10/07/2025

Líder do PCC ligado à UpBus é suspeito da morte de Vinícius Gritzbach

]Reprodução

Silvio Luiz Ferreira, conhecido como “Cebola”, teria “condenado” Gritzbach à morte. Líder do PCC foi citado em delação do empresário

Um dos principais suspeitos pela morte do empresário Antônio Vinícius Gritzbach é o chefão do Primeiro Comando da Capital (PCC) Silvio Luiz Ferreira, conhecido como “Cebola”, de acordo com um dos integrantes da força-tarefa que investiga o caso.

Apontado como “sintonia final do progresso” da facção, Cebola é acusado de lavar dinheiro para a facção, enviando mais de R$ 1,2 bilhão para o Paraguai, e ex-diretor da empresa de ônibus UpBus. Em abril, ele foi alvo da Operação Fim da Linha, deflagrada pelo Ministério Público de São Paulo contra a infiltração do PCC no transporte público da capital, e se encontra foragido.

Cebola teria “condenado” Gritzbach à morte em dezembro de 2021, após o assassinato dos integrantes do PCC Anselmo Santa Fausta, o “Cara Preta”, e Antônio Corona Neto, vulgo “Sem Sangue”, também ligados à UpBus. Gritzbach, que teria desviado R$ 40 milhões de Cara Preta, era apontado como mandante do crime.

Em seu acordo de delação premiada, homologado em abril deste ano, Vinícius Gritzbach se comprometeu a compartilhar informações sobre o envolvimento de Cebola nos mecanismos usados pelo PCC para lavar dinheiro.

O empresário afirmou que foi apresentado por um colega identificado como Cebola, que se dizia comprador de um imóvel no Edifício Camille, no Tatuapé, de 280 metros quadrados. O imóvel acabou ficando formalmente em nome do advogado Ahmed Hassan, conhecido como Mude.

Mude seria a pessoa que aparece em um áudio entregue por Gritzbach ao MPSP em uma conversa com um policial civil do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc). Na gravação, ele oferece R$ 3 milhões pela morte do empresário.

“Você acha que três [milhões] vai?”, pergunta o advogado. “É, pensa nos três, vai pensando, me fala depois”, responde o policial. “Mas você acha que tá fácil resolver ou tá complicado?”, questiona Mude, ao que o policial afirma: “Tá fácil, facinho”.

Ahmed Hassan, o Mude, era acionista da empresa de ônibus UpBus, e foi um dos 13 presos na Operação Decurio, em agosto deste ano. Posteriormente, ele passou a cumprir a pena em prisão domiciliar. Segundo o MPSP, o advogado teria intermediado o pagamento de propina a policiais. A sede da UpBus seria usada como uma espécie de escritório da facção.

Ascensão no PCC

A folha de antecedentes de Cebola, mostra que ele foi preso pela primeira vez em janeiro de 1998, acusado de roubo. Inicialmente, ficou detido na carceragem do 4º Distrito Policial de Guarulhos, na Grande São Paulo.

O criminoso também passou por penitenciárias de Valparaíso, Lucélia e Mirandópolis, no interior paulista, antes de receber liberdade condicional em 2002.

Dez anos depois, em junho de 2012, ele foi preso por policiais militares da Rota na garagem de uma empresa de transportes, na zona leste da capital, onde havia 635 quilos de maconha e mais de R$ R$ 149 mil. Segundo a investigação, Cebola trabalhava oficialmente na Cooperativa Associação Paulistana, do ramo de transporte, mas, na verdade, já exercia cargo de liderança no PCC.

O traficante ficou detido na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, também no interior, que abrigava a cúpula da facção naquela época. Entre os detidos na cadeia de segurança máxima, estava Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como o chefão do PCC.

Lavagem para o PCC

Cebola conseguiu um habeas corpus e foi beneficiado com alvará de soltura em abril de 2014. Meses depois, em outubro, ele seria condenado a 14 anos, 3 meses e 15 dias de prisão, por tráfico de drogas e associação criminosa, no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), mas não voltou para a cadeia.

Em 2020, Cebola foi um dos denunciados pelo MPSP no âmbito da Operação Sharks, a primeira a atacar a célula financeira do PCC, que identificou o envio de R$ 1,2 bilhão da facção para o Paraguai, por meio do esquema de “dólar cabo”, técnica de lavagem de dinheiro.

O MPSP diz que o traficante participava das “redes fechadas de comunicação do PCC”, formada apenas por chefões, e era braço direito de Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, então apontado como sucessor de Marcola nas ruas.

Segundo a denúncia, Cebola era responsável pela logística de cargas de cocaína, oriunda principalmente da Bolívia, e por administrar os gastos da “cozinha” – nome dado aos laboratórios de droga da organização criminosa.

Parte dos acusados na Operação Sharks foi condenada pelo esquema de lavagem do PCC. No caso de Cebola, no entanto, a Justiça paulista entendeu que não haveria indícios suficientes para aceitar a denúncia.

Execução de Gritzbach

Vinícius Gritzbach foi morto com tiros de fuzil após desembarcar no Aeroporto de Guarulhos, na última sexta-feira (8/11), voltando de uma viagem a Maceió com a namorada. Homens encapuzados desceram de um carro na área de embarque e desembarque e começaram a atirar. Foram 29 disparos, segundo a polícia. Além do empresário, o motorista Celso Araújo Sampaio de Novais morreu.

Quatro policiais militares eram responsáveis pela segurança de Gritzbach no momento do ataque. Todos estão afastados e são investigados por suspeita de envolvimento no crime. Nos primeiros depoimentos prestados, eles disseram que, instantes antes do ataque ao empresário, pararam em um posto de combustíveis para lanchar, enquanto aguardavam a chegada do empresário.

Segundo eles, quando decidiram ir em direção ao aeroporto, uma das caminhonetes em que estavam não funcionou. Apenas um dos PMs teria ido até o local, acompanhado do filho de Gritzbach. Um outro PM acompanhou o empresário na viagem a Alagoas e disse à polícia nessa segunda-feira não ter percebido qualquer movimento suspeito no aeroporto, segundo seu defensor. “Nós só queremos descobrir a verdade e achar os verdadeiros culpados dessa situação”, afirmou o advogado Guilherme Flauzino.

Tribuna Livre, com informações da Força tarefa responsável pelas investigações.

Deixe um comentário

Leia também
Ataque no RS expõe preocupação com a violência extrema nas escolas
Ataque no RS expõe preocupação com a violência extrema nas escolas
Dois indígenas morrem em queda de helicóptero na Terra Yanomami
Dois indígenas morrem em queda de helicóptero na Terra Yanomami
Fazenda publica portaria para reduzir gastos e veta passagem executiva para servidores
Fazenda publica portaria para reduzir gastos e veta passagem executiva para servidores
Deputado Júnior Mano e outras 5 pessoas são alvos da PF por fraudes em licitações e desvio de emendas no Ceará
Deputado Júnior Mano e outras 5 pessoas são alvos da PF por fraudes em licitações e desvio de emendas no Ceará
ONG usou R$ 1,2 milhão para pagar eventos-fantasma e empresa de morto no RJ
ONG usou R$ 1,2 milhão para pagar eventos-fantasma e empresa de morto no RJ.
INSS pode descontar até 30% de aposentados com devolução duplicada
INSS pode descontar até 30% de aposentados com devolução duplicada
Em evento, Michelle reforça plano de  Bolsonaro para alcançar maioria no Congresso
Em evento, Michelle reforça plano de Bolsonaropara alcançar maioria no congresso
Cartórios não podem exigir validade de procuração
Cartórios não podem exigir validade de procuração
BR-319: Justiça retoma suspensão de licença do Ibama para asfaltamento de via que motivou embate de Marina com senadores
BR-319: Justiça retoma suspensão de licença do Ibama para asfaltamento de via que motivou embate de Marina com senadores
Nikolas pede afastamento de assessor que participou de ocupação no Itaú
Nikolas pede afastamento de assessor que participou de ocupação no Itaú
Governo Lula avalia novo modelo de financiamento para destravar compra de imóveis pela classe média
Governo Lula avalia novo modelo de financiamento para destravar compra de imóveis pela classe média
Secretaria de Segurança do Rio prevê ajuda das Forças Armadas em plano de retomada de territórios sob domínio do crime
Secretaria de Segurança do Rio prevê ajuda das Forças Armadas em plano de retomada de territórios sob domínio do crime

Dívida da Venezuela com Brasil chega a R$ 10 bilhões

País vizinho permanece inadimplente desde 2018, acumulando mais de R$ 2,7 bilhões apenas em juros de mora A dívida da Venezuela com o Brasil ultrapassa R$ 10,3 bilhões, conforme dados do Ministério da Fazenda atualizados até 28 de fevereiro de 2025. O país vizinho permanece inadimplente desde 2018, acumulando mais

Leia mais...

Cartórios não podem exigir validade de procuração

Uma decisão recente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) muda a forma como cartórios de todo o país devem lidar com procurações. O caso começou em Minas Gerais, quando um cartório se recusou a realizar um registro por considerar que a procuração apresentada, com mais de 30 dias de emissão,

Leia mais...

Geração Z não quer mais saber de CLT; entenda o movimento

Em busca de liberdade, propósito e flexibilidade, jovens rejeitam vínculos formais e desafiam o modelo tradicional de trabalho Horas fixas, salários baixos, falta de sentido no trabalho e pouca flexibilidade. Esses são apenas alguns dos motivos que estão levando a Geração Z — jovens nascidos entre 1995 e 2010 —

Leia mais...

A sua privacidade é importante para o Tribuna Livre Brasil. Nossa política de privacidade visa garantir a transparência e segurança no tratamento de seus dados pessoais.