06/09/2025

Pobres sentem inflação maior do que os ricos; entenda

Apesar da desaceleração de preços de alimentos, reajustes de transporte público pesaram no bolso dos que ganham menos

Os dados da inflação de maio trouxeram um alento aos cidadãos de classes mais baixas, que almoçam e jantam em casa, devido à desaceleração mais forte nos preços dos alimentos. Contudo, os reajustes no transporte público em várias cidades fizeram os pobres sentirem mais o impacto da carestia do que os mais ricos.

Conforme os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial e tem como base as famílias com renda acima de cinco salários mínimos, desacelerou de 0,61% para 0,23%, entre maio e abril — dado bem abaixo das estimativas do mercado, de 0,37%. Enquanto isso, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), indicador da carestia para as famílias com renda mensal de até cinco salários mínimos, recuou de 0,53% para 0,36%, no mesmo período.

A alta de preços de ônibus urbanos foi de 2,83% em maio, de acordo com o IBGE. Apesar disso, o grupo Transportes deu uma contribuição negativa de 0,12 ponto percentual no IPCA do mês passado — devido, principalmente, às quedas dos preços dos combustíveis (-1,82%) e das passagens aéreas (-17,73%), beneficiando os mais abastados e que não utilizam transporte público.

Conforme dados do IBGE, o grupo Alimentos e bebidas também influenciou bastante para a desaceleração do índice geral ao recuar de 0,71% para 0,16%, entre abril e maio. Segundo André Almeida, analista da pesquisa do órgão, “trata-se do grupo com maior peso no índice, o que acaba influenciando bastante no resultado geral”.

O subgrupo de alimentos registrou quedas de 3,48%, nos preços das frutas; de 7,11%, no óleo de soja; e de 0,74%, nas carnes. “Quando há uma redução nos preços de alimentos in natura e de itens básicos, isso acaba beneficiando consideravelmente a camada mais pobre da população, entre os que recebem até cinco salários mínimos ou que são beneficiários dos programas sociais, porque eles têm o seu poder de compra elevado”, disse o economista Ecio Costa, professor titular de Economia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ele destacou ainda que, combinado com o reajuste do salário mínimo um pouco acima da inflação, o poder de compra dos pobres torna-se maior.

O economista e sociólogo, César Bergo, professor de Mercado Financeiro da Universidade de Brasília (UnB), ressalta, no entanto, que outros importantes itens da cesta dos mais pobres sofreram elevação, como o tomate (de 6,65%), o leite longa vida (2,37%) e o pão francês (1,40%). “Para uma família que consome mais pão, tomate e leite do que fruta e carne, o impacto da inflação continua sendo forte”. Bergo destacou também que o índice do IBGE é uma média, resultado de altas e reduções de preços nos estados, “portanto, alguns estados estão observando inflação e outros, deflação”.

Tanto no IPCA quanto no INPC houve alta em 15 das 16 capitais pesquisadas pelo IBGE. A maior variação do INPC, por exemplo, ocorreu em Belo Horizonte, de 0,79%, devido ao aumento de 25% do ônibus urbano. São Luís teve deflação de 0,33%, influenciada pelas quedas de 7,63%, nos preços do frango inteiro, e de 5,87% no custo da gasolina.

Para o economista Guilherme Costa Delgado, pesquisador aposentado do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e consultor na área agrícola, embora os dados relacionados aos preços de alimentos estejam caindo neste ano, a tendência ainda é que a inflação de alimentos fique acima da média geral do IPCA, podendo girar em torno de 7%. Enquanto isso, as últimas revisões para baixo do mercado devido ao dado da inflação oficial de 2023 estão ficando cada vez mais perto de 5%.

Na avaliação de Delgado, autor do livro Do capital financeiro na agricultura: a Economia do Agronegócio, o país necessita de políticas públicas que contemplem o incentivo à diversificação na produção de alimentos, pois existe uma grande concentração de commodities, que ocupam 90% da área plantada e influenciam no preço da cesta básica. “Quando as commodities sobem no mercado global, sobe também o valor na cesta básica. Quando caem de preço no mercado internacional, o sistema econômico usa a desvalorização cambial para compensar os exportadores, mas onera os consumidores do mercado interno”, disse. Ele defendeu melhor planejamento da produção para o mercado interno e a volta de estoques reguladores para ajudarem a conter as pressões inflacionárias dos alimentos.

A alta de preços de ônibus urbanos foi de 2,83% em maio, de acordo com o IBGE.

(crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

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