Ex-presidente usa a tática de manter a militância engajada — uma manifestação nacional está prevista para este domingo — enquanto parlamentares tentam avançar com propostas em favor do líder da oposição
Nos últimos dias, o ex-presidente Jair Bolsonaro tem se mantido em silêncio. Mas nem pensa em parar de fazer política. Desde a semana passada, quando o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes proibiu expressamente Bolsonaro de ter o nome usado por terceiros nas redes sociais, sob o risco de ser preso. Desde então, o principal nome da oposição se apoia nos seguidores para continuar em evidência.
Um exemplo ocorreu na última terça-feira. Um protesto marcado por ronco de motores, mas de poucas palavras, movimentou a tarde de ontem em Brasília. Sem discursos de políticos, mas embalada por buzinaços, músicas patrióticas e palavras de ordem como “Deus, pátria, família”, uma motociata reuniu milhares de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro no Parque de Exposições da Granja do Torto, com destino à Rodoviária do Plano Piloto. O ato, convocado por grupos bolsonaristas e com apoio do Partido Liberal (PL), contou com a presença de Bolsonaro e de políticos do campo conservador.
Mesmo submetido a medidas cautelares impostas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro compareceu ao evento, acompanhado de aliados. De jaqueta azul, o ex-presidente que anda com uma tornozeleira eletrônica e está proibido de usar as redes sociais, evitou entrevistas e não discursou. Subiu rapidamente ao trio elétrico, financiado por grupos de motociclistas, onde permaneceu por cerca de 20 minutos. Ao todo, ficou aproximadamente uma hora entre os apoiadores.
A manifestação bolsonarista ocorre em uma semana decisiva para a direita brasileira, em meio à articulação de protestos em outras capitais e polos regionais. O objetivo é pressionar o Congresso a aprovar o projeto de anistia aos réus envolvidos na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito. Eles também pretendem aprovar medidas como o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal.
Vestindo camisetas com as cores do Brasil e empunhando faixas de apoio a Bolsonaro, os manifestantes repetiam palavras de ordem como “Volta, Bolsonaro” e “Liberdade”. Alguns levavam cartazes com críticas diretas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao ministro Alexandre de Moraes, como “fora Lula” e “fora Moraes”. A locutora do trio elétrico conduzia os gritos coletivos entoando frases como “Deus, pátria, família”, imediatamente seguidas pela multidão com o coro “Mito” em referência ao ex-presidente.
Apesar de o evento reunir milhares de motociclistas, não houve uma estimativa consolidada de público até a última atualização da reportagem. Segundo integrantes da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, houve reforço no policiamento nos arredores da Praça dos Três Poderes ao longo da tarde, com especial atenção ao Supremo Tribunal Federal.
Presença de aliados
Além da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, estiveram presentes o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ); os deputados federais Hélio Lopes (PL-RJ), Gustavo Gayer (PL-GO) e Sóstenes Cavalcante (PL-RJ); o senador Marcos Rogério (PL-RO); a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP); e Eduardo Torres, irmão de Michelle Bolsonaro.
Durante a passeata, Flávio Bolsonaro fez uma transmissão ao vivo do trio elétrico e comentou: “Isso aqui não tem preço, é o que dá energia para meu pai continuar. Vocês sabem que não é fácil, é um verdadeiro desgaste. […] Nosso eterno presidente, se Deus quiser, vai voltar a comandar o nosso país”.
Já o deputado federal Hélio Lopes protestava de forma simbólica, com uma fita branca na boca. Essa é a segunda manifestação silenciosa dele em Brasília. O gesto remete a uma manifestação anterior, ocorrida na última sexta-feira (26), quando ele e outros apoiadores acamparam na Praça dos Três Poderes, em repúdio ao que chamam de “censura judicial”.
“Estão amordaçando o presidente Bolsonaro. Em que democracia do mundo isso é possível?”, questionou o senador Marcos Rogério (PL-RO) em entrevista coletiva minutos antes da passeata, criticando o que chamou de “atropelo ao devido processo legal”.
A manifestação ocorre num momento delicado para a oposição bolsonarista. Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tem sido alvo de críticas após declarações em apoio a sanções internacionais contra o Brasil, o que resultou em desgastes dentro e fora da base. A chamada “guerra tarifária de 50%” anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, atribuída à influência de Eduardo junto ao governo norte-americano, gerou reações negativas até entre aliados. Parlamentares da base de Lula chegaram a acusar o Eduardo de agir contra os interesses nacionais.
Ao não discursar, Bolsonaro segue a estratégia de obedecer formalmente as restrições judiciais, mas sem abrir mão de mobilizar sua base. A presença de milhares de motociclistas foi interpretada nas redes sociais de aliados como um sinal de “força popular”, com vistas a novas manifestações previstas para o próximo domingo (3).
Buzinaços promovidos por deputados federais estão sendo organizados desde a semana passada como forma de aquecer a militância bolsonarista e ampliar a adesão aos movimentos. A estratégia é usar a mobilização popular como forma de pressão institucional e retórica de resistência para derrubar a chamada “censura”.
Ao final da motociata, o trio elétrico parou na rodoviária do Plano Piloto, onde mais apoiadores estavam reunidos. Bolsonaro acenou aos presentes, cumprimentou alguns e, em seguida, deixou o local sem fazer declarações à imprensa.
Alessandra Iacchetti tinha apenas 16 anos de idade quando perdeu o pai e a mãe em um período de oito meses. Ela estava sozinha em seu apartamento, lidando com o luto e quase totalmente desassistida, quando tudo ficou ainda mais confuso.
Tribuna Livre, com informações das Redes Sociais