03/10/2025

Do palácio presidencial à prisão: a derrocada da ex-primeira-dama da Coreia do Sul

Kim Keon Hee atraiu atenção mesmo antes que o seu marido entrasse na política - (crédito: Getty Images)

A esposa do ex-presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol foi presa por uma série de acusações, que incluem suborno e manipulação de preços de ações.

A ex-primeira-dama da Coreia do Sul, Kim Keon Hee, foi presa por uma série de acusações, incluindo suborno e manipulação do mercado de ações.

Kim é a esposa do ex-presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol, que também está preso. Ele declarou lei marcial no país em dezembro do ano passado e sofreu impeachment em abril.

A ex-primeira-dama negou todas as acusações durante uma audiência que durou quatro horas, no Tribunal Distrital Central da capital sul-coreana, Seul, na última terça-feira (12/8). Mas a Justiça emitiu um mandado de prisão, com base no risco de que ela possa destruir provas.

A Coreia do Sul tem um histórico de ex-presidentes indiciados e presos. Mas esta é a primeira vez que um ex-presidente e a ex-primeira-dama foram para a cadeia.

Mas quem é Kim Keon Hee e como ela se envolveu em tamanha polêmica?

‘Peço sinceramente desculpas por causar problemas’

O ex-presidente Yoon aguarda julgamento sobre a fracassada imposição da lei marcial, que fez com que os militares tomassem o poder por seis horas, em dezembro de 2024. A decisão lançou o país no caos.

Sua esposa, Kim, tem 52 anos. Ela enfrenta graves acusações, que incluem o envolvimento na manipulação dos preços das ações da empresa Deutsch Motors e o recebimento de bolsas de luxo.

Kim também é acusada de interferir em nomeações de candidatos durante as eleições parlamentares de 2022 e nas eleições gerais do ano passado.

Os promotores acusam Kim de ganhar mais de 800 milhões de wones (US$ 577.940, cerca de R$ 3,1 milhões) em um esquema de manipulação de valores das ações da Deutsch Motors, revendedora da BMW na Coreia do Sul.

Outras acusações incluem patrocínios envolvendo suborno, por meio da sua empresa Covana Contents, envolvimento na mudança de rota da Via Expressa Seul-Yangpyeong e o processo de aprovação para o Distrito de Yangpyeong Gongheung. Ao todo, são 16 acusações diferentes.

“Peço sinceramente desculpas por causar problemas, mesmo sendo alguém sem importância”, declarou Kim aos jornalistas durante a audiência de terça-feira.

Glamour e controvérsias

Kim atraiu a atenção do público e da imprensa, mesmo antes que seu marido Yoon entrasse no mundo da política.

Ela administrava uma empresa de planejamento de exposições de arte chamada Covana Contents e atuava como curadora de diversas exibições.

Seu interesse em arte, filosofia e espiritualidade mereceu destaque em entrevistas na imprensa e eventos públicos, ressaltando sua formação diferente em relação às primeiras-damas anteriores.

Várias das suas predecessoras foram professoras ou ativistas, enquanto Kim era empresária. E seu estilo único também atraiu o interesse do público.

Antes de assumir oficialmente como primeira-dama, Kim já era pessoalmente atuante.

Ela fazia declarações públicas e mantinha conexões visíveis com a imprensa e o mundo da arte, diferentemente da imagem tradicional da primeira-dama no país, de “apoiadora silenciosa”. Até que surgiram as controvérsias.

Antes da eleição presidencial de 2021, surgiram acusações de que Kim havia apresentado candidaturas em universidades e empresas mencionando prêmios e qualificações falsas. Seguiu-se um escândalo sobre suas credenciais, possivelmente falsificadas.

Ainda naquele ano, ela publicou um pedido de desculpas pelo que descreveu como “exageros” no seu currículo. Ela também prometeu se concentrar “unicamente no meu papel como sua esposa”, caso seu marido fosse eleito presidente do país.

Mas suas atividades oficiais como primeira-dama sul-coreana continuaram atraindo críticas, incluindo acusações relacionadas ao protocolo no exterior, funcionários não oficiais e recebimento de produtos de luxo.

Um exemplo marcante foi sua estreia no cenário diplomático, durante a cúpula da Otan de junho de 2022, em Madri, na Espanha.

Durante sua viagem acompanhando o presidente Yoon, Kim manteve compromissos próprios. Ela visitou museus de arte locais e assistiu a apresentações de dança flamenca.

Alguns desses compromissos foram realizados sem aviso prévio, fora da programação oficial, o que gerou debates sobre a transparência e a pertinência do papel da primeira-dama no cenário internacional.

Posteriormente, surgiu um vídeo que mostra Kim recebendo uma bolsa de luxo de um indivíduo em um escritório de Seul, em setembro de 2022. As imagens foram levadas à imprensa no final de 2023, intensificando as críticas do público.

O escritório presidencial não reagiu imediatamente à divulgação do vídeo, o que alimentou ainda mais as controvérsias.

Grupos civis apresentaram queixas à promotoria pública. Eles mencionaram possíveis violações da Lei Anticorrupção, conhecida no país como Lei Kim Young-ran. Os círculos políticos se dividiram entre acusações de conflito de interesses e de difamação com fins políticos.

Este incidente representa uma das 16 acusações sendo investigadas contra Kim. E, dependendo do seu testemunho, o processo pode se ampliar e atingir figuras importantes, como o ex-presidente Yoon.

Histórico de questionamentos

Kim Keon Hee não é a primeira ex-primeira-dama a ser questionada por procuradores na Coreia do Sul.

Em 2004, o Departamento Central de Investigações do Escritório da Procuradoria Suprema da Coreia do Sul questionou Lee Soon-ja, esposa do ex-presidente Chun Doo-hwan (1931-2021), como testemunha sobre os fundos políticos ilegais do seu marido.

Mas a investigação só veio a público depois que ela voltou para casa naquela noite. Não foi apresentada nenhuma acusação formal.

Em 2009, procuradores sul-coreanos questionaram privadamente Kwon Yang-sook, esposa do ex-presidente Roh Moo-hyun (1946-2009) sobre o escândalo do “Portal Park Yeon-cha” — um notório caso de suborno que envolveu o ex-presidente da empresa Taekwang Industrial e uma série de políticos.

O processo contra Kwon foi abandonado após a morte de Roh Moo-hyun.

Em 2012, Kim Yoon-ok, esposa do então presidente Lee Myung-bak (que governou a Coreia do Sul entre 2008 e 2013), foi interrogada por escrito, devido às suspeitas em torno da compra de um terreno para uma residência particular no bairro de Naegok-dong, em Seul.

Em 2018, os procuradores pensaram em intimá-la para interrogatório sobre as acusações de suborno e fraude relacionadas ao seu marido, mas decidiram não seguir adiante.

Tribuna Livre, com informações do Tribunal Distrital Central da capital sul-coreana

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