Partidos aliados de Bolsonaro elegeram ao menos 13 nomes para
Senado, Câmara dos Deputados e Câmara Legislativa
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
O resultado das urnas no Distrito Federal apontou para
configuração conservadora na bancada da capital do país no Legislativo para os
próximos anos. O PL, sigla do presidente Jair Bolsonaro, conseguiu eleger
quatro nomes para a Câmara Legislativa do DF (CLDF) e dois para a Câmara dos
Deputados. Legendas alinhadas ao atual ocupante do Palácio do Planalto, como
Republicanos e PP, também emplacaram representação expressiva nas casas
legislativas.
Ao todo, no Senado Federal, câmara e CLDF, o DF terá, a
partir de 2023, ao menos 13 parlamentares conservadores, com destaque para os
deputados federais: do total de oito políticos do DF, cinco serão de ideologias
próximas às de Bolsonaro. Entre as pautas levantadas pelo grupo — cuja
articulação com o Palácio do Buriti será feita pela vice-governadora eleita,
Celina Leão (PP) — estão a defesa da família formada por homem e mulher, a
criminalização do aborto, inclusive em casos já permitidos por lei, e o
fortalecimento das liberdades individuais.
Fabiana Vitorino, consultora e especialista em comunicação
política, aponta para posicionamento maior da direita nos espaços legislativos.
“Com isso, espera-se que pautas progressistas reduzam ainda mais o fôlego
nos próximos anos, dando lugar a temas ligados à moral e aos costumes.” Ela
destaca que os assuntos que serão abordados pelos parlamentares conservadores
vão depender do contexto instaurado a partir de 2023.
“A questão é como tocarão as pautas escolhidas. Na
educação, por exemplo, querem que o ensino em casa seja permitido, o que abre
espaço para que instituições religiosas promovam a educação para os filhos de
seus adeptos. Os progressistas são contra”, exemplifica.
Focadas em reeleger Bolsonaro por meio da diminuição da
rejeição do presidente entre o eleitorado feminino e a população nordestina,
Bia Kicis (PL) e Damares Alves (Republicanos) são os principais expoentes da
bancada conservadora eleita no domingo passado. Kicis conquistou mais quatro
anos na Câmara dos Deputados, novamente como a mais votada, e Damares, ex-ministra
de Bolsonaro, conseguiu a única vaga em disputa para o Senado.
Elas estão acompanhando Bolsonaro em viagem pelos estados do
Nordeste desde a semana passada. Antes de pegarem a estrada, deram entrevista
ao Correio e mostraram o que está por vir nos próximos anos. A tendência é que
Damares e Kicis endossem os discursos do atual ocupante do Palácio do Planalto
e se posicionem ao lado do presidente em questões relativas, por exemplo, ao
Judiciário.
“Eu não vou abrir uma guerra contra o STF (Supremo
Tribunal Federal), eu vou cumprir a Constituição. Um ministro do STF não pode
ser investigado? Eles são semideuses? Eles também não são movidos por erros e
paixões? Se um ministro do Supremo cometer um equívoco enquanto eu for
senadora, eu não vou me omitir”, afirmou Damares, um dia após ser eleita.
No mesmo tom, Bia Kicis, ao classificar a corte como
“antidemocrática” e acusá-la de “invadir competências”,
afirmou, na quinta-feira, que o STF “viola a Constituição”.
Fabiana Vitorino reforça a atuação das aliadas de Bolsonaro.
“Damares tem a seu favor outros senadores eleitos da mesma base
ideológica. Mesmo sendo minoria no DF (Leila do Vôlei, do PDT, e Izalci Lucas,
do PSDB, são os outros senadores pelo DF), terá companhia de colegas de outros
estados, além do governador (Ibaneis Rocha, do MDB) alinhado com o atual
presidente. Talvez ela tenha mais problemas se Lula (PT) for eleito.
Tudo vai depender muito do próximo presidente escolhido e
dos presidentes das casas legislativas. Já há movimento de Damares para ser
presidente do Senado. O sistema democrático brasileiro tem pesos e contrapesos.
Isso faz com que excessos não sejam direcionados. Com Lula, a vida dos
parlamentares conservadores pode ter menos amplitude, mas, ainda sim, haverá
muito espaço.”
Outro aliado de primeira hora do presidente, o deputado
federal reeleito Júlio César (Republicanos) também está empenhado na campanha
rumo ao segundo mandato de Bolsonaro. Pastor, o parlamentar reforça a defesa da
família tradicional e das pautas religiosas, mas destaca os temas que, de forma
geral, são favoráveis ao atual chefe do Executivo nacional.
“Estamos concentrando esforços na reeleição do
presidente. Acredito que é um projeto de governo que deu certo, porque os
últimos quatro anos foram marcados por muitos avanços. Para os próximos anos,
vamos focar em dar celeridade às propostas do Executivo, como as que envolvem a
geração de emprego e renda, a redução da carga tributária, a formalização de
trabalhadores e a manutenção de R$ 600 para o Auxílio Brasil a partir de janeiro
de 2023. Para Brasília, vamos continuar caminhando ao lado do governo
(local)”, elencou ao Correio.
Entre distritais
A tônica do Congresso Nacional será inserida também na
Câmara Legislativa pelos parlamentares dos partidos PL, PP e Republicanos. Eleito
com a alcunha de “o distrital da Bia Kicis”, o advogado Thiago
Manzoni (PL) vai assumir o primeiro mandato na casa a partir de janeiro de
2023.
“Espero defender os valores em que acredito: família,
liberdades individuais e respeito ao indivíduo como gerador de riquezas.”
Assim como Thiago, Daniel de Castro (PP), ex-vice administrador de Vicente
Pires, empunha as bandeiras conservadoras. “Vou defender, com muita força,
a família e seus valores, na condição de pastor e advogado que sou.”
As pautas conservadoras, porém, não estão no foco de todos
os deputados aliados a Bolsonaro. Estreante na CLDF, Joaquim Roriz Neto (PL)
pretende retomar o legado do avô, o ex-governador Joaquim Roriz, no que diz
respeito aos temas assistenciais.
“A minha pauta principal é combater a fome e resgatar o
Pão e Leite (programa de distribuição de alimentos do avô). Essa pauta é
universal, não tem como uma pessoa falar que é contra. Quero que esse assunto
não seja um debate entre esquerda e direita. Para mim, a fome não tem partido.
Eu quero ter um diálogo bom também com candidatos que não são da direita, como
eu sou”, afirmou.
A superação entre direita e esquerda também é defendida pelo
cientista político Antônio Flávio Testa. “O combate à pedofilia e ao crime
organizado são pautas universais. Muitas questões foram ideologizadas, mas são,
na verdade, tragédias humanas. A pauta de costumes até entra (na próxima
legislatura), mas não, necessariamente, será ideologizada. Romário (senador do
PL reeleito pelo Rio de Janeiro), por exemplo, comanda a discussão sobre
doenças raras e crianças com síndrome de Down.
Não são temas conservadores nem de esquerda. Há questões que
precisam ser discutidas acima disso. A solução de problemas sociais gravíssimos
é atrasada pela disputa entre esquerda e direita”, lamenta.
O especialista espera, porém, que os parlamentares
recém-eleitos ou reeleitos vão comandar o rumo da carruagem no Congresso
Nacional. “Damares e Magno Malta (senador do PL eleito pelo Espírito
Santo) vão estar em evidência. Bia Kicis vai ter muita força, Fraga terá muito
destaque e Júlio César é muito mobilizado”, avalia.
O cenário deve se repetir na câmara local, onde haverá, ao
menos, 17 distritais da base de Ibaneis. “O governador terá um enorme
apoio na CLDF. A oposição não terá força para impedir decisões do
governo”, completa Testa.
Apesar da grande adesão dos brasilienses a políticos
conservadores nas eleições de 2022, os três deputados mais votados para a CLDF
são de esquerda: Fábio Felix (PSol), Chico Vigilante (PT) e Max Maciel (PSol).
Felix, que foi o primeiro parlamentar LGBTQIA eleito,
conquistou o posto de distrital mais votado da história da Câmara Legislativa,
com mais de 51,7 mil votos. O trio superou a marca de Martins Machado
(Republicanos), político com mais votos de 2018 — 29,4 mil. Vigilante acumulou
43,8 mil brasilienses e Maciel, 35.758.