09/05/2025

Geleiras desaparecem no monte Quênia

O guia profissional de montanhismo Charles Kibaki Muchiri, 50, observa a paisagem ao lado da geleira Lewis, perto do cume do Monte Quênia, dentro do Parque Nacional do Monte Quênia - (crédito: Luis TATO/AFP)

Da imponente massa de gelo que se vê nas imagens de arquivo, restam apenas dois blocos, o maior deles tem apenas algumas dezenas de metros de largura

Charles Kibaki Muchiri acompanha com seus dedos a água que corre pela superfície da geleira Lewis, uma imagem que reflete o desaparecimento das massas frias sobre os cumes africanos há milhares de anos.

Há quase 25 anos, esse guia de 50 anos leva excursionistas aos picos do monte Quênia, a quase 5.000 metros de altitude, onde observa a transformação da neve em rocha áspera.

Da imponente massa de gelo que se vê nas imagens de arquivo, restam apenas dois blocos, o maior deles tem apenas algumas dezenas de metros de largura.

A geleira está “a caminho de desaparecer” e não existirá mais em alguns anos, alerta o guia, preocupado porque a transformação das paisagens emblemáticas distanciarão os visitantes.

Suas observações são corroborada por diversos estudos, em especial uma pesquisa publicada em 2011 da qual o glaciólogo Rainer Prinz da universidade austríaca de Innsbruck participou, segundo a qual os efeitos da mudança climática fizeram com que Lewis perdesse cerca de 90% do seu volume entre 1934 e 2010.

O monte Quênia, um dos poucos cumes com geleiras da África, pode se tornar até 2030 uma das primeiras montanhas totalmente desprovidas dessas massas de gelo nos tempos modernos, segundo os cientistas.

Oceano Índico

Embora menos conhecido que o Kilimanjaro, a montanha mais alta da África, o monte Quênia – também patrimônio mundial da Unesco -, atrai milhares de visitantes todos os anos.

Às vezes, é possível ver elefantes na floresta densa. Depois as árvores se tornam raras, dando lugar a montanhas verdes.

Após horas de caminhada, aparecem as rochas terrosas do pico, mas a neve não se vê em nenhuma parte.

Rainer Prinz explica a “considerável contração” dessas geleiras tropicais pelas mudanças de temperatura na superfície do oceano Índico, “encarregado de levar umidade à África Oriental”.

As massas geladas não recebem neve suficiente e se veem privadas da camada branca que as protege dos efeitos da radiação solar, explica. Como resultado, “simplesmente derretem”, diz à AFP.

O guia Godfrey Mwangi, de 28 anos, diz ter visto muitas geleiras desaparecerem. Aponta com a mão para um penhasco sem nada que domina o acampamento Shiptons, a 4.200 metros de altitude, antes coberto por uma camada de gelo.

Seu colega Charles Kibaki Muchiri segue orgulhoso mostrando a insólita flora e as paisagens únicas, embora lamente que, com o desaparecimento das geleiras, não sejam organizadas certos tipos de escalada técnica.

Além disso, os rios secam, com consequências para a fauna e a flora e também para os habitantes dos povoados localizados no sopé de uma montanha venerada por algumas comunidades, lamenta.

“Minúsculo”

Segundo um estudo de satélite publicado em 2024, o Kilimanjaro conserva apenas 8,6% de sua geleira, o monte Quênia conserva somente 4,2% e cadeia de montanhas do Rwenzori, 5,8% comparado às primeiras observações confiáveis da superfície das geleiras, em 1900.

A segunda maior montanha africana perdeu mais da metade de suas geleiras entre 2016 e 2021-2022, quando sua superfície passou de 0,15km² a 0,069km², segundo o estudo.

Com essas dimensões, são pouco relevantes como depósitos de água, que na África oriental são as florestas de montanha, segundo Prinz.

“No passado, o efeito da neve era muito mais importante” para o ecossistema “porque a geleira era muito maior”, diz Alexandros Makarigakis, hidrólogo da Unesco.

Mas o Lewis, por exemplo, se tornou “minúsculo” e “sua contribuição não é mais a mesma”, acrescenta.

Tribuna Livre, com informações da Agence France Presse

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