13/11/2025

Por que ‘cinturão blindado’ de Donetsk é tão importante para a defesa da Ucrânia

Grande parte da cidade de Chasiv Yar, na região de Donetsk, está em ruínas - (crédito: BBC)

Vladimir Putin pode condicionar o fim da guerra na Ucrânia à cessão da região de Donetsk para a Rússia. Mas a perda do oeste de Donetsk significaria para os ucranianos a queda de um bastião de defesa contra eventuais avanços russos no futuro.

Uma importante lição da recente cúpula realizada no Alasca entre o presidente americano Donald Trump e o presidente russo, Vladimir Putin, é que a Rússia supostamente deseja congelar a guerra na Ucrânia ao longo da linha de frente atual, em troca da rendição do restante da região de Donetsk.

A Rússia controla hoje cerca de 70% daquela região (oblast), incluindo a capital regional do mesmo nome. Os combates já duram mais de uma década e transformaram Donetsk e a vizinha Luhansk no local mais sangrento do conflito.

Para a Rússia, conquistar toda a região de Donetsk consolidaria sua reivindicação sobre aquele oblast, não reconhecida internacionalmente. E também evitaria novas e pesadas perdas militares.

Já para a Ucrânia, abandonar o oeste de Donetsk significaria a dolorosa perda não só das terras, com a perspectiva de um novo êxodo de refugiados, mas a queda de um bastião contra eventuais avanços futuros da Rússia.

Mas por que este território é tão importante para os dois países?

Quais territórios ainda estão sob o controle da Ucrânia?

A agência de notícias Reuters estima que a Ucrânia ainda detenha cerca de 6.600 km² de território em Donetsk. Cerca de 250 mil pessoas permanecem na região, segundo declaração recente das autoridades locais.

Os principais centros urbanos incluem Kramatorsk, Slovyansk, Kostyantynivka e Druzhkivka.

O território faz parte da principal região industrial da Ucrânia, Donbas (a bacia do rio Donets). Mas a guerra devastou sua economia.

“Na realidade, estes recursos provavelmente não poderão ser explorados, talvez por pelo menos uma década, devido às minas [terrestres]”, explica à agência Reuters a professora de Políticas Russas e do Leste Europeu Marnie Howlett, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

“Estas terras foram completamente destruídas, as cidades foram totalmente dizimadas.”

Qual é a a importância militar da região?

Um recente relatório do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês), com sede nos Estados Unidos, descreve um “cinturão da resistência” que se estende por 50 km, através do oeste de Donetsk.

“A Ucrânia passou os últimos 11 anos dedicando tempo, dinheiro e esforços para reforçar o cinturão da resistência e estabelecer infraestrutura defensiva e industrial significativa”, segundo o relatório.

Os relatos da região dão conta da existência de trincheiras, bunkers, campos minados, obstáculos antitanques e arame farpado.

As forças russas que atacam na direção de Pokrovsk “trabalham para capturá-la, o que provavelmente levaria vários anos”, afirma o ISW.

As fortificações certamente fazem parte da defesa ucraniana, mas a topografia também colabora.

“O terreno pode ser razoavelmente defendido, particularmente na altura de Chasiv Yar, que vem sustentando as linhas ucranianas”, declarou à BBC o pesquisador de guerras terrestres Nick Reynolds, do Instituto Real britânico de Serviços Unidos (Rusi, na sigla em inglês).

Mas ele destaca que, “se você observar a topografia de Donbas e do leste da Ucrânia em geral, o terreno como um todo, na verdade, não favorece os ucranianos”.

“A cidade de Donetsk fica em um planalto. Quando você viaja para o oeste, tudo é descida, o que não é bom para os ucranianos em termos de operações defensivas.”

“Não se trata apenas de atrair o inimigo para o combate ou das dificuldades para subir e descer os morros”, explica Reynolds. “Muito disso também é questão de observação e, portanto, da capacidade de coordenar disparos de artilharia e outras formas de apoio, sem lançar drones.”

“Da mesma forma, os planaltos são melhores para a propagação de ondas de rádio e para a coordenação de drones.”

Os russos afirmaram recentemente terem capturado Chasiv Yar. A cidade “é um dos últimos trechos de planalto controlados pelos ucranianos”, segundo Reynolds.

Para ele, a inteligência obtida de imagens de satélite, sejam elas comerciais ou fornecidas pelos parceiros internacionais da Ucrânia, é muito importante, “mas não é o mesmo que poder coordenar diretamente suas próprias missões táticas”.

O exército russo precisa de toda a região de Donetsk?

O oeste de Donetsk é apenas uma pequena parte de uma linha de frente que se estende por cerca de 1.100 km. Mas a região presenciou alguns dos mais ferozes ataques russos deste verão no hemisfério norte.

Se os russos canalizassem suas forças terrestres em qualquer outra direção, provavelmente eles não teriam feito maiores progressos.

“No sul, a linha do front em Zaporizhzhia, agora, é muito parecida com a de Donbas”, explica Reynolds. “Por isso, eles também estariam simplesmente lutando por extensas posições defensivas.”

“Os russos enfrentam o mesmo problema tentando atacar o norte, de forma que eles certamente não encontrariam as portas abertas.”

A Ucrânia conseguiria reconstruir suas defesas mais para o oeste?

Teoricamente, no caso de um acordo de paz, os ucranianos poderiam mover sua linha de defesa mais para o oeste.

É claro que haveria a questão do terreno desfavorável. Construir as defesas levaria tempo, mesmo com o auxílio de empreiteiros civis, que não precisariam trabalhar sob ataque.

Mas uma coisa é a teoria. Reynolds não consegue imaginar o exército ucraniano entregando o oeste de Donetsk sem lutar, “mesmo se o governo Trump tentar usar a continuidade do apoio dos Estados Unidos ou garantias de segurança como incentivo”.

Para o pesquisador, “considerando o comportamento anterior dos russos e a técnica de transação explícita adotada pelo governo americano, é difícil imaginar que o governo ucraniano estaria disposto a desistir daquele território”.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, declarou que seu país rejeitaria qualquer proposta russa de entregar a região de Donbas em troca de um cessar-fogo. Ele afirma que o território poderá servir de base para novos ataques no futuro.

Tribuna Livre, com informações da BBC News

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