Uma descoberta extraordinária no Nordeste do Brasil lançou luz sobre a vida pré-histórica da região. Um fóssil de vômito, conhecido cientificamente como regurgitalite, revelou a existência de uma nova espécie de pterossauro, batizada de Bakiribu waridza, que habitou a área há aproximadamente 110 milhões de anos. Este achado representa o primeiro registro de um réptil voador filtrador nos trópicos e o primeiro do grupo dos arqueopterodactiloides na Formação Romualdo, na Bacia do Araripe, Ceará.
A descoberta, fruto de pesquisas de estudiosos da UFRN, URCA e USP, oferece um vislumbre raro da cadeia alimentar do período Cretáceo. O fóssil continha restos do pterossauro, juntamente com fragmentos de peixes bem preservados, sugerindo que o animal foi predado e posteriormente regurgitado por um dinossauro, possivelmente um espinossaurídeo.
O fóssil, que estava armazenado há décadas no Museu Câmara Cascudo em Natal, Rio Grande do Norte, foi inicialmente catalogado como “peixe indeterminado”. Uma reanálise revelou fragmentos de mandíbulas e dentes de um pterossauro até então desconhecido. A análise detalhada revelou que o material estava misturado com restos de quatro peixes, dispostos de forma organizada, indicando que foram engolidos e expelidos juntos. Esta configuração levou os pesquisadores a identificar o achado como um vômito fossilizado, um tipo de fóssil extremamente raro que oferece um registro direto de um evento de predação ocorrido há milhões de anos.
O nome Bakiribu waridza é uma homenagem ao povo indígena Kariri, com “bakiribú” significando pente e “waridzá” significando boca, em referência à dentição peculiar do animal. Acredita-se que este pterossauro se alimentava filtrando pequenos organismos da água, semelhante a baleias e flamingos modernos.
A análise revelou que o Bakiribu waridza possuía entre 440 e 560 dentes, distribuídos em ambas as mandíbulas, com uma densidade de 17,6 dentes por centímetro, uma das mais altas já registradas em pterossauros. A combinação de características únicas, como coroas dentárias subquadrangulares e implantação acrodonte dos dentes, o diferencia dentro do grupo Ctenochasmatidae.
A interpretação do fóssil como regurgitalite permitiu aos cientistas reconstruir uma cena de predação rara do Cretáceo. A ausência de sinais de corrosão digestiva sugere que o material foi expelido logo após a ingestão. Os pesquisadores acreditam que o predador consumiu o pterossauro e, em seguida, os peixes, regurgitando parte da refeição devido ao desconforto causado pelos ossos e dentes engolidos.
Fonte: olhardigital.com.br











