A escassez de insumos é apenas uma parte do problema
Sem insumos na rede municipal de Saúde, médicos de Goiânia compram remédios com dinheiro do próprio bolso para atender demandas emergenciais de pacientes. Esse é o caso da médica Maria Eduarda Oliveira, credenciada pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Segundo ela, unidades se tornaram “ambientes de caos”, com falta de medicamentos básicos, carência de equipamentos, insegurança física e incertezas sobre direitos trabalhistas. Uma nova paralisação desses profissionais chama atenção para esse contexto a partir da próxima segunda-feira (9/12).
“Há 15 dias estamos vivendo falta de medicamentos simples como dipirona, hidrocortisona, salbutamol, bromoprida. Quando há reposição, ela dura, em média, 24 horas”, conta Maria Eduarda. Às vezes, é necessário que o médico tire do próprio bolso para atender uma emergência. ‘Quando o paciente chega com uma reação alérgica e é um quadro mais grave e aqui não tem prometazina, não tem hidrocortisona, normalmente a gente sempre entra em contato com esses revendedores hospitalares e a gente compra, anda com uns 4, 5 na bolsa”, destaca.
Prefeitura tenta reverter paralisação com compra imediata de medicamentos
No fim da tarde desta quarta-feira (4/12), a Prefeitura anunciou a compra imediata para abastecer a rede municipal de saúde, numa tentativa de fazer com que o sindicato suspenda a paralisação. Contudo, a escassez de insumos é apenas uma parte do problema.
Os contratos de biomédicos expiraram e não foram renovados, afetando os serviços laboratoriais na maioria das unidades. Hoje, apenas quatro UPAs realizam coletas laboratoriais, enquanto a manutenção deficiente de equipamentos de radiografia deixou apenas cinco unidades operacionais.
Médicos compram remédios do próprio bolso, mas insegurança preocupa
Além da precariedade estrutural, os médicos enfrentam a insegurança nas unidades de saúde. Pacientes frustrados com a ausência de soluções para suas demandas acabam dirigindo sua raiva contra os profissionais. “Os carros dos médicos foram arranhados na porta do CAIS. Esta semana, um paciente chegou a mostrar os órgãos genitais para uma colega durante uma discussão, tentando intimidá-la”, relata Maria Eduarda.
A falta de segurança é uma constante, e os profissionais, já sobrecarregados, se tornam alvo de violência física e verbal. “Temos insegurança de sair de casa para trabalhar, pois não sabemos o que vamos encontrar”, desabafa a médica.
Falta de repasses ao INSS
Outro ponto crítico denunciado pelos médicos é a irregularidade no repasse do INSS. Apesar do desconto mensal nos contracheques, os extratos previdenciários mostram que os valores não estão sendo transferidos pela prefeitura. “Fomos questionar na Secretaria de Saúde, e disseram que o problema era no INSS. Ao verificar com o INSS, eles confirmaram que os valores realmente não foram repassados. Estamos inseguros quanto ao nosso futuro, mas o desconto continua sendo feito”, explica Maria Eduarda.
A situação salarial é outro fator que agrava o cenário. Com atrasos recorrentes, os profissionais afirmam não ter garantia de quando receberão seus pagamentos, o que impacta diretamente a qualidade de vida e o desempenho no trabalho. A Secretaria Municipal de Saúde, contudo, afirma, que não há débitos e que os salários referentes a novembro, já foram pagos.
“Essa é a situação dos médicos em Goiânia: trabalhamos sem segurança, sem medicamentos, sem estrutura e sem a certeza de que nossos direitos estão sendo respeitados. É desumano para nós e para os pacientes que atendemos”, conclui Maria Eduarda.
Tribuna Livre, com informações de médicos da Secretaria Municipal de Saúde (SMS de Goiânia