04/10/2025

Polícia prende homem apontado como principal fornecedor de material para produção de destilados adulterados

Fiscalização interditou bares na capital — Foto: Pablo Jacob/Governo de São Paulo

Prisão ocorreu na Zona Norte de SP. De acordo com policiais, as investigações apontaram que o homem comercializava desde garrafas, tampas, rótulos, caixas para embalar até selos arrecadadores de IPI.

Um homem apontado pela polícia como um dos principais fornecedores de materiais para a produção de destilados adulterados foi preso nesta sexta-feira (3) na Zona Norte de São Paulo. Em dois imóveis ligados a ele, foram encontrados milhares de itens usados nas falsificações. A identidade do suspeito não foi divulgada.

De acordo com policiais do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), as investigações apontaram que o homem comercializava garrafas, tampas, rótulos, caixas para embalar e até os selos arrecadadores de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) da Receita Federal para aplicar nos vasilhames.

Além disso, policiais acreditam que o material abastecia diversas regiões do estado de São Paulo, especialmente no interior.

As investigações revelaram que o detido criou uma rede para comprar garrafas de uísque, vodca e gin. Era responsável pela lavagem dos vasilhames e, na sequência, pela recolocação de rótulos falsificados, tampas, selos de autenticidade e todos os itens para compor embalagens similares às originais.

Os policiais recolheram todo o material e estimam que foram apreendidas 20 mil garrafas. O responsável foi autuado por crimes contra a propriedade industrial e contra às relações de consumo.

Comércio clandestino

Para os investigadores do Deic, o comércio clandestino de bebidas funciona como um ciclo: há os falsificadores (destilarias clandestinas) que envasam as garrafas e, intermediariamente, há os criminosos que compram as garrafas, realizam a limpeza, rotulação e tampam as mercadorias.

“São esses criminosos que compram as garrafas de adegas, bares e restaurantes, mesmos lugares que compram a bebida falsificada das destilarias clandestinas, reiniciando o ciclo criminoso. Esse é um ciclo que, independentemente de onde começa, se retroalimenta”, afirma a polícia

Higienização de garrafas

A Polícia Civil de São Paulo investiga se o metanol foi usado na higienização de garrafas de bebida em meio aos casos de intoxicação pelo produto registrados nos últimos dias. Esta é a principal linha de investigação das autoridades.

Segundo fontes, fábricas clandestinas estariam usando metanol — ou etanol batizado com metanol — para limpar e desinfectar garrafas — possivelmente vazias e falsificadas — antes do envasamento das bebidas.

As investigações tiveram início a partir da rota percorrida pelas bebidas consumidas pelas vítimas. A polícia esteve em bares onde ocorreram os primeiros casos de intoxicação, depois seguiu até as distribuidoras que abasteciam esses estabelecimentos e, na sequência, chegou até fábricas clandestinas.

Até o momento, não há informações sobre os responsáveis pelo possível esquema nem a origem do metanol, que não está disponível no Brasil.

 O metanol é um álcool usado industrialmente em solventes e outros produtos químicos. O Brasil vem registrando aumento no número de casos de intoxicação por metanol misturado a bebidas alcoólicas adulteradas. Também há registro de mortes (leia mais abaixo).

Nesta sexta-feira (3), o Instituto de Criminalística (IC) de São Paulo anunciou a criação de uma força-tarefa para analisar as garrafas apreendidas durante fiscalizações para apurar a adulteração e contaminação por metanol.

Mais de mil garrafas já foram recolhidas pela polícia e pela Vigilância Sanitária até a noite de quinta-feira (2). Deste total, cerca de 250 chegaram ao IC e estão passando por análise.

O diretor do Núcleo de Química do Instituto de Criminalística, Mauro Renault, explicou à GloboNews que o processo é dividido em duas etapas:

•             Documentoscopia: as garrafas passam por uma análise inicial no setor de documentoscopia, que verifica a autenticidade do produto. Nessa etapa, peritos conferem selo, rótulo, lacre e vedação — tudo o que pode indicar adulteração ou falsificação do padrão. Essa verificação é feita tanto a olho nu quanto com o auxílio de equipamentos, como lentes especiais;

•             Núcleo de Química: em seguida, o material segue para o Núcleo de Química. Ali, as embalagens passam por uma nova verificação e o líquido é colocado em frascos e inserido em centrífugas. Os dados extraídos são processados em programas que identificam todas as substâncias presentes, suas concentrações e se estão dentro dos limites permitidos.      

Segundo o IC, todas as garrafas já passaram pela análise de documentoscopia. No exame químico, a cada duas horas sai o resultado de uma amostra. Até agora, das dez garrafas analisadas, duas testaram positivo para metanol.

“Os laudos são remetidos para a Polícia Civil, que segue com apurações minuciosas para esclarecer os casos de falsificação de bebidas”, informou a Secretaria da Segurança Pública em nota.

O que é o metanol e por que ele oferece risco à saúde

Diferentemente do etanol — que está presente nas bebidas alcoólicas comuns —, o metanol não é seguro para consumo humano. Sem cheiro, cor ou sabor característicos, pode ser misturado ilegalmente a bebidas sem que o consumidor perceba.

Quando ingerido, o organismo o processa o metanol no fígado, onde se transforma em substâncias altamente tóxicas, como o ácido fórmico.

Os efeitos aparecem rapidamente: visão borrada, tontura, dor abdominal, respiração acelerada e, em casos mais graves, cegueira irreversível, falência de órgãos e morte.

A gravidade depende da quantidade ingerida e da rapidez do atendimento médico, já que o tratamento é considerado uma corrida contra o tempo.

Na última semana, diferentes estados registraram suspeitas de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas adulteradas.

Diante do aumento de ocorrências, o Ministério da Saúde instalou uma Sala de Situação nacional para coordenar as ações com Anvisa, vigilâncias sanitárias estaduais e municipais, além de órgãos como Ministério da Justiça e Ministério da Agricultura.

Tribuna Livre, com informações do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic)

Leia também
Bolsonaro segue com crises de soluços, que ficam mais intensas quando ele fala muito’, diz médico do ex-presidente
‘Bolsonaro segue com crises de soluços, que ficam mais intensas quando ele fala muito’, diz médico do ex-presidente
STJ envia ação do Rumble contra Alexandre de Moraes à PGR
Irmãos são investigados suspeitos de adulterar bebidas em São Paulo
Irmãos são investigados suspeitos de adulterar bebidas em São Paulo
Ministério da Saúde corrige Padilha e diz que caso de Hungria ainda não está confirmado
Ministério da Saúde corrige Padilha e diz que caso de Hungria ainda não está confirmado
Anvisa determina recolhimento de queijo artesanal contaminado
Anvisa determina recolhimento de queijo artesanal contaminado
Lula autoriza fim da obrigatoriedade de autoescola para emissão de CNH
Lula autoriza fim da obrigatoriedade de autoescola para emissão de CNH
Ederson Xavier de Lima, conhecido como Boré, estava com mandado de prisão em aberto e tem passagens criminais por tráfico de drogas, receptação, extorsão e organização criminosa
Chefe de facção em MT preso em praia do RJ foi abordado por policiais à paisana
Michelle Bolsonaro processa Joice Hasselmann e quer censurar vídeo com a ex-deputada
Michelle Bolsonaro processa Joice Hasselmann e quer censurar vídeo com a ex-deputada
Supervisor chama trabalhador de “recordista de atestados”, Justiça reconhece assédio moral e empresa terá de pagar indenização elevada
Supervisor chama trabalhador de “recordista de atestados”, Justiça reconhece assédio moral e empresa terá de pagar indenização elevada
Lei prevê multa de R$ 8
Lei prevê multa de R$ 8.000,00 para postos de gasolina irregulares
Como o PCC usava rede de motéis para lavar dinheiro em SP?
Como o PCC usava rede de motéis para lavar dinheiro em SP?
Relatório do TCU aponta ineficiências em praticamente todos os maiores gastos tributários
Relatório do TCU aponta ineficiências em praticamente todos os maiores gastos tributários

STJ envia ação do Rumble contra Alexandre de Moraes à PGR

Processo tramita sob segredo de Justiça O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Herman Benjamin, encaminhou à Procuradoria-Geral da República (PGR) a ação movida contra o ministro Alexandre de Moraes pela rede social Rumble e pela Trump Media, empresa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O caso tramita

Leia mais...

A sua privacidade é importante para o Tribuna Livre Brasil. Nossa política de privacidade visa garantir a transparência e segurança no tratamento de seus dados pessoais.