Explorando esse potencial, o Parque Sol do Piauí, no sertão da Caatinga, marcou um novo capítulo no setor elétrico ao inaugurar o primeiro sistema híbrido do Brasil que integra, em uma mesma infraestrutura, fontes solar e eólica
Curral Novo do Piauí — A combinação de ventos fortes e constantes, com altos índices de radiação solar, fez do Nordeste um dos principais polos de energia renovável do país. Explorando esse potencial, o Parque Sol do Piauí, no sertão da Caatinga, marcou um novo capítulo no setor elétrico ao inaugurar o primeiro sistema híbrido do Brasil que integra, em uma mesma infraestrutura, fontes solar e eólica.
O modelo inovador potencializa a geração de energia ao integrar painéis solares e aerogeradores, elevando a eficiência, garantindo maior estabilidade no fornecimento. A iniciativa pioneira da Auren Energia, que demandou adaptações regulatórias junto à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), assegura ganhos operacionais e maior eficiência no uso dos recursos naturais ao longo do ano. Além disso, representa uma vantagem competitiva estratégica no cenário de transição energética e no mercado de créditos de carbono.
“A complementaridade entre as fontes é o grande diferencial desse modelo. A geração eólica é mais intensa entre junho e setembro, enquanto a solar ganha força entre novembro e maio, permitindo uma entrega mais constante ao longo do ano”, explica Henrique Barbosa, gerente de Operação e Manutenção Regional da Auren. Segundo ele, essa combinação permite uma média de 10% de incremento na geração anual, podendo chegar a 46% no período de menor incidência de ventos.
Ao aproveitar a infraestrutura existente — como subestações e linhas de transmissão — o parque híbrido dispensa novas obras civis, o que também reduz impactos ambientais e custos de operação. O projeto, que começou a ser discutido em 2018 e foi inaugurado em fevereiro de 2024, enfrentou o desafio de inexistência de regulamentação específica à época.
“Foi o primeiro parque do Brasil nesse modelo. A Aneel teve que discutir com os agentes públicos e com a própria Auren formas de viabilizar essa operação”, diz Henrique. “Desde então, outros projetos passaram a ser autorizados com base na experiência que construímos.”
A operação do parque híbrido também ajuda a mitigar os efeitos do curtailment — a limitação da geração de energia mesmo quando há recursos disponíveis, geralmente causada por restrições na rede elétrica ou baixa demanda. Ao equilibrar a oferta com a capacidade da infraestrutura, a medida contribui para aliviara pressão sobre o sistema elétrico em momentos de excedente de geração ou escassez de energia.
Ao combinar fontes solar e eólica na mesma estrutura, é possível aproveitar de forma mais eficiente a capacidade instalada e minimizar perdas. “Com o parque híbrido, conseguimos complementar a geração em períodos de baixo vento, utilizando a energia solar para ocupar esse espaço. Isso ajuda o Operador Nacional do Sistema a ter mais potência disponível e reduz o risco de curtailment”, explica Barbosa. Segundo ele, o modelo otimiza o uso da subestação e evita a subutilização dos ativos já existentes, gerando mais energia com menos impacto.
Com mais de 1,2 GW de capacidade instalada na região e presença desde 2016, a Auren se prepara para a próxima fase do setor elétrico com a abertura do mercado livre para residências a partir de 2027. Para o gerente de Operação,o parque híbrido simboliza o futuro da energia: “É um modelo inteligente, eficiente, com pegada ambiental reduzida e impacto social positivo. Essa é a energia que queremos entregar: limpa, acessível e transformadora.”
Crédito de carbono
Além da eficiência energética, o modelo híbrido também fortalece o portfólio de créditos de carbono da empresa, indo além da simples produção de energia limpa. Ainda que o Brasil não tenha um mercado regulado de carbono, a Auren já comercializou mais de 7 milhões de créditos no mercado voluntário desde 2019, com compradores nacionais e internacionais, consolidando-se como líder no segmento no país.
A compensação por emissões recebe reconhecimento por seloscomo o Corsia — certificado que atesta a adicionalidade e impacto em Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). “Os créditos que emitimos têm alta procura e valor no mercado voluntário, tanto nacional quanto internacional, justamente porque comprovam impactos socioambientais além da geração limpa”, reforça Raquel Leite, gerente de Sustentabilidade, Desenvolvimento Social e Planejamento.
Segundo ela, o selo Corsia é altamente valorizado no mercado por sua raridade, já que representa um diferencial alcançado por poucas empresas geradoras de créditos de carbono. “Nosso time comercial, toda vez que recoloca esse crédito com o selo Corsia, vende muito rápido, porque é muito raro asempresas conseguirem comprovar essa adicionalidade. A maioria da procura ainda é estrangeira, mas já temos empresas brasileiras comprando também.”
Impacto socioambiental
Localizado na divisa entre oPiauí e Pernambuco, o parque sedestaca não apenas pela relevância na matriz energética, mas também pela questão socioambiental. Implantado em uma região marcada pela vulnerabilidade social e pela presença da caatinga, o empreendimento é amparado por mais de 40 licenças ambientais, além decontar com programas contínuos de monitoramento de fauna, ruído e vibração.
A preocupação com os impactos sonoros é constante. Para reduzir os efeitos da geração eólica, foram realizadas reformas nas casasda comunidade vizinha. “Na reforma que nós realizamos, buscamospreservar as características do imóvel e fazer as intervenções necessárias para que o ruído seja menos percebido no interior”, explica Raquel Leite.
Além da gestão ambiental, a executiva destaca a dimensão social do projeto, com foco na geração de oportunidades para a população local. “Sempre houve uma grande preocupação com a questão da mão de obra, em trazer geração de renda e melhorias para a comunidade”, afirma. Segundo ela,a contratação de colaboradores da própria região é estratégica para o sucesso das operações, fortalecendo o vínculo com o território e impulsionando o desenvolvimento socioeconômico.
Tribuna Livre, com informações d Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel