governo aguardava mais detalhes sobre as tarifas propostas.

“Mas seremos, obviamente, um grande defensor, um grande campeão desse setor e dessa indústria”, acrescentou.

E com o festival de cinema de Cannes se aproximando, a incerteza paira no ar, com muitos produtores de cinema americanos buscando vender direitos de distribuição no exterior.

Essas tarifas podem funcionar?

Tarifas poderiam incentivar as produtoras cinematográficas americanas a produzir mais filmes em solo nacional, mas o risco é que, se for mais caro do que no exterior, alguns filmes simplesmente não sejam produzidos.

Mais incentivos ou descontos poderiam ajudar a compensar isso, mas não sabemos, neste momento, se isso está em discussão em escala nacional.

O crítico de cinema da rádio NPR, Eric Deggans, alertou que as tarifas, caso sejam introduzidas, podem prejudicar ainda mais a indústria.

Outros países podem responder impondo tarifas sobre filmes americanos, disse ele à BBC, tornando “mais difícil para esses filmes obterem lucros no exterior”.

“Isso pode criar uma situação em que as tarifas nos Estados Unidos causem mais danos do que benefícios”, acrescentou.

Tribuna Livre, com informações da BBC NEWS

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