21/12/2025

Lula espera “convivência civilizada” com Trump após vitória em eleição

Lula não telefonou em um primeiro momento para o presidente eleito dos Estados Unidos, como faz com aliados, mas não descarta fazê-lo - (crédito: Evaristo Sa/AFP)

Governo avalia que relação com os EUA é sólida e será mantida de forma pragmática, mesmo com distanciamento entre presidentes

O chefe do Executivo chamou Trump de mentiroso, durante a campanha eleitoral. Na semana passada, declarou apoio à candidata democrata. “Acho que a Kamala ganhando as eleições é muito mais seguro para a gente fortalecer a democracia. É muito mais seguro”, avaliou, em entrevista ao canal francês TF1. “Nós vimos o que foi o presidente Trump no final de seu mandato fazendo aquele ataque ao Capitólio, uma coisa que era impensável acontecer nos Estados Unidos. Porque os Estados Unidos se apresentavam ao mundo como um modelo de democracia, e esse modelo ruiu. Agora, temos o ódio destilado todo santo dia”, acrescentou.

Apesar da divergência ideológica com o republicano, Lula não repetiu a postura do ex-presidente Jair Bolsonaro, que demorou 38 dias para cumprimentar o atual chefe de Estado dos EUA, Joe Biden, em 2020.

Tanto o governo quanto o Palácio do Itamaraty calculam que a relação Brasil-Estados Unidos é sólida e será mantida de forma pragmática, mesmo que haja um afastamento pessoal entre os dois presidentes. No cenário externo, porém, o Brasil perderá um aliado importante em pautas como mudança climática, transição energética e taxação dos mais ricos, prioridades para a política externa brasileira com a presidência do G20, neste ano, e da COP30, em 2025.

Ampliação da parceria

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, seguiu a linha de Lula: tom protocolar e em defesa do diálogo entre os dois países. “Parabenizo a vitória eleitoral de Donald Trump como 47º presidente dos Estados Unidos da América, com votos de que seja um período de promoção da paz, do desenvolvimento econômico e social e de ainda maior ampliação da parceria entre Brasil e EUA”, destacou, em nota. Os demais palacianos não comentaram, mas replicaram em suas redes o pronunciamento de Lula.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por sua vez, foi claro ao demonstrar preocupação com os efeitos de Trump na economia global e possíveis repercussões no Brasil. Ele citou as medidas protecionistas que o republicano anunciou durante a campanha, como taxar em 10% todos os bens importados para reduzir a carga tributária interna, mas lembrou que é preciso aguardar para ver se o plano econômico será realmente colocado em prática quando ele assumir a Casa Branca ou se ficará no campo das promessas eleitorais.

“Na campanha, foram dias de muitas coisas que causam apreensão no Brasil e no mundo inteiro. Causam apreensão nos mercados emergentes, nos países endividados e na Europa. O dia amanheceu mais tenso no mundo”, declarou a jornalistas na porta do Ministério da Fazenda. “Nós temos que aguardar um pouquinho e cuidar da nossa casa. Cuidar do Brasil, nas finanças, da economia, para ser o menos afetado possível por qualquer que seja o cenário externo”, acrescentou.

Também sobre a economia, o ministro dos Transportes, Renan Filho, publicou um artigo de opinião no portal Brasil 247 e aproveitou para defender a proposta de corte de gastos encampada por Haddad, que deve ser anunciada ainda nesta semana. “Com a vitória de Trump nos EUA, esse trabalho se impõe com mais urgência. Tem que ser rápido e preciso para vencer as resistências internacionais e que pressionam o dólar”, argumentou.

O tom mais duro dentro do governo foi adotado pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira. Ele se pronunciou em suas redes sociais antes mesmo de Lula e fez fortes críticas a Trump. “A mais rica nação do mundo elegeu um presidente que cultiva os piores valores humanos. Nega as mudanças climáticas e a ciência e apoia a extrema-direita no mundo. Tempos difíceis para a humanidade”, escreveu.

Mudanças climáticas

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, comentou que os Estados Unidos seguem com a responsabilidade de diminuir a emissão de carbono. “Mesmo em períodos muito difíceis, o esforço climático conseguiu avançar. Agora estamos vivendo uma situação de limiar, porque não há mais espaço para protelar absolutamente nada do que está acontecendo. E o segundo maior emissor do mundo tem uma responsabilidade muito grande num processo de enfrentamento de emissão de CO2 que temos”, declarou.

Marina relembrou o recente furacão Milton, na Flórida. “Há uma parte da população americana que não quer ver a continuidade do que aconteceu agora, com os furacões, nos EUA. É um dado de realidade que cada vez mais as pessoas vão cobrar a conta de seus governantes, independentemente de seus espectros ideológicos, porque são as suas vidas que estão sendo comprometidas, seus patrimônios”, ressaltou.

De acordo com a ministra, “temos uma governança muito forte no mundo”. “Na época do presidente Bush (2001-2009), existia quase um tabu em falar de biodiversidade e mudança climática. Mesmo assim, isso avançou no mundo. No primeiro governo de Trump, em que pese a posição dele, tivemos avanços significativos na governança climática global”, comparou.

No primeiro mandato, Trump tirou os EUA do Acordo de Paris, firmado em 2015, que determina a diminuição de gases do efeito estufa até 2030 em diversos países. São 195 nações que fazem parte do tratado internacional. As leis ambientais também foram enfraquecidas na gestão dele.

Tribuna Livre, com informações da Secom/PR

Deixe um comentário

Leia também
Deputado protocola projeto que cria Código de Conduta para ministros do STF
Deputado protocola projeto que cria Código de Conduta para ministros do STF
Jaques Wagner provoca crise na cúpula do PT ao articular PL da dosimetria
Jaques Wagner provoca crise na cúpula do PT ao articular PL da dosimetria
Vice-líder do governo alvo da PF; nº 2 da Previdência é preso
Vice-líder do governo alvo da PF; nº 2 da Previdência é preso
Líder do PL diz que vai recorrer contra cassação de Eduardo e Ramagem
Líder do PL diz que vai recorrer contra cassação de Eduardo e Ramagem
Defesa de Bolsonaro pede autorização permanente para visitas de Michelle
Defesa de Bolsonaro pede autorização permanente para visitas de Michelle
Defensoria Pública recorre contra decisão do STF que tornou Eduardo Bolsonaro réu por coação
Defensoria Pública recorre contra decisão do STF que tornou Eduardo Bolsonaro réu por coação
Aprovação de redução de penas de Bolsonaro expõe divisão entre governistas
Aprovação de redução de penas de Bolsonaro expõe divisão entre governistas
Quaest
Vazamento antecipou divulgação da Genial/Quaest
Comissão aprova projeto que prevê porte de arma em imóvel rural
Comissão aprova projeto que prevê porte de arma em imóvel rural
O acordo dos senadores para votar o PL da Dosimetria no Senado
O acordo dos senadores para votar o PL da Dosimetria no Senado
Ex-aliada de Lula, Heloísa Helena toma posse na Câmara e promete não se alinhar ao governo
Ex-aliada de Lula, Heloísa Helena toma posse na Câmara e promete não se alinhar ao governo
MDB tem maioria contra dosimetria no Senado, segundo líder do partido
MDB tem maioria contra dosimetria no Senado, segundo líder do partido

Vice-líder do governo alvo da PF; nº 2 da Previdência é preso

Agentes cumprem mandados de busca e apreensão contra senador Weverton Rocha. Na mesma operação, secretário-executivo do ministério é detido e demitido. Investigação atinge empresária amiga de filho do presidente Lula A Polícia Federal, em ação conjunta com a Controladoria-Geral da União (CGU), deflagrou, nesta quinta-feira, a nona fase da Operação Sem

Leia mais...

PM registra furto de cabos de usina solar, em Jaraguá

Criminosos levaram todo o cabeamento da empresa A Polícia Militar (PM) em Jaraguá registrou, nesta semana, um furto em usina solar, localizada em uma propriedade rural do município, conhecida como Fazenda Prainha, nas proximidades do trevo da BR-153 com a GO-080. Os criminosos levaram todo o cabeamento da empresa, como

Leia mais...

Árvore de grande porte cai em estacionamento do Dnit, na Asa Norte

A queda interrompeu a passagem de veículos até que militares conseguissem cortá-la para desobstruir a via. Não houve vítimas Uma árvore de grande porte caiu no estacionamento do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), localizado na Asa Norte, na manhã desta quinta-feira (18/12). Segundo informações do Corpo de Bombeiros

Leia mais...

A sua privacidade é importante para o Tribuna Livre Brasil. Nossa política de privacidade visa garantir a transparência e segurança no tratamento de seus dados pessoais.