Após denúncias, adolescente de 16 anos foi apreendido pela
PCDF por ameaças de chacina em duas escolas públicas da capital. Nas redes sociais,
o menor dizia que queria “vingança” e só iria parar quando
“decepasse a cabeça de muitos”
Correio Braziliense- Por Edis Henrique Peres
(crédito: Ed Alves/CB)
Um adolescente de 16 anos foi apreendido pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), após realizar postagens nas redes sociais com ameaças de um massacre em escolas públicas da capital do país. O suspeito foi detido em flagrante delito, na própria casa, em Sobradinho, e levado para a Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), onde permanece à disposição da Justiça.
A investigação é conduzida pela 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho) e, segundo o delegado-chefe da unidade, Hudson Maldonado, as postagens foram denunciadas por pais, alunos e professores. “As mensagens começaram a chegar no telefone da delegacia. Gerou um pânico considerável na cidade, além da divulgação de algumas páginas da rede social que replicaram as postagens do infrator”, explica.
Apreendido na última terça-feira (29/11), o adolescente estuda em um dos colégios que ameaçou e é ex-aluno do outro, ambos em Sobradinho. Nas redes sociais, ele postava que não “ia sobrar um pra contar a história”. Ele também postou que queria vingança e seria visto como “um herói”. “Só vou parar quando eu decepar a cabeça de muitos. Não tenho medo de nada, não tenho amor nem nos meus próprios pais”, escreveu, em uma das publicações. Um outro texto divulgado diz que o jovem está se “juntando aos demônios” e que ele será o “próprio dono da morte”, de acordo com suas próprias palavras.
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Ao Correio, o delegado Hudson Maldonado disse que o adolescente pode pegar até três anos de internação. “Em uma medida socioeducativa, por ele ser menor de idade”, detalha.
Questionada sobre o episódio, a Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF) informou que “a polícia estava monitorando perfis em redes sociais e identificou ameaças a escolas de Sobradinho”, porém, não deu mais detalhes sobre o ocorrido. Ao longo do dia de ontem, a reportagem também tentou contato com as próprias escolas que sofreram as ameaças. Entretanto, até o fechamento desta edição, não obteve retorno.
Sinais de alerta
O monitoramento realizado pela família, pelo Estado e pelas escolas são passos fundamentais para se evitar a execução desses crimes. No entanto, Catarina de Almeida Santos, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), alerta que as medidas não podem ser restritas apenas à supervisão dos jovens e adolescentes. “É necessário ver o que andam publicando ou acessando nas redes, mas também precisamos pensar o que está motivando esses ataques. Precisamos não apenas impedir que eles aconteçam, mas evitar que esse adolescente desenvolva esse tipo de atitude, de quem planeja cometer esses crimes”, ressalta.
Para a professora, as medidas passam por diversas instâncias. “É necessário ir atrás dos núcleos de conversa desse estudante, com quem ele está tendo contato que o dá acesso a arma; falar sobre o desarmamento da população. Vale lembrar que as escolas estão cada vez mais proibidas de tratar de questões críticas. Enquanto a instituição que faz parte da sociedade, a escola precisa ter infraestrutura profissional e liberdade para que os alunos discutam esses temas e trabalhem as questões de intolerância, desrespeito e preconceito com o jeito de existir do outro”, aponta.
Catarina destaca que não há uma resposta simples. “O trabalho preventivo é essencial, mas precisamos questionar: qual a política pública estamos adotando que impossibilita a escola de trabalhar conteúdos que precisa, que permite que crianças e adolescentes participem de clubes de tiros ou tenham manejo com armas? Estamos naturalizando práticas de racismo e discriminação. Sem diálogo, não tem educação ou ensino eficaz. Hoje em dia, as escolas estão cada vez mais parecidas com unidades prisionais, com grades, câmeras, muros altos, e sem permissão de ser um espaço de criatividade e debate. Por isso que o tema é complexo, esse problema passa por diversas esferas”, finaliza.