15/11/2025

Marina Silva: “A Amazônia está perdendo umidade”

Ao lado da presidente da CMA, senadora Leila Barros, Marina Silva faz alertas preocupantes sobre o futuro da Amazônia e do Pantanal - (crédito: Roque de Sá Agência Senado)

Mudança climática e incêndios estão minando a capacidade da floresta de absorver carbono, alertam Marina Silva e especialistas

Às vésperas do Dia da Amazônia, comemorado nesta quinta-feira, a região registrou mais de 6,5 mil focos de queimada nas 48 horas anteriores. Segundo dados do Laboratório de Aplicação de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa/UFRJ), a Amazônia Legal teve 6,7 milhões de hectares de terra queimados, correspondente a 1,6% do bioma.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) aponta que 20 municípios concentram 85% dos focos de calor da região amazônica. Além disso, o Inpe registrou que o Pará foi o estado com maior incidência de incêndios florestais nos dois primeiros dias de setembro. A Amazônia Legal já conta com 1.468 brigadistas do Ibama e do ICMBio.

Um boletim publicado pelo Governo Federal apontou que, até o dia 2, houve ações de combate em 189 focos de incêndios — 31 deles já foram extintos e 158 ainda estão ativos. Dos ativos, 76 estão controlados (quando o fogo está cercado por uma linha de controle, que pode ter sido formada por combate direto, linhas de defesa, aceiros e barreiras naturais ou artificiais). Isso mostra que 57% dos incêndios foram extintos ou, pelo menos, controlados.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, alertou que a Floresta Amazônica está perdendo “umidade”, o que pode tornar a região ainda mais suscetível a incêndios, incluindo os de origem natural. A ministra afirmou que o agravamento da crise climática tem feito com que a região, tradicionalmente conhecida por sua alta umidade, fique mais vulnerável.

“Estamos diante de um processo severo de mudança climática. A floresta está perdendo umidade, o que a torna vulnerável a incêndios, seja por ação humana ou, futuramente, por fenômenos naturais, como raios. É uma situação química altamente deletéria e inimaginável”, disse a ministra, em sessão da Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado, ontem.

A doutora em meteorologia pelo Inpe Ana Paula Cunha explica que a baixa umidade relativa do ar tem contribuído para essa situação. “A previsão sazonal para os próximos três meses de centros europeus e americanos mostra que, especialmente no centro-norte do país, as chuvas continuarão abaixo da média”, destaca.

Ao todo, nas últimas 48 horas, o bioma amazônico foi o mais atingido pelas queimadas, representando 58,2% dos focos de todos os biomas do país. O climatólogo e PhD em meteorologia pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) Carlos Nobre explica que, com o desmatamento e as queimadas na floresta, a Amazônia está, cada vez mais, perdendo sua capacidade de ser um sumidouro de carbono.

“A Amazônia, lá atrás, chegou a remover 1,5 bilhão de toneladas de gás carbônico (CO²) da atmosfera. Chegou, até alguns anos, perto de 2 bilhões, e também absorvia muito mais do que perdia por desmatamento, degradação e queimadas. Agora, nos últimos 12 anos, o balanço de carbono de toda a Amazônia é negativo. Mais de 200 milhões de toneladas são jogadas na atmosfera. Isso é mais do que ela remove.”, explica o climatólogo.

Dados do Inpe indicam que o número de focos de queimadas na Amazônia Legal registrado neste ano (97.195) aumentou 109% em relação ao ano passado (46.501). Antes mesmo de acabar o ano, o número chega perto do resultado de 2010, o mais alto da série, quando o instituto identificou 102,8 mil focos.

Carlos Nobre explicou que o fogo está aumentando a degradação ambiental e reduzindo a reciclagem da água pela floresta. O impacto disso será a extensão da estação da seca. Consequentemente, a incidência de queimadas continuará a aumentar.

“A estação seca, historicamente, era de três a quatro meses no sul da Amazônia. No mês mais seco, chovia 40mm. Agora, a estação seca já dura de quatro a cinco meses com muito menos chuva, (redução) de 20% a 30%. Se a estação seca atingir seis meses, não mantém mais a floresta. Esse é o ponto de não retorno”, adverte o climatologista.

Ontem, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino encaminhou à Advocacia-Geral da União (AGU) nove perguntas sobre os planos do governo federal para enfrentar as queimadas. O órgão é quem representa o governo em processos no STF. O governo deverá responder às perguntas na próxima semana, mostrando o que fez para cumprir as ordens do ministro. Dino também exigiu que o governo reúna agentes das polícias Federal e Rodoviária Federal, da Fiscalização Ambiental e da Força Nacional para ampliar o combate aos incêndios florestais.

O ministro André Mendonça foi sorteado relator do processo que tramita no STF a respeito das medidas que deveriam ser tomadas em relação à Amazônia e ao Pantanal. O governo federal não conseguiu cumprir a data limite (dia 26), e a AGU solicitou um adiamento do prazo, que foi concedido. Em sua fala, o ministro demonstrou preocupação com a Amazônia Legal e destacou os números de queimadas registradas esse ano.

Pantanal em extinção

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, alertou que o Brasil pode perder o Pantanal por completo até o fim do século, devido ao aquecimento global. Convidada pela Comissão de Meio Ambiente do Senado para prestar esclarecimentos sobre as ações do governo contra a onda de queimadas, a ministra defendeu que o Congresso crie um marco regulatório da emergência climática.

“A região passa pela maior estiagem dos últimos 74 anos. Segundo os pesquisadores, se continuar o mesmo fenômeno em relação ao Pantanal, o diagnóstico é que poderemos perder o bioma até o fim deste século. Isso tem nome: baixa precipitação, alto processo de evapotranspiração, não conseguindo alcançar a cota de cheia nem dos rios nem da planície alagada”, explicou.

A ministra informou que, a cada ano, perde-se mais cobertura vegetal por desmatamento e queimadas. “Você prejudica toda a bacia e, assim, até o final do século, nós poderemos perder a maior planície alagada do planeta”, disse ela. “A mudança do clima é um agravante para as queimadas e os incêndios florestais, mas há, sobretudo, uma visão inadequada de como fazer uso do fogo”, completou.

Ela negou que o governo não esteja priorizando a pauta ambiental e disse que está sendo feito um “esforço orçamentário enorme”. “O governo, criticado, apanha para cortar e, depois, apanha porque cortou. Mas, no último corte (anunciado pelo Ministério da Fazenda), o único ministério não afetado foi o do Meio Ambiente”, destacou.

Segundo a ministra, o esforço do governo tem sido para “empatar o jogo”. “Nós estamos vivendo sob um novo normal que vai exigir do poder público capacidade de dar resposta que nem sabemos como vão se desdobrar daqui para a frente”, ponderou Marina. “Não se tratam de incêndios naturais. Se não tivéssemos nos preparado desde janeiro de 2023, teríamos uma situação incontrolável. O esforço feito agora é para empatar o jogo.”

Tribuna Livre, com informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)

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