Quem mora no Entorno e precisa se deslocar diariamente ao DF lida com altas tarifas e perda de tempo
“Na minha cidade tem tudo, mas quando precisamos sair para trabalhar, em um emprego que pague um pouco melhor, o transporte é nossa maior dificuldade”. A fala é de Ossília Ribeiro, 45 anos, moradora de Planaltina de Goiás que, de segunda a sexta-feira, acorda às 4h rumo ao Lago Sul, onde trabalha como cuidadora de idosos. Assim como ela, quase 12 mil pessoas se deslocam durante a semana do município para o Distrito Federal, segundo números da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Nesta reportagem especial, o Correio foi a campo acompanhar moradores do Entorno que trabalham ou estudam no DF e dependem de transporte público para se deslocar. Entre as principais dificuldades, estão a baixa qualidade dos ônibus, a pouca quantidade de conduções e o alto preço das passagens, que impactam a qualidade de vida dos passageiros. Planaltina de Goiás, por exemplo, conta com apenas 69 veículos habilitados, da empresa Amazônia Inter Turismo — a única que roda no município — que fazem esse trajeto.
“Como o intervalo entre cada ônibus é muito longo, preciso sair mais cedo para pegar a linha das 4h30. Se sair mais tarde e deixar para pegar o próximo, chego atrasada no serviço, onde preciso estar às 8h”, explicou Ossília, em pé e com a mochila nas costas. Em um corredor estreito, fazer a viagem sentada não é uma possibilidade. E mesmo com cerca de 30 pessoas na mesma situação, ela garantiu: “Hoje (11/4), está até vazio. Tem vezes que a gente fica prensado (no suporte pega-mão) de tão apertado que é”.
A cuidadora de idosos sai do trabalho às 16h e, na Rodoviária do Plano Piloto, espera cerca de 40 minutos para embarcar, dessa vez, sentada. Conforme relatou, a empresa oferece a opção dos passageiros pegarem a linha executiva, que é mais confortável, porém custa R$ 15.
Passagens caras
Em fevereiro deste ano, a ANTT aprovou — pela terceira vez em pouco mais de um ano — um reajuste de 8,5% das passagens entre Entorno e DF. A tarifa de Planaltina de Goiás para Brasília, que até agosto de 2023 custava R$ 10,15, está em R$ 11,05. Para Ossília, o gasto mensal é de R$ 626, visto que, chegando na Rodoviária do Plano Piloto, ainda precisa pegar um circular até o Lago Sul. “Por sorte, meu emprego arca com o vale-transporte, mas já perdi muitas oportunidades de ser contratada por causa da passagem. Meu esposo até já foi demitido por isso”, contou.
Mesmo com casa própria no Entorno, ela cogita mudar-se para o DF. No momento, o maior empecilho é o alto preço das moradias em Planaltina e Sobradinho, opções que considera. “Com tantos aumentos na passagem, passei a aceitar somente empregos que arquem com esse valor. É uma tarifa tão cara que, por mês, poderia pagar uma compra no mercado, um boleto ou um curso”, lamentou. E, para a cuidadora de idosos, o valor da passagem não corresponde à qualidade dos serviços. “Quebra com frequência, às vezes mais de uma vez por percurso”. Na última terça-feira (9/4), a reportagem flagrou três ônibus da empresa parados na BR 020.
A ANTT informou que não há norma específica que estabeleça, nesse serviço semiurbano entre GO e DF, a idade da frota a ser utilizada, tempo médio de utilização dos veículos e sua renovação. “Cada sistema deve ser analisado de maneira específica para se determinar tais critérios, presentes nos editais de licitação e consequentes contratos de permissão. Vale lembrar que as empresas têm a liberdade de adquirir novos veículos conforme necessário, enquanto a Agência realiza fiscalizações constantes para garantir que estas cumpram as exigências regulamentares e que os veículos estejam em condições de uso”, disse a nota.
Números
22.600 passageiros são transportados por dia útil da Cidade Ocidental para o DF
390 viagens, por dia útil, são feitas da Cidade Ocidental para o DF
11.700 passageiros são transportados por dia útil de Planaltina de Goiás para o DF
250 viagens, por dia útil, são feitas de Planaltina de Goiás para o DF
Os horários de pico em ambos os municípios são das 4h às 7h e 19h das 16h às 19h
Tribuna Livre, com informações da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).