Em 15 dias, policiais civis da 6ª Delegacia de Polícia
(Paranoá) encontraram os 10 corpos das vítimas e chegaram ao encalço dos cinco
criminosos responsáveis pela maior barbárie da história do Distrito Federal
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A. Press)
A brutalidade dos crimes cometidos pelos cinco acusados
de matar 10 pessoas não impressionou somente as famílias das vítimas.
Investigadores do caso ficaram impactados com tamanha frieza e crueldade.
Detidos, os envolvidos no massacre, Gideon Batista de Menezes, 55 anos, Horácio
Carlos, 49, Fabrício Canhedo, 34, e Carlomam dos Santos, 26, podem ser
condenados a 340 anos de prisão. No Brasil, no entanto, a pena máxima é de 40
anos. O outro preso, Carlos Henrique Alves da Silva, 27, responsável por buscar
Thiago na chácara e levá-lo ao cativeiro, foi indiciado pelo homicídio de
apenas um integrante da família.
A investigação foi conduzida pela 6ª Delegacia de Polícia
(Paranoá) e coordenada pelo delegado-chefe, Ricardo Viana. Com o apoio da
Polícia Civil do Estado de Goiás (PCGO) e da Polícia Civil de Minas Gerais
(PCMG), os policiais civis do DF deram início às diligências logo no dia em que
os corpos da cabeleireira Elizamar da Silva, 37, e dos três filhos, Gabriel, 7,
e os gêmeos, Rafael e Rafaela, 6, foram encontrados carbonizados em uma estrada
de Cristalina (GO), a cerca de 130km de Brasília.
Desde a instauração do inquérito, os investigadores
saíram às ruas em buscas de elementos cruciais para a elucidação do crime.
Foram colhidas imagens das câmeras de segurança, escutados depoimentos de
testemunhas, além de outros métodos apuratórios não revelados. Quatro dias
depois dos corpos de Elizamar, dos três filhos, de Renata Belchior, 52, e
Gabriela Belchior, 25, serem localizados, a polícia chegou ao encalço do
pescador Gideon e de Horácio.
Gideon foi preso na casa da namorada, no Recanto das
Emas, em 16 de janeiro. Horas depois, Horácio acabou capturado e, na delegacia,
contou um depoimento mentiroso, em que Marcos Antônio Lopes de Oliveira, 54, e
o filho, Thiago Belchior, 30, apareciam como os mentores de toda a execução do
crime, incluindo os assassinatos das esposas, netos e filhos.
No interrogatório, Horácio disse que, após os crimes,
Marcos teria fugido, e Thiago seguido um rumo incerto pela estrada de
Cristalina. A versão caiu por terra depois que os policiais chegaram à casa
alugada por Horácio no Vale do Sol, em Planaltina. No endereço, vestígios de um
crime. Havia manchas de sangue na porta e, no interior, vários documentos das
vítimas, especificamente de Renata, Gabriela, Cláudia Regina, 55, e a filha,
Ana Beatriz, 19, ex-mulher e filha de Marcos. “Desde o começo, sabíamos
que estávamos lidando com um crime motivado por questões financeiras. A ideia
deles era ficar com o dinheiro da chácara, avaliada em cerca de R$ 2 milhões e,
para os autores, eliminando a linha sucessória hereditária, não haveria chances
de alguém ficar com o terreno”, detalhou o delegado Ricardo Viana.
A sequência de assassinatos incluiu simulação de assaltos
nas casas das vítimas, cárcere privado por quase 20 dias, extorsão, asfixia,
esfaqueamento, tiro, esquartejamento e carbonização. Para os criminosos, esse
seria o crime perfeito. Só não esperavam contar com o trabalho rápido de
investigação da Polícia Civil. “Nesses 27 anos de polícia, vimos os
banners na entrada do Complexo da PCDF de casos que marcaram o país. Com
certeza, iremos atualizar em breve com esse caso macabro e emblemático. Para
nós, foi um dever cumprido em poder dar uma resposta aos familiares, com a
elucidação e prisão dos cinco criminosos”, frisou Viana.
Justiça
Em 15 dias, a PCDF concluiu o inquérito e, ontem, enviou
o documento à Justiça. Gideon, Horácio, Fabrício e Carlomam responderão por
latrocínio, homicídio, extorsão mediante sequestro com resultado morte,
ocultação de cadáver e corrupção de menores. Carlos Henrique, responsável por
buscar Thiago na chácara e levá-lo ao cativeiro, foi indiciado pelo homicídio
dele. A apreensão do menor, no entanto, dependerá da Delegacia da Criança e do
Adolescente (DCA). Segundo as investigações, o adolescente receberia R$ 2 mil
pela mudança dos móveis de Marcos até o cativeiro. Ele também ajudou Carlomam
na simulação dos assaltos às chácaras de Marcos e na casa de Cláudia.
“Os autores estavam em posse de R$ 49.500 referente
à venda da casa de Cláudia, conduta essa caracterizada como latrocínio. O fato
de manter as vítimas e retirar valores é a extorsão mediante sequestro. Quanto
à Elizamar, os filhos e o marido, não vimos intenção econômica, por isso, é
homicídio, além da ocultação do cadáver de Marcos e destruição de cadáver das
vítimas que foram carbonizadas”, afirmou Ricardo Viana.
Somadas, as penas variam de 190 a 340 anos de prisão. O
inquérito, agora, será apreciado pelo Ministério Público do Distrito Federal e
Territórios (MPDFT). Os promotores decidirão se oferecerão ou não denúncia
contra os presos. Caso ofereçam, e a Justiça aceite, eles se tornarão réus.
Os cinco seguem presos no Centro de Detenção Provisória 2
(CDP 2) do Complexo Penitenciário da Papuda, unidade prisional onde ficam
alocados os detentos recém-chegados da Divisão de Controle e Custódia de Presos
(DCCP). Apenas Gideon está detido em uma cela isolada, em uma área de seguro. O
local é destinado para a garantia da integridade física.