28/08/2025

De furacão a anúncios velados: o vaivém dos EUA e a ‘demora’ na chegada de navios de guerra americanos à Venezuela

Nicolás Maduro durante discurso em 28 de julho de 2025 — Foto: REUTERS/Leonardo Fernandez Viloria

EUA afirmam que ação é para combater o tráfico de drogas e evita confirmar que Maduro é alvo. Governo da Venezuela classifica movimentações como ‘ameaça’ e pediu intervenção da ONU.

Há mais de uma semana, os Estados Unidos deslocam navios militares e um submarino nuclear para a costa da Venezuela. Segundo Washington, a operação tem como objetivo combater o tráfico internacional de drogas. Já o governo de Nicolás Maduro classifica a movimentação como uma ameaça direta.

O avanço, porém, tem sido marcado por idas e vindas — de um furacão que atrasou o deslocamento a anúncios desfeitos sobre a chegada de embarcações. Oficialmente, os EUA não confirmam que a missão tem como alvo Maduro, mas já deram sinais nesse sentido.

No dia 19 de agosto, um dia após a imprensa americana noticiar a movimentação das embarcações, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que os EUA vão usar “toda a força” contra Maduro.

“Maduro não é um presidente legítimo. Ele é um fugitivo e chefe de um cartel narcoterrorista acusado nos EUA de tráfico de drogas. Trump está preparado para usar toda a força americana para deter o tráfico de drogas”, disse.

Segundo as agências Reuters e a Associated Press, os EUA enviaram seis navios de guerra para o sul do Caribe, perto da costa da Venezuela. Centenas de militares e um submarino nuclear também participam da operação. A Casa Branca não confirma nem nega as movimentações.

Entre os navios acionados pelo governo americano estão os destróieres USS Gravely, USS Jason Dunham e USS Sampson, capazes de conduzir ataques contra aeronaves, submarinos e alvos terrestres.

Os EUA também enviaram um esquadrão anfíbio com outros três navios: USS San Antonio, USS Iwo Jima e USS Fort Lauderdale. Uma embarcação do tipo pode ser usada para operações de invasão. Também há relatos de deslocamento de aviões espiões P-8 Poseidon.

Fontes ouvidas pela agência Reuters se negaram a detalhar a operação.

O cientista político Carlos Gustavo Poggio afirmou ao g1 que o aparato enviado pelos EUA, incluindo mísseis, não é útil para combater cartéis. O cientista político aponta, por sua vez, que o efetivo militar deslocado é “extremamente eficaz” para atacar ou invadir um país.

Na segunda-feira (25), o Departamento de Defesa dos EUA disponibilizou imagens que mostram militares “simulando uma missão” a bordo do USS Iwo Jima. O governo se limitou a dizer que a embarcação estava no Oceano Atlântico e não forneceu detalhes do exercício.

Reveses

A operação dos EUA sofreu alguns contratempos, sendo o primeiro deles provocado pelo furacão Erin. O esquadrão anfíbio chegou a partir com direção ao sul do Caribe no dia 14 de agosto, mas precisou retornar à base de Norfolk cinco dias depois.

Os navios que integram o esquadrão foram vistos deixando Norfolk no domingo (24). Não há informações sobre onde as embarcações estão atualmente.

Também não há detalhes sobre a localização dos outros três navios de guerra mobilizados pelos Estados Unidos. No entanto, na segunda-feira, o governo de Curaçao chegou a dar indícios de que as embarcações estavam próximas do sul do Caribe.

Em uma coletiva de imprensa, o primeiro-ministro de Curaçao, Gilmar Pisas, afirmou que o USS Jason Dunham atracaria na ilha na quinta-feira (28) para abastecer. Um dia depois, o governo emitiu uma nota dizendo que a “visita” havia sido cancelada.

“O Consulado dos EUA notificou o Governo de Curaçao de que o navio USS Jason Dunham não entrará mais nas águas territoriais. Até o momento, nenhuma outra solicitação foi apresentada para que outra embarcação naval atraque em nosso porto”, diz o comunicado.

Não está claro se o anúncio feito pelo primeiro-ministro tenha influenciado na decisão dos EUA. Na coletiva de imprensa de segunda-feira, Pisas pediu para que a população não viaje para a Venezuela.

Maduro vê ameaça

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, é acusado pelos EUA de narcoterrorismo. Ele é apontado pelo governo americano como líder do Cartel de los Soles, grupo classificado recentemente pelos EUA como organização terrorista internacional.

No início de agosto, os EUA dobraram a recompensa por Maduro, estipulando um valor de US$ 50 milhões por informações que levem à prisão ou condenação do venezuelano.

Maduro vem classificando as ações recentes dos Estados Unidos como ameaças. Diante da movimentação militar, ele anunciou a mobilização de 4,5 milhões de milicianos para proteger o território da Venezuela.

“Fuzis e mísseis para a força camponesa! Para defender o território, a soberania e a paz da Venezuela”, proclamou. “Mísseis e fuzis para a classe operária, para defender a nossa pátria!”

A Venezuela também enviou 15 mil militares para a fronteira com a Colômbia após o governo vizinho afirmar que os EUA estavam usando o narcotráfico como uma “desculpa para invasão militar”. Por outro lado, o governo colombiano descarta colaborar com Maduro.

Nesta terça-feira, em um documento enviado à ONU, a Venezuela afirmou que os navios americanos devem chegar à costa do país no início da próxima semana.

Ainda no documento, a Venezuela classificou as ações dos Estados Unidos como “grave ameaça à paz e à segurança regional” e pediu que a ONU monitore a “escalada de ações hostis” e “ameaças” do governo dos EUA.

Enquanto isso, países como Argentina, Equador, Paraguai e Guiana seguiram os Estados Unidos e também declararam o Cartel de los Soles como uma organização terrorista. Trinidad e Tobago, que fica muito próxima da Venezuela, também disse apoiar a ação militar dos EUA.

Tribuna Livre, com informações do porta-voz da Casa Branca

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