14/09/2025

Massacre em creche de Blumenau força autoridades a tomar providências

 Massacre em creche de Blumenau, com a morte de quatro
crianças, choca o país e força autoridades a tomar providências



Imprensa internacional destaca que ataques em escola
estão ficando comuns no Brasil

 (crédito: AFP)

“Agradeço a Deus por todos os momentos que vivi com
o meu filho. A partir de hoje, a memória dele vai ser honrada no meu
coração.” Com essas palavras, Bruno Bride expressou a dor de perder o
filho Bernardo Machado em um ato de violência que chocou o Brasil. “Vou
honrar a memória do meu filho todos os dias, fazer valer a pena todos os
momentos. Peço que Deus conforte meu coração e de todas as famílias”,
acrescentou Bride, nas proximidades da creche Cantinho Bom Pastor, localizada
na Rua dos Caçadores, bairro Velha.

Na manhã de ontem, a cidade catarinense de Blumenau,
situada no Vale do Itajaí, foi cenário de uma tragédia. Um homem de 25 anos
invadiu o estabelecimento educacional e, armado de uma machadinha, começou a
desferir golpes nas crianças. Morreram no ataque Bernardo Cunha Machado, 5
anos; Bernardo Pabest da Cunha, 4 anos; Larissa Maia Toldo, 7 anos; e Enzo
Marchesin Barbosa, 4 anos.

Outras cinco crianças ficaram feridas. Quatro foram
atendidas no Hospital Santo Antônio. Entre elas, estão duas meninas de 5 anos,
um menino de 3 anos, e um de 5 anos. Segundo a equipe médica, elas passaram por
cirurgia e estão com o quadro de saúde estável. “Elas foram atendidas pela
equipe de urgência e emergência e as famílias estão recebendo apoio da equipe multiprofissional
da instituição”, informou o hospital, em nota. Uma quinta criança, com
ferimentos leves, foi levada pela mãe para o Hospital Santa Isabel, segundo
informações divulgadas pela prefeitura de Blumenau.

A tragédia poderia ser ainda pior não fosse a iniciativa
de uma funcionária da creche Cantinho Bom Pastor. Professora do maternal,
Simone Aparecida Camargo estava se preparando para conduzir os pequenos para o
banho de sol no pátio da creche. Mas, ao ser alertada sobre o ataque, agiu
rápido. “Eu tranquei os bebês em uma sala e me tranquei com eles. Na hora
que saí, ele (o criminoso) já não estava mais”, relatou.

Simone reconstitui os momentos de desespero. “Minha
parceira de sala chegou correndo dizendo ‘fecha a porta, fecha a janela porque
um cara assaltou o posto”, contou. “Pensamos que era um assalto
porque ele invadiu a escola, só que fechei os bebês no banheiro, depois vieram
na porta dizendo que ele ‘veio matando'”, lembrou.

Até o fechamento desta edição, não havia informações
sobre um eventual vínculo entre o autor e o local onde ocorreu o ataque.
Segundo o chefe da Polícia Civil de SC, delegado Ulisses Gabriel, o suspeito se
entregou logo depois da ação.

A creche Cantinho Bom Pastor é uma instituição privada,
sem convênio com a prefeitura, e atende cerca de 220 crianças. Demais escolas
públicas e particulares na cidade tiveram as aulas interrompidas por tempo
indeterminado. As festividades da Páscoa no município também foram canceladas.

O delegado Ulisses Gabriel afirmou que é preciso ampliar
as ações de caráter preventivo para evitar novos ataques como o de hoje.
Ulisses disse também que a polícia “quer identificar se mais alguém
participou, como ele tramou esse plano, onde ele obteve informações”.

“Falhamos”

Jorginho Mello, governador de Santa Catarina, decretou
luto oficial de três dias no estado. Ele usou as redes sociais para lamentar o
episódio. “É com enorme tristeza que recebo a lamentável notícia de que a
creche particular Cantinho do Bom Pastor, em Blumenau, foi invadida por um assassino
que atacou crianças e funcionários. Infelizmente quatro não resistiram e
morreram, além de três feridos. Determinei imediatamente a ação das nossas
forças de segurança, que já estão no local. Também decretei luto oficial de
três dias. O assassino já está preso. Deixo aqui a minha total solidariedade.
Que Deus conforte o coração de todas as famílias neste momento de profunda
dor”, escreveu.

A prefeitura da cidade vai instalar um comitê de crise
para acompanhar o caso e delimitar as ações. Segundo o prefeito Mário
Hildebrandt, o foco do governo será o atendimento e apoio às famílias das
vítimas.

A tragédia em Blumenau também abalou autoridades em
Brasília. O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil, Silvio
Almeida, em participação em um evento da pasta, lamentou o episódio. Falando de
improviso, disse que “não estava feliz” e fez um desabafo. “Um
país — um mundo, né? — que mata crianças é tudo menos democracia. É tudo menos
um mundo decente”, afirmou.

“Senhoras e senhores, nós estamos falhando miseravelmente
com as crianças e com os adolescentes. Nós estamos falhando miseravelmente com
as pessoas que mais precisam de nós neste país, e nós temos que admitir isso
pra poder dar um passo à frente”, completou o ministro.

Ariel de Castro Alves, Secretário Nacional dos Direitos
da Criança e do Adolescente, defende que o uso inadequado da internet fomenta
cenários como esse. “Algumas páginas e chats se tornaram espaços de
fomento ao ódio, violência, discriminação e intolerância”, afirma. O
secretário também lamentou as mortes e disse que “temos o desafio de
construir um país sem violência ou qualquer tipo de violação”.

Na noite de ontem, moradores de Blumenau foram à creche
Cantinho Bom Pastor para render homenagem às vítimas. Segundo informações do
portal NSC Total, deixaram velas e flores diante do educandário no bairro Velha
enquanto rezam.

Em determinado momento, populares rezaram pelas vítimas e
famílias, de mãos dadas em uma roda. Mariana Ludwig, coordenadora pedagógica da
Escola Alberto Stein, participou da homenagem. Uma das crianças assassinadas na
escola fazia o contraturno escolar no CEI.

“Eles são nossos pilares, nosso futuro. A gente
precisa protegê-los da melhor forma possível”, pediu.

Delegado vê caso isolado; mídia global destaca maior
frequência

O delegado Ulisses Gabriel afirmou que o massacre da
Creche Cantinho Bom Pastor se trata de um caso isolado. Ele negou que o
indivíduo fizesse parte de um grupo coordenado de ataques a unidades
educacionais. Segundo a polícia, o suspeito tem passagens por porte de droga e
tentativa de homicídio contra o padrasto. Ele será indiciado por quatro
homicídios triplamente qualificados e três tentativas de homicídio triplamente
qualificadas. “A situação é de caso isolado. Não tem relação com outras
práticas criminosas e não é um fato coordenado, seja por jogo, seja por rede
social, seja por meio de conversas e negociações entre criminosos”, disse
Gabriel.

O comandante-geral da Polícia Militar, Aurélio José
Pelozato da Rosa, garantiu que a corporação iniciou ações de segurança nas
unidades de ensino do estado. Uma das iniciativas é colocar o Programa de
Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) no horário de entrada dos alunos,
para que os policiais façam a entrada na unidade com os estudantes.

Outra ação é o retorno de policiais da reserva para
patrulhamento. Além disso, a prefeitura inicia hoje reuniões com diretores de
escolas públicas e privadas para aumentar a segurança no ambiente educacional.
“Queremos somar forças nas estratégias de segurança e resposta para essas
e outras situações que possam acontecer em ambiente escolar”, declarou. As
aulas estão suspensas na rede pública e particular blumenauense até
segunda-feira.

O ataque foi destaque nos principais jornais do mundo. As
reportagens ressaltam que esse tipo de crime em escolas começa a ser comum no
país.

A agência americana Associated Press informa que o ataque
chocou o Brasil e colocou pressão nas autoridades para conter a onda crescente
de violências nas escolas do país.

O inglês The Guardian indica que “ataques a escolas
no Brasil têm acontecido com maior frequência nos últimos anos” e relembra
o caso em São Paulo, na semana passada, com a morte de uma professora de 71
anos.

O norte-americano Washington Post aponta que, de 2000 até
2022 o Brasil registrou 16 ataques violentos contra escolas, sendo quatro deles
apenas no segundo semestre do ano passado.

O italiano Corriere Della Sera destaca que o ataque
aconteceu menos de 10 dias após um adolescente esfaquear a professora em São
Paulo.

A Rádio França Internacional destacou a fala do ministro
dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida. Ele disse que “um país
que mata crianças é tudo menos democracia”.

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