O temor de um aumento nas cotações do produto, o qual poderia prejudicar a economia, está afastando os investidores.
O conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas já se estende por 12 dias, levando a trágicas crises humanitárias que estão aumentando a aversão ao risco nos mercados financeiros globais. Os temores de uma possível intervenção de grandes países produtores, como o Irã, no conflito, fizeram com que os preços do petróleo tipo Brent para entrega futura subissem 1,57%, atingindo US$ 91,31 por barril. Diante da ansiedade dos investidores, o Ibovespa, principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), encerrou com uma queda de 1,60%. No entanto, as ações ordinárias da Petrobras aumentaram 2,34%. A Petrobras se beneficia da alta do petróleo devido à sua significativa exportação do produto, e a empresa alcançou seu maior valor de mercado na história, sendo avaliada em R$ 525 bilhões no final do dia.
A situação do mercado piorou ainda mais devido a comentários sobre a manutenção de altas taxas de juros nos Estados Unidos. O Ministério de Relações Exteriores do Irã instou os países muçulmanos a imporem um embargo ao petróleo de Israel em retaliação ao bombardeio de um hospital na Faixa de Gaza, evento que intensificou as tensões na região. Especialistas alertam que o mercado ainda está precificando o risco potencial de envolvimento de países vizinhos no conflito, principalmente o Irã e a Arábia Saudita, importantes produtores globais de petróleo. A entrada do Irã na guerra em apoio ao Hamas também pode resultar em novas sanções por parte dos Estados Unidos e seus aliados, uma vez que o país já enfrenta um embargo americano desde o início do governo de Donald Trump.
Eric Gil Dantas, economista do Ibeps (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais), observou que o impacto direto no preço do petróleo pode ser mitigado no Brasil, uma vez que o país produz a maioria dos derivados consumidos, e a Petrobras, a principal ofertante, não repassa imediatamente as oscilações internacionais. A Petrobras possui uma “margem de manobra”, já que o preço da gasolina está 2% abaixo dos preços internacionais, de acordo com a Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis). A situação é mais delicada no caso do diesel, com uma defasagem de 17%, segundo a Abicom.
José Luis Oreiro, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), indicou que o conflito no Oriente Médio pode resultar em dois cenários. No primeiro, se os preços do petróleo permanecerem elevados por um período prolongado, a Petrobras poderia reajustar os preços internos, pressionando a inflação e possivelmente levando o Banco Central (BC) a reduzir o ritmo de queda da taxa básica de juros (Selic). No cenário mais pessimista, o envolvimento da Arábia Saudita ou do Irã no conflito poderia resultar em preços do petróleo superiores a R$ 100 por barril, desencadeando uma recessão global, aumento da inflação global e estagnação econômica.
Tribuna Livre, com informações Ibovespa