28/10/2025

Primeira delação de Cid citou 9 dos 40 indiciados pela PF em relatório sobre trama golpista

Brasília (DF) 11/07/2023 Depoimento para CPMI do golpe do tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid, ex-ajudante-de-ordens do então presidente Jair Bolsonaro.Foto Lula Marques/ Agência Brasil

A delação premiada de Cid com a PF foi homologada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), em setembro de 2023

O primeiro depoimento da delação premiada do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) Mauro Cid citou 9 das 40 pessoas que acabaram sendo indiciadas pela Polícia Federal sob suspeita de participação em tentativa de golpe de Estado após a vitória de Lula (PT).

Conforme a íntegra do documento de agosto de 2023, obtida pelo colunista Elio Gaspari, Cid apontou 20 nomes que estariam envolvidos na trama golpista, mas nem todos foram indiciados mais de um ano depois pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.

No depoimento, o militar já sugeria o envolvimento dos generais Walter Braga Netto, ex-ministro e candidato derrotado a vice-presidente, Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa e ex-comandante do Exército, e Mario Fernandes, ex-número dois da Secretaria-Geral da Presidência.

Cid também apontava a participação direta do ex-assessor de Bolsonaro Filipe Martins, considerado um dos principais articuladores do plano de golpe, e do ex-comandante da Marinha almirante Almir Garnier, que teria colocado as tropas à disposição da intentona.

Aparecem ainda o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o major Angelo Denicoli, indiciado pela PF sob suspeita de ter fornecido arquivos com informações falsas sobre as urnas eletrônicas.

Mesmo tendo sido descrito por Cid no primeiro interrogatório como legalista, o general Estevam Theophilo, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército, foi citado posteriormente e indiciado pela PF.

A delação premiada de Cid com a PF foi homologada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), em setembro de 2023. O primeiro depoimento no âmbito da colaboração impulsionou o inquérito do golpe, mas foi complementado nos meses seguintes, avançando inclusive sobre a participação do general Braga Netto.

Há cerca de dois meses, Cid foi ouvido pessoalmente pela primeira vez por Moraes, relator do caso, sobre omissões e contradições apontadas pela Polícia Federal.

Entre outros pontos, o militar foi questionado por não ter comentado com os investigadores sobre o plano do general Mario Fernandes de matar Lula, Geraldo Alckmin (PSB) e Moraes no fim de 2022. O acordo foi mantido pelo ministro.

No depoimento de agosto de 2023 dado à PF, Cid dividiu os aliados de Bolsonaro após a derrota para Lula em três grupos. Narrou ainda episódios do período em que o ex-presidente estava isolado na residência oficial –como a ação em Brasília em 12 de dezembro de 2022.

O primeiro grupo, segundo o ex-ajudante de ordens, era “conservador, de linha bem política”, e incentivava o então presidente a pedir a desmobilização dos apoiadores que pediam a intervenção das Forças Armadas.

Nele estariam o senador Ciro Nogueira (PP-PI), então ministro da Casa Civil, o filho mais velho de Bolsonaro, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o ex-advogado-geral da União Bruno Bianco e o ex-comandante da Aeronáutica Baptista Junior.

O segundo grupo seria formado por pessoas “moderadas” que, “apesar de não concordar com o caminho que o Brasil estava indo”, entendiam que “nada poderia ser feito diante do resultado das eleições” porque “qualquer coisa em outro sentido seria um golpe armado”.

Cid cita então o ex-comandante do Exército general Freire Gomes, o ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira, Theophilo e o general Júlio Cesar de Arruda (nomeado comandante do Exército em 28 de dezembro de 2022 e demitido por Lula em 21 de janeiro de 2023).

Dentro do grupo classificado por Cid de “moderado”, estavam ainda aliados que incentivavam o ex-presidente a deixar o país, como o empresário Paulo Junqueira e o ex-secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura Nabhan Garcia.

Por fim, Cid aponta que existia o grupo de “radicais”. Nele estariam Valdemar, o ex-ministro da Saúde e hoje deputado federal general Eduardo Pazuello (PL-RJ), o major Denicoli, o senador Luiz Carlos Heinze (PL-RS), o ex-chefe da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques, Filipe Martins e Almir Garnier.

A lista do ex-ajudante de ordens, conforme a íntegra do depoimento, também faz menção a Michelle e Eduardo Bolsonaro (PL-SP), aos ex-ministros Onyx Lorenzoni e Gilson Machado, aos senadores Jorge Seif (PL-SC) e Magno Malta (PL-ES), ao general Mario Fernandes e, por fim, a Braga Netto. Apesar de ter sido apontado como moderado, Paulo Sérgio Nogueira também é citado como radical.

Alguns pontos do primeiro depoimento de Cid já eram conhecidos –inclusive por ter embasado o relatório final da PF sobre a tentativa de golpe, que foi tornado público no fim do ano–, mas não a íntegra.

No relatório final, a PF também apontou que Braga Netto entrou em contato com o pai de Cid, o general Mauro Lourena Cid, para conseguir informações sigilosas da delação premiada. Ele está preso desde 14 de dezembro por obstrução de Justiça.

Na ocasião, a defesa do general negou que ele tenha obstruído as investigações e afirmou que isso será provado. Em manifestação anterior, disse que “nunca se tratou de golpe, e muito menos de plano de assassinar alguém”.

Outros indiciados também negam participação em qualquer tentativa de golpe. A defesa de Theophilo afirma que o militar não recebeu nenhuma minuta golpista no período em que comandou o Comando de Operações Terrestres e que os erros do relatório final da PF serão comprovados.

Já o advogado Celso Vilardi, que defende Bolsonaro, disse em entrevista à Folha no último dia 21 que está “convicto de que não há qualquer tipo de participação do presidente Bolsonaro em relação a esses fatos”.

O advogado também afirmou estar preocupado com processos ou condenações baseados em “versões questionáveis de um delator, sem provas de corroboração”, em referência à delação de Cid.

A defesa de Filipe Martins disse que o indiciamento foi “fabricado inteiramente com base em ilações e narrativas fantasiosas –jamais em fatos e evidências concretas”, sendo “risível e juridicamente insustentável”.

Seif disse em nota que as menções são “falaciosas, absurdas e mentirosas”. “Jamais ouvi, abordei ou insinuei nada sobre o suposto golpe com o presidente da República nem com quaisquer dos citados na delação vazada”, afirmou.

Ele disse que, “apesar de ter sido classificado no depoimento como parte de um ‘grupo’” que “se encontrava apenas esporadicamente” com Bolsonaro, nega “veementemente que em quaisquer de meus encontros com o presidente tenha abordado ou insinuado decretação de intervenção ou outras medidas de exceção, o que prova que o depoimento vazado é completamente inverídico”. Seif disse que ingressará com as medidas jurídicas em relação ao vazamento do depoimento sigiloso.

Citados no 1º depoimento da delação de Cid

– Jair Bolsonaro*

– Paulo Sérgio Nogueira*

– Magno Malta

– Eduardo Pazuello

– Valdemar Costa Neto*

– Angelo Denicoli*

– Luiz Carlos Heinze

– Silvinei Vasques Filipe Martins*

– Almir Garnier*

– Onyx Lorenzoni

– Jorge Seif

– Gilson Machado

– Eduardo Bolsonaro

– Mario Fernandes*

– Michelle Bolsonaro

– Braga Netto*

– Bismark Fugazza

– Paulo Souza

– Oswaldo Eustáquio

– Estevam Theophilo**

Tribuna Livre, com informações da FOLHAPRESS

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