14/11/2025

Em ata, Copom reforça que Selic seguirá elevada por mais tempo

Piora nas contas públicas segue no radar da política monetária - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Banco Central detalha motivos para a decisão unânime para aumento na taxa Selic para 15% ao ano, na semana passada, e reforça alertas sobre as incertezas no cenário externo e a piora do quadro fiscal

Em um cenário com as expectativas de inflação distantes das metas perseguidas pelo Banco Central (BC), o Comitê de Política Monetária (Copom) aponta para a necessidade de manter os juros mais altos por mais tempo. Na ata da última reunião do colegiado, divulgada ontem, os diretores do BC enfatizaram a preocupação com o quadro fiscal e destacou que o cenário prospectivo de inflação segue desafiador em diversas dimensões.

Na semana passada, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica da economia (Selic) em um ritmo menor, de 0,25 ponto percentual, para o patamar 15% ao ano. Foi o sétimo aumento consecutivo, elevando a taxa Selic ao nível mais alto desde julho de 2006.

“A desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê e deve ser combatida”, enfatizou o texto da ata, reconhecendo alguma melhora nas expectativas de curto prazo a partir da divulgação de dados recentes, mas reforçando que a inflação segue pressionada pela demanda, “o que requer uma política monetária contracionista por mais tempo”.

A mediana das projeções do mercado para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, é de 5,24% neste ano — acima do teto da meta de 4,50% — conforme dados do último Boletim Focus, divulgado pelo BC.

Em relação ao cenário externo, o comitê avaliou que a conjuntura mostra-se adversa e particularmente incerta, incorporando também dúvidas sobre a trajetória da política fiscal nos Estados Unidos. “O conflito geopolítico no Oriente Médio e suas possíveis consequências sobre o mercado de petróleo também adicionam incerteza sobre o cenário externo prospectivo. O cenário já tem provocado mudanças nas decisões de investimento e consumo.”

“Ainda é cedo para concluir qual será a magnitude do impacto sobre a economia doméstica, que, por um lado, parece menos afetada pelas recentes tarifas do que outros países, mas, por outro lado, é impactada por um cenário global adverso”, informou o documento.

Fiscal em alerta

A ata do Copom reforçou a necessidade de harmonia entre política fiscal e monetária e voltou a alertar que o relaxamento nas contas públicas pode elevar ainda mais a taxa de juros. “Uma política fiscal que atue de forma contracíclica e contribua para a redução do prêmio de risco favorece a convergência da inflação à meta”, ponderou.

“Assim, o debate mais recente, com ênfase na dimensão estrutural do orçamento fiscal e na redução ao longo do tempo de gastos tributários, tem potencial de afetar a percepção sobre a sustentabilidade da dívida e de ter impactos sobre o prêmio da curva de juros”, acrescentou o texto.

O Copom destacou, ainda, que permanecerá vigilante e que fará novos ajustes se julgar necessário, inclusive, voltar a aumentar os juros, como havia informado na ata da reunião anterior, em maio. “O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado.”

A ata trouxe poucas novidades em relação ao comunicado, mas reforça de forma enfática a intenção de manter a taxa de juros em patamar significativamente contracionista por um período bastante prolongado. “O BC manteve o tom duro do comunicado, com a avaliação de cenário externo desafiador devido às incertezas tarifárias e adicionando a tensão no Oriente Médio, e avaliação de cenário inflacionário doméstico adverso: atividade econômica resiliente, expectativas de inflação descoradas e projeções de inflação elevadas”, comentou Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galápagos Capital.

Para Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, o Banco Central deixa claro que está mais preocupado com a persistência da inflação e o desancoramento das expectativas do que vinha sinalizando anteriormente. “A elevação da Selic para 15% reflete não apenas a resiliência da atividade econômica e do mercado de trabalho, mas também o aumento das incertezas fiscais e geopolíticas que afetam o câmbio e pressionam os preços”, destacou.

Segundo ele, a combinação de juros altos, inflação acima da meta e incertezas fiscais limita o espaço para expansão da economia. “O Comitê aponta que os efeitos do aperto monetário ainda estão em curso, mas reforça que a taxa precisará permanecer elevada por um período prolongado, o que indica baixa probabilidade de cortes no curto prazo e, embora tenha sinalizado uma pausa, não descarta novas altas se o cenário piorar.”

Theo Braga, CEO da SME The New Economy, ressaltou que a autoridade monetária está disposta a sustentar a taxa Selic em 15% ao ano por um período prolongado, mesmo com os impactos negativos sobre o crescimento econômico. “O BC reconhece que os efeitos completos do ciclo de alta ainda não chegaram na economia real, o que deve manter o ambiente de consumo e investimento mais travado nos próximos meses”, avaliou.

Tribuna Livre, com informações do Banco Central (BC)

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