Pesquisa sobre 1ª infância realizada pela UFG mostra que em 34,3% desses meninos e meninas há indícios de atraso no desenvolvimento
Uma pesquisa realizada por professores e alunos da Universidade Federal de Goiás (UFG) com crianças de zero a seis anos do setor Estrela D’Alva, na região Noroeste de Goiânia, trouxe à luz uma realidade preocupante: em 34,3% desses meninos e meninas há indícios de atraso no desenvolvimento e em 54,5% existe risco de alterações de comportamento. A pesquisa, coordenada pela professora Luciane Costa, também revela que ausência de monitoramento do desenvolvimento esteve fortemente associada à suspeita de atraso (55,7%).
“O ponto principal dessa pesquisa é o de chamar atenção para necessidade de se zelar mais pela primeira infância em Goiânia”, diz a professora Luciane. “A gente vê que falta implementar políticas públicas, e isso tem impacto na vida toda. É na primeira infância que 90% do cérebro se desenvolve. Um dólar investido na primeira infância são sete que não precisarão ser investidos em programas sociais na vida adulta desse indivíduo”, afirma.
Luciane, que é da Faculdade de Odontologia da UFG, conta que a ideia de realizar a pesquisa nasceu da realidade que ela e outros docentes e discentes da universidade enfrentam no dia a dia. “Esse projeto vem muito de uma dor pessoal. Quando a gente recebia crianças no consultório da faculdade, eu via famílias com dificuldades muito básicas, como na escovação dos dentes. Percebemos que o dente era a ponta do iceberg, que essas pessoas precisavam de ajuda maior. A gente via crianças com três, quatro anos sem aquela interação adequada para idade, tudo muito perceptivel. Eu me juntei a uma psicóloga, a um médico pediatra e fomos aprofundando”, relata.
A pesquisa sofreu um hiato em razão da pandemia da Covid-19, mas voltou entre 2022 e 2023. A coleta de dados alcançou 219 crianças de zero a seis anos e integrou informações obtidas com a mãe (ou outra pessoa que fosse o cuidador principal), com equipes do Programa de Saúde da Família em atuação no bairro e com servidores do Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) do Estrela D’Alva.
Saúde materna e alimentação
Entre os dados que merecem destaque, vale citar que em 66,8% dos 178 casos no qual a mãe é a principal cuidadora da criança observaram-se sintomas depressivos maternos – o que indica alto risco de impacto no desenvolvimento dos filhos e filhas.
No estudo sobre consumo alimentar e antropometria, que se restringiu a crianças com idade entre dois e cinco anos, um terço apresentou Índice de Massa Corporal (IMC) inadequado para a idade, principalmente sobrepeso e obesidade, e e 55% assistiam TV durante as refeições. “Houve associação significativa entre IMC e hábitos alimentares, reforçando a necessidade de intervenções oportunas”, diz a conclusão do estaudo.
“As pesquisas convergem em recomendações práticas: retomar e qualificar o acompanhamento de crescimento e desenvolvimento das crianças, fortalecer a educação permanente das equipes, articular ações intersetoriais, e priorizar estratégias sobre segurança alimentar, apoio à saúde mental materna e controle do tabagismo no lar. Essas medidas tendem a reduzir riscos e a promover trajetórias de desenvolvimento mais saudáveis para as crianças da região”, complementa a professora.
Tribuna Livre, com informações da Universidade Federal de Goiás (UFG)