Investigação da PF diz que alvos de operação ajudavam o Careca do INSS a lavar dinheiro de aposentados por meio de fundos e debêntures
A Polícia Federal (PF) investiga um suposto esquema de lavagem de dinheiro do lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS, por meio de debêntures (títulos de dívidas de empresas) e fundos imobiliários.
A citação aos artifícios aparece em documentos da nova fase da Operação Sem Desconto, deflagrada nessa quinta-feira (18/12) contra alvos ligados ao lobista, apontado como principal operador financeiro das fraudes contra aposentados do INSS.
De acordo com a PF, o lobista, que está preso desde setembro, usava suas firmas para enviar dinheiro para uma empresa chamada HBR Capital Soluções e Serviços Financeiros, a título de compra de debêntures.
Debêntures são títulos de dívida emitidos por empresas para captar recursos diretamente de investidores no mercado financeiro – é como se o investidor estivesse emprestando dinheiro para a empresa em troca de juros e da devolução do empréstimo em data pré-definida.
A suspeita é que o esquema ocorreu da seguinte maneira: grandes somas de dinheiro eram usadas para a aquisição das debêntures – como a propriedade desse tipo de título não é pública, os donos dos valores permaneceriam ocultos. No futuro, a venda dos títulos no mercado faria o dinheiro retornar de maneira lícita.
Empresa de alvo
A empresa HBR, supostamente usada no caso, pertence a um dos alvos da operação dessa quinta, Rodrigo Moraes, que teve prisão decretada pelo ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Os repasses do Careca do INSS foram feitos por intermédio de Rubens Oliveira Costa, apontado como o carregador de malas da Farra do INSS e ligado ao lobista.
Em uma ocasião, por exemplo, Oliveira Costa encaminha ao Careca do INSS três comprovantes de transferências à HBR feitas pelas empresas Prospect e Brasília Consultoria — que pertencem ao lobista —, nos valores de R$ 1,2 milhão, R$ 1 milhão e R$ 40 mil. Tudo reservado à compra de debêntures. Em outra situação, Rodrigo Moraes informa a Oliveira COsta que até aquele momento haviam sido enviados mais de R$ 6 milhões da conta da Prospect.
“Rodrigo complementa dizendo que, somando os valores já investidos com uma nova previsão de R$ 2.000.000,00, seria emitida uma debênture no valor de R$ 8.500.000,00”, diz um trecho da apuração da PF.
A PF afirma que Moraes facilitava o fluxo de valores ilícitos por meio de empresas em seu nome ou sob sua gestão, “criando e mantendo estruturas aptas à circulação financeira destinada à ocultação da origem criminosa das quantias provenientes dos descontos associativos fraudulentos”.
Fundos imobiliários
Outro alvo da operação, Cristiana Alcântara, do núcleo administrativo do Careca do INSS, teria sido responsável por trazer a parceria com Rodrigo Moraes, aponta a investigação.
Segundo a PF, ela teria orientado o envio de valores obtidos no esquema do INSS para aportes em fundos imobiliários, o que, para a investigação, reforça “indícios de ocultação patrimonial e complexidade na movimentação financeira”. Fundos imobiliários são meios de investimentos em ativos do mercado, como imóveis físicos ou títulos de dívida imobiliária.
Além disso, de acordo com a apuração, ela se tornou sócia do lobista em Sociedades de Propósito Específico (SPEs) e recebeu créditos bancários de Rodrigo Moraes e empresas suspeitas de fraudes no caso do INSS.
O STF determinou que Cristiana use tornozeleira eletrônica. A reportagem não localizou a defesa dela e de Rodrigo Moraes. O espaço segue aberto para manifestações.
Nova fase da Sem Desconto
A operação dessa quinta resultou na decretação de 16 prisões preventivas (incluindo uma convertida em domiciliar) e oito ordens de monitoração eletrônica contra investigados. Romeu Carvalho Antunes, filho do Careca do INSS, foi um dos presos pela PF.
Aldroaldo Portal, secretário-executivo do Ministério da Previdência, também foi alvo da operação. Ele foi exonerado do cargo e vai cumprir prisão domiciliar. Já o senador Weverton Rocha (PDT-MA), amigo do lobista, foi alvo de busca e apreensão.
Outro alvo foi a empresária Roberta Luchsinger, herdeira de um banqueiro e amiga de Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha, filho mais velho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo a PF, ela recebeu R$ 1,5 milhão do Careca do INSS. Em uma dessas transferências, ele explicou que o dinheiro era para “o filho do rapaz”, possivelmente se referindo a Lulinha.
Tribuna Livre, com informações da Polícia Federal











