Depois de 43 dias, o maior shutdown da história do país pode ter fim, nesta quarta-feira, e deixar US$ 11 bilhões em prejuízos permanentes à economia. Câmara dos Representantes deve se reunir para votar orçamento com democratas divididos
A declaração de alívio foi proferida pelo presidente Donald Trump durante cerimônia alusiva ao Dia dos Veteranos, no Cemitério Nacional de Arlington, na Virgínia. “Nós estamos reabrindo o país. Ele nunca deveria ter sido fechado”, anunciou. “Parabéns… por uma grande vitória”, disse ao presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Mike Johnson, presente no evento para lembrar os soldados mortos em guerras. Durante os últimos 43 dias, os EUA enfrentaram o maior shutdown — a paralisação dos serviços do governo federal — de sua história.
Depois de o Senado aprovar um acordo para reabrir o Estado, a Câmara dos Representantes deverá se reunir ainda nesta quarta-feira para votar o texto, o qual prevê um orçamento até janeiro e a readmissão de funcionários demitidos. Muitos dos congressistas aproveitaram o feriado para visitar seus distritos eleitorais.
Se avalizado pelos deputados, ele seguirá para a sanção de Trump, e o governo será imediatamente reaberto. Mas os danos econômicos permanentes são estimados em US$ 11 bilhões. Desde outubro, o shutdown deixou 1,25 milhão de funcionários públicos federais sem receber proventos.
Também impactou o setor da aviação, com a redução no quadro de controladores de tráfego aéreo e o cancelamento de milhares de voos, o que atrasou a volta dos parlamentares a Washington. Ontem, a operação nos principais aeroportos dos EUA foi reduzida em 10%.
Esperança
A votação chega à Câmara dos Representantes com os democratas divididos e com a ala dura do Partido Republicano mostrando reservas ao texto. O governista Mike Johnson, presidente da Casa, aposta na aprovação para destravar a máquina estatal.
A apreciação do acordo pelo Senado, no fim da noite de segunda-feira (10/11), causou mal-estar entre os democratas. Isso porque sete senadores do partido de oposição — mais alinhados à linha centrista — votaram com os republicanos: Dick Durbin, Jacky Rosen, John Fetterman Catherine Cortez Masto, Jeanne Shaheen, Maggie Hassan e Tim Kaine.
Um dos principais impasses gira em torno das subvenções federais que barateiam o seguro saúde Affordable Care Act (Lei de Assistência Médica Acessível, ACA), beneficiando mais de 24 milhões de americanos. O Partido Democrata exige a renovação dos créditos fiscais dentro do orçamento.
O deputado republicano Mike Lawler admitiu à emissora de televisão CNN uma abertura para estender em um ano os créditos fiscais do ACA. “Haverá uma negociação. O Senado, obviamente, irá votar. A Câmara, certamente, terá várias discussões sobre isso nas próximas semanas”, disse.
Doutora em ciência política e professora de relações internacionais na ESPM, Denilde Oliveira Holzhacker explicou ao Correio que o custo político do shutdown começava a ficar “muito alto” para Trump. “No início, ele capitalizava a paralisação como se fosse uma intransigência democrata. Ao fim, os democratas estenderam o shutdown e mostraram uma força de coesão muito grande. À medida que afeta o dia-a-dia dos americanos e com a aproximação do Dia de Ação de Graças, o shutdown poderia se voltar contra os democratas. O cálculo, aqui, é o quanto eles tinham de capital político para sair como os que foram capazes de ser intransigentes em relação à paralisação”, comentou.
Holzhacker lembrou que a oposição a Trump conseguiu colocar o tema do ACA, também chamado de “Obamacare”, sobre a mesa, ainda que sob desconfiança. “No fim das contas, acho que ninguém sai com a sensação de vitória. Há um efeito negativo para Trump. O atraso nos voos afeta o humor dos americanos, o que depõe contra o governo. A derrota nas recentes eleições locais para os governos de Nova Jersey e Virgínia, e para a Prefeitura de Nova York, são mais um fator nesse contexto”, observou a professora da ESPM.
DESAFIOS PELO CAMINHO
Conheça os obstáculos que o acordo aprovado pelo Senado deve encontrar na Câmara dos Representantes
Atenção à saúde
Parte dos congressistas democratas defende condicionar o orçamento de 2026 a uma renovação dos créditos fiscais que não oneram o seguro-saúde para 24 milhões de americanos. Não há garantias de que a Câmara vote essa renovação, o que pode deixar 7% da população desasistida.
Oposição interna
Apesar de ter conquistado os governos de Nova Jersey e Virgínia, além da Prefeitura de Nova York, os democratas encontram-se divididos. Há fraturas entre os progressistas e pragmáticos, a ala mais à esquerda do partido. Isso ficou mais evidente depois que os senadores da oposição votaram com os republicanos para aprovar o acordo pela reabertura do governo.
Votos republicanos
O Partido Republicano detém uma maioria ínfima da Câmara: 219 cadeiras contra 213 para os democratas. O problema é que, se mais de dois deputados republicanos não votarem pela aprovação do acordo, o projeto de orçamento será vetado. O setor mais radical do partido demonstra reservas com o texto.
UM GIGANTE ÀS PORTAS DA AMÉRICA LATINA
O maior porta-aviões do mundo foi incorporado à operação dos Estados Unidos contra o tráfico de drogas proveniente da América Latina, que a Venezuela insiste ter como objetivo a derrubada do presidente Nicolás Maduro. A chegada do USS Gerald Ford à região coincidiu com uma nova mobilização militar da Venezuela para responder a “ameaças imperiais” e com a condenação da Rússia aos bombardeios de embarcações que supostamente transportam drogas. O último ataque foi no domingo no Pacífico. O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, informou sobre a morte de seis pessoas a bordo de duas embarcações. Desde setembro, foram 20 embarcações bomardeadas e 76 mortos.
Tribuna Livre, com informações da Agence France Presse











