Diversificação comercial chinesa, tarifas americanas e queda nos preços das commodities explicam retração nas vendas brasileiras
A balança comercial entre Brasil e China sofreu uma mudança significativa no primeiro semestre de 2025, em decorrência da guerra tarifária deflagrada pelo presidente dos EUA, Donald Trump. Pela primeira vez em dez anos, as exportações brasileiras para o maior parceiro comercial asiático recuaram de forma expressiva, somando US$ 47,7 bilhões — queda de 7,5% em relação ao mesmo período de 2024. Os dados são do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e foram disponibilizados nesta quinta-feira (17).
A retração foi influenciada principalmente pela estratégia chinesa de diversificar fornecedores diante do acirramento das tensões comerciais com os Estados Unidos e pela baixa nos preços das commodities.
A China encerrou o primeiro semestre com um superávit comercial recorde de aproximadamente US$ 586 bilhões, evidenciando a eficácia de sua estratégia de diversificação de mercados. A alta de 5,8% nas exportações em junho, em relação ao mesmo mês do ano anterior, surpreendeu analistas e superou estimativas da Bloomberg, que apontavam uma alta de 5,3%.
Ao contrário das exportações, as importações brasileiras oriundas da China avançaram 22% e atingiram um novo recorde no semestre.
O crescimento foi puxado sobretudo pela alta nas compras de veículos híbridos e aço, refletindo mudanças na demanda interna e movimentos antecipatórios diante da elevação tarifária no Brasil sobre veículos elétricos.
Principais produtos exportados para a China
Entre os principais produtos exportados, a soja teve aumento de 5% no volume embarcado, mas a queda nos preços reduziu em 6% o valor total vendido, para US$ 18,9 bilhões. Já o petróleo registrou sua maior retração em cinco anos: queda de 7% no volume e de 15% no faturamento.
No sentido inverso, destacaram-se nas importações os laminados planos de aço com largura igual ou superior a 600 mm, cujas compras saltaram 318%, atingindo US$ 294 milhões. As importações de carros híbridos cresceram 52%, totalizando US$ 1,38 bilhão.
Os picos de importação ocorreram em junho de 2024 e 2025, explicados por uma estratégia de antecipação à alta progressiva das tarifas de importação sobre veículos elétricos, que passaram de 25% em julho de 2024 para 30% neste mês.
Terras-raras
Outro destaque do semestre foi a alta nas exportações brasileiras de compostos de terras-raras — elementos essenciais para a fabricação de eletrônicos, turbinas eólicas e baterias de carros elétricos.
As vendas para a China chegaram a US$ 6,7 milhões, mais do que o triplo do registrado no ano passado. O crescimento ocorre em meio a um acordo firmado entre China e Estados Unidos, que prevê o fornecimento regular dessas matérias-primas ao setor industrial norte-americano.
Com a segunda maior reserva mundial de terras-raras, o Brasil tem grande potencial para ampliar sua participação nesse mercado estratégico, na avaliação de analistas.
Tribuna Livre, com informações do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio)