04/11/2025

Lula espera “convivência civilizada” com Trump após vitória em eleição

Lula não telefonou em um primeiro momento para o presidente eleito dos Estados Unidos, como faz com aliados, mas não descarta fazê-lo - (crédito: Evaristo Sa/AFP)

Governo avalia que relação com os EUA é sólida e será mantida de forma pragmática, mesmo com distanciamento entre presidentes

O chefe do Executivo chamou Trump de mentiroso, durante a campanha eleitoral. Na semana passada, declarou apoio à candidata democrata. “Acho que a Kamala ganhando as eleições é muito mais seguro para a gente fortalecer a democracia. É muito mais seguro”, avaliou, em entrevista ao canal francês TF1. “Nós vimos o que foi o presidente Trump no final de seu mandato fazendo aquele ataque ao Capitólio, uma coisa que era impensável acontecer nos Estados Unidos. Porque os Estados Unidos se apresentavam ao mundo como um modelo de democracia, e esse modelo ruiu. Agora, temos o ódio destilado todo santo dia”, acrescentou.

Apesar da divergência ideológica com o republicano, Lula não repetiu a postura do ex-presidente Jair Bolsonaro, que demorou 38 dias para cumprimentar o atual chefe de Estado dos EUA, Joe Biden, em 2020.

Tanto o governo quanto o Palácio do Itamaraty calculam que a relação Brasil-Estados Unidos é sólida e será mantida de forma pragmática, mesmo que haja um afastamento pessoal entre os dois presidentes. No cenário externo, porém, o Brasil perderá um aliado importante em pautas como mudança climática, transição energética e taxação dos mais ricos, prioridades para a política externa brasileira com a presidência do G20, neste ano, e da COP30, em 2025.

Ampliação da parceria

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, seguiu a linha de Lula: tom protocolar e em defesa do diálogo entre os dois países. “Parabenizo a vitória eleitoral de Donald Trump como 47º presidente dos Estados Unidos da América, com votos de que seja um período de promoção da paz, do desenvolvimento econômico e social e de ainda maior ampliação da parceria entre Brasil e EUA”, destacou, em nota. Os demais palacianos não comentaram, mas replicaram em suas redes o pronunciamento de Lula.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por sua vez, foi claro ao demonstrar preocupação com os efeitos de Trump na economia global e possíveis repercussões no Brasil. Ele citou as medidas protecionistas que o republicano anunciou durante a campanha, como taxar em 10% todos os bens importados para reduzir a carga tributária interna, mas lembrou que é preciso aguardar para ver se o plano econômico será realmente colocado em prática quando ele assumir a Casa Branca ou se ficará no campo das promessas eleitorais.

“Na campanha, foram dias de muitas coisas que causam apreensão no Brasil e no mundo inteiro. Causam apreensão nos mercados emergentes, nos países endividados e na Europa. O dia amanheceu mais tenso no mundo”, declarou a jornalistas na porta do Ministério da Fazenda. “Nós temos que aguardar um pouquinho e cuidar da nossa casa. Cuidar do Brasil, nas finanças, da economia, para ser o menos afetado possível por qualquer que seja o cenário externo”, acrescentou.

Também sobre a economia, o ministro dos Transportes, Renan Filho, publicou um artigo de opinião no portal Brasil 247 e aproveitou para defender a proposta de corte de gastos encampada por Haddad, que deve ser anunciada ainda nesta semana. “Com a vitória de Trump nos EUA, esse trabalho se impõe com mais urgência. Tem que ser rápido e preciso para vencer as resistências internacionais e que pressionam o dólar”, argumentou.

O tom mais duro dentro do governo foi adotado pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira. Ele se pronunciou em suas redes sociais antes mesmo de Lula e fez fortes críticas a Trump. “A mais rica nação do mundo elegeu um presidente que cultiva os piores valores humanos. Nega as mudanças climáticas e a ciência e apoia a extrema-direita no mundo. Tempos difíceis para a humanidade”, escreveu.

Mudanças climáticas

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, comentou que os Estados Unidos seguem com a responsabilidade de diminuir a emissão de carbono. “Mesmo em períodos muito difíceis, o esforço climático conseguiu avançar. Agora estamos vivendo uma situação de limiar, porque não há mais espaço para protelar absolutamente nada do que está acontecendo. E o segundo maior emissor do mundo tem uma responsabilidade muito grande num processo de enfrentamento de emissão de CO2 que temos”, declarou.

Marina relembrou o recente furacão Milton, na Flórida. “Há uma parte da população americana que não quer ver a continuidade do que aconteceu agora, com os furacões, nos EUA. É um dado de realidade que cada vez mais as pessoas vão cobrar a conta de seus governantes, independentemente de seus espectros ideológicos, porque são as suas vidas que estão sendo comprometidas, seus patrimônios”, ressaltou.

De acordo com a ministra, “temos uma governança muito forte no mundo”. “Na época do presidente Bush (2001-2009), existia quase um tabu em falar de biodiversidade e mudança climática. Mesmo assim, isso avançou no mundo. No primeiro governo de Trump, em que pese a posição dele, tivemos avanços significativos na governança climática global”, comparou.

No primeiro mandato, Trump tirou os EUA do Acordo de Paris, firmado em 2015, que determina a diminuição de gases do efeito estufa até 2030 em diversos países. São 195 nações que fazem parte do tratado internacional. As leis ambientais também foram enfraquecidas na gestão dele.

Tribuna Livre, com informações da Secom/PR

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