15/08/2025

O importante é afastar a bola da pequena área’, diz Galípolo sobre a Selic

Imagem: Adriano Machado/Reuters

O presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, afirmou que a recente decisão de interromper o ciclo de alta da taxa básica de juros foi baseada no direcionamento da inflação de volta à meta.

Em fala com metáforas futebolísticas, ele classificou o patamar restritivo da taxa Selic como determinante para deixar os riscos de alta dos preços mais distantes.

O que aconteceu

Galípolo disse que o BC se mantém focado na meta de inflação. Durante evento na ACSP (Associação Comercial de São Paulo), ele destacou que as decisões recentes da autoridade monetária demonstram atenção para direcionar o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) para o centro da meta. “O Banco Central não tira o olho da bola. Nossa meta é a meta de inflação”, garantiu.

A brincadeira que faço sempre é que o Banco Central é o zagueiro. Na dúvida entre o estilo e afastar a bola da pequena área, o importante é sempre afastar a bola da pequena área.

Gabriel Galípolo, presidente do BC

“Estamos olhando os sinais da economia”, afirmou o presidente do BC. Ao mencionar as razões para a interrupção do ciclo de sete altas consecutivas da taxa Selic, Galípolo afirmou que a percepção é de que o atual patamar dos juros é restritivo o suficiente para direcionar a inflação à meta. Ele cita que o Copom vê a política monetária funcionando no crédito, mas reconhece a “resiliência” do mercado de trabalho. “Independentemente do que ocorrer, o Banco Central não vai se desviar um milímetro do que é a defesa da moeda e do valor da moeda do país”, reforçou.

Presidente do BC avaliou que expectativas seguem em patamar “bastante incômodo”. Ele considerou que as estimativas para o final deste ano e do próximo demandam vigilância do Banco Central. Para Galípolo, as incertezas vão resultar na manutenção dos juros em um patamar bastante restritivo “por um tempo prolongado”. “As caudas estão mais gordas do ponto de vista dos riscos”, afirmou.

Ele comemorou as avaliações favoráveis à credibilidade do BC. Galípolo enfatizou que 90% dos economistas relatam que a autoridade monetária permanece no caminho correto. “Ainda assim, não enxergamos ainda as expectativas de médio e longo prazo produzirem uma convergência para a meta como é desejado do ponto de vista do mandato do Banco Central”, avaliou.

Questionado, Galípolo defendeu as projeções do Relatório Focus. “Curiosamente, os acadêmicos costumam ser os mais duros do ponto de vista de projeção e recomendação do que eles fariam no caso da política monetária. Os bancos costumam ser mais amenos”, disse ao mencionar a credibilidade do sistema de expectativas usado pelo BC para direcionar suas decisões.

O questionário Focus é muito importante para nós. Somos muito gratos a todos os que se dispõem a responder, porque são muitas perguntas, e ele é um farol muito importante pela lógica das expectativas.

Gabriel Galípolo, presidente do BC

‘Tarifaço’

Galípolo comentou que o Brasil reduziu a dependência dos EUA. O presidente do BC analisou os cenários em meio à cobrança de 50% sobre centenas de produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos. Na avaliação de Galípolo, o Brasil optou por uma política comercial mais diversificada nos últimos anos, o que vai limitar os impactos das novas taxas. “Aquilo que era visto como uma desvantagem passou a ser visto como uma proteção”, analisou.

Como o Brasil provavelmente vai depender menos dos Estados Unidos, ou depende menos dos Estados Unidos, em um processo tarifário o Brasil vai se machucar menos do ponto de vista comercial.

Gabriel Galípolo, presidente do BC

Banco Central considerava o ‘tarifaço’ desde janeiro, conta Galípolo. O comandante da autoridade monetária revelou que o cenário era aguardado, com a possibilidade real de riscos econômicos. Agora, ele avalia que as tarifas abrem caminho para três leituras distintas: o aumento da oferta dos produtos taxados e a queda temporária de preço dos produtos no Brasil, a perda de valor do real em relação ao dólar e o efeito direto do desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) e, consequentemente, o aumento do desemprego.

Taxa Selic

BC interrompeu ciclo de alta da taxa Selic há duas semanas. Em decisão unânime, os integrantes do Copom (Comitê de Política Monetária) optaram pela manutenção dos juros básicos no maior patamar desde 2006. O veredito colocou fim à trajetória que elevou a taxa Selic de 10,5% ao ano para 15% ao ano, em sete reuniões.

Autoridade monetária não descarta elevações futuras da Selic. Na ata com as justificativas para a decisão, os diretores do BC destacaram o ambiente externo “adverso e incerto” devido ao tarifaço determinado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Diante do cenário, o BC admite que “não hesitará” em aumentar os juros, caso a inflação permaneça distante da meta.

Selic é o instrumento do Banco Central para conter a inflação. A elevação dos juros básicos funciona como a principal alternativa de política monetária para dificultar o crédito e limitar o consumo. Com o dinheiro mais caro, a demanda por bens e serviços tende a diminuir e, consequentemente, segurar o avanço do IPCA, principal índice inflacionário do Brasil.

Pix

Galípolo defende que PIx permaneça gratuito e sob a gestão pública. O presidente do BC voltou a destacar a importância do sistema de pagamentos instantâneos “do jeito que ele é”. Ele mencionou a importância de que o mecanismo permaneça gratuito e gerido pelo Banco Central. “Se a gente tivesse, eventualmente, incumbentes sendo gestores desse tipo de sistema de pagamento, ficaria ali sempre uma suspeita do ponto de vista de conflitos de interesse”, afirmou.

Ele destacou que o Pix incluiu 60 milhões nos pagamentos eletrônicos. A avaliação de Galípolo considera a população que não tem cartão de crédito disponível para compras por um valor mais elevado e elencou as inovações desenvolvidas para o Pix, como o PIX automático, o PIX por aproximação e o PIX parcelado, que será disponibilizado a todos no próximo mês. “O Pix parcelado está em fase experimental, com alguns bancos já oferecendo o serviço, mas ao longo de setembro deve ter a sua regulação e padronização publicadas.”

O Banco Central não quer restringir alternativas que existem, quer oferecer mais alternativas e deixar que o cidadão e o comércio escolham aquela que se apresenta como a mais competitiva e mais interessante.

Gabriel Galípolo, presidente do BC

Autonomia do BC vai permitir continuar com as “revoluções”, diz Galípolo. O chefe da autoridade monetária usou o exemplo do Pix para defender a aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 65/2023, que garante a autonomia técnica, operacional, administrativa, orçamentária e financeira ao BC. “É importante dar as ferramentas para o Banco Central ter uma atualização no seu arcabouço legal e institucional”, disse.

É muito importante [a aprovação da PEC 65] que a gente faça isso de maneira rápida para o Banco Central poder seguir como esse Banco Central admirado.

Gabriel Galípolo, presidente do BC

Tribuna Livre, com informações do Banco Central

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