Empresa disse que oferece apoio psicológico aos funcionários que trabalhavam com o gari morto no dia do crime
Na manhã de quarta-feira (20/8), colegas de Laudemir realizaram uma manifestação em frente à sede da Localix, pedindo justiça pelo assassinato do colega. O protesto, que durou cerca de 40 minutos, foi motivado pela revolta dos trabalhadores diante da possibilidade de redução da pena do empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, que confessou o crime.
“A gente precisa ter justiça. Se não fosse a repercussão, com certeza o Renê já estaria solto. Por isso, a gente tem que se movimentar mesmo para que ele fique preso”, disse o gari Tales Marcelo Alves.
A motorista que estava na equipe, em depoimento judicial, afirmou que Laudemir atuava há dez anos na empresa e estava ansioso para terminar o turno e chegar em casa antes das 18h. Ele havia acabado de conquistar a guarda da filha e o Conselho Tutelar faria uma visita à nova moradia da adolescente.
Mudança de rota na coleta de lixo
Dois garis que trabalhavam com Laudemir Fernandes, de 44 anos, assassinado no dia 11 de agosto enquanto realizava coleta no bairro Vista Alegre, região Oeste de Belo Horizonte, solicitaram a mudança de rota e tiveram o pedido atendido pela Localix, empresa responsável pela limpeza urbana da capital. A Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) informou que a rota continua sendo executada normalmente, agora com outros profissionais.
Segundo a SLU, a empresa também ofereceu assistência psicológica à equipe que atuava com Laudemir no dia do crime. O outro gari da equipe e a motorista que estavam presentes na ocasião estão de férias. Naquele dia, atuavam uma motorista e quatro garis. Laudemir substituía um colega afastado por lesão e sua rota habitual era no Bairro Serra, na Região Centro-Sul, da capital.
Como foi o crime?
• Equipe de coleta de lixo trabalhava na Rua Modestina de Souza, Bairro Vista Alegre, em BH, na manhã do dia 11 de agosto.
• Motorista do caminhão, Eledias Aparecida Rodrigues, 42 anos, manobra para liberar passagem, após ver uma fila de carros se formar atrás dela.
• Eledias e os garis acenam para Renê da Silva, que dirigia um carro BYD, permitindo a passagem.
• O suspeito abaixa a janela e grita que, caso encostasse em seu veículo, ele iria “dar um tiro na cara” da condutora.
• Na sequência, ele segue adiante, estaciona, sai do carro armado; derruba o carregador, recolhe e engatilha pistola, segundo o registro policial.
• Ele faz um disparo que atinge Laudemir no abdômen.
• O gari é levado ao Hospital Santa Rita, em Contagem, na Grande BH, mas morre por hemorragia interna.
• No local, PM recolhe projétil intacto de munição calibre .380.
• Horas após o crime, a PM localiza e prende Renê no estacionamento de academia na Av. Raja Gabaglia.
• Flagrante convertido em prisão preventiva em audiência de custódia, no dia 13 de agosto, a pedido do Ministério Público de Minas Gerais.
• Renê está preso no Presídio de Caeté, Grande BH
Quem é o suspeito?
• Renê da Silva Nogueira Júnior, 47 anos.
• Colaborador em empresa de alimentos; desligado após repercussão.
• Casado com a delegada Ana Paula Balbino Nogueira (PCMG).
• Se descrevia como “cristão, esposo, pai e patriota”.
• Tem outros registros policiais em São Paulo (lesão corporal grave contra uma mulher) e Rio de Janeiro (lesão corporal contra ex-companheira, ameaça contra ex-sogra e envolvimento em homicídio culposo)
• Nega ter antecedentes criminais; diz que só responde a processo por luxação no pé da ex-esposa.
O que dizem as investigações até o momento?
A arma utilizada no homicídio, uma pistola calibre .380, pertence à delegada da Polícia Civil Ana Paula Balbino Nogueira, esposa de Renê, e foi apreendida na residência da servidora no mesmo dia do crime. Os exames periciais, divulgados na sexta-feira (15/8) pela corporação, apontaram a compatibilidade entre a arma de Ana Paula e as munições usadas no assassinato de Laudemir.
Na noite de segunda, após a prisão de Renê, a servidora, que chefia a Delegacia de Combate à Violência Doméstica em Nova Lima, na Grande BH, afirmou à Polícia Civil que o marido não tinha acesso às suas armas e que não tinha informações sobre o crime. A corporação instaurou procedimento administrativo disciplinar correcional para apurar eventuais responsabilidades.
Apesar do procedimento interno, o delegado Saulo Castro afirmou, em coletiva de imprensa, que não há indícios para afastamento da servidora e, por isso, ela segue em seu cargo regular. “Estamos em fase inicial da investigação, que também foi instaurado um procedimento administrativo disciplinar correcional e que, eventualmente, sendo demonstrado qualquer tipo de responsabilidade, a servidora será devidamente penalizada em âmbito correcional”, disse.
Na ocasião, a corporação acrescentou ainda que o fato de a arma estar no nome da servidora do governo de Minas Gerais “não necessariamente” a coloca como coautora ou partícipe da ocorrência. A participação só será indicada caso fique constatado que a mulher entregou o armamento para o marido.
Um dos pontos centrais da investigação é o horário de chegada de Renê à Fictor Alimentos LTDA, em Betim, na Grande BH, onde ele trabalha. Câmeras de segurança da empresa inicialmente indicaram que ele teria chegado às 9h18, mas a perícia da Polícia Civil afirma que o registro correto seria 9h38, pouco mais de meia hora após um circuito de segurança na rua capturar o momento em que o gari foi baleado no Bairro Vista Alegre, às 9h07.
Na quinta-feira (14/8), a Justiça autorizou a quebra de sigilo dos dados telefônicos e telemáticos de Renê, oficiados à empresa BYD do Brasil, montadora do carro do suspeito visto no local do crime, e a operadora Claro. O objetivo é levantar as rotas percorridas por Renê no dia e nos horários próximos do momento do homicídio.
Correio de Santa Maria, com informações de Redes Sociais