20/07/2025

Produtos ‘brasileiros’ puxam alta da inflação nos EUA mesmo antes de tarifas entrarem em vigor

Preço das frutas cítricas subiu 2,3% de maio para junho de 2025 nos Estados Unidos - (crédito: Getty Images)

Café e cítricos – produtos que Brasil exporta em grande quantidade para os EUA e que podem ser afetados por tarifaço – estão entre itens que tiveram maior alta de preços nos últimos meses.

A inflação nos Estados Unidos subiu no mês passado à medida que as tarifas do presidente Donald Trump começaram a fazer efeito, elevando os preços de itens como roupas e café.

Os preços para os consumidores aumentaram 2,7% no ano até junho, acima dos 2,4% registrados no mês anterior, com os números subindo em ritmo mais rápido desde fevereiro, segundo o Departamento do Trabalho.

Os principais responsáveis por esse aumento foram os custos mais altos com energia e moradia, como os aluguéis.

Mas os dados também sugerem que os consumidores estão começando a sentir o impacto das tarifas, já que algumas empresas passaram a repassar os custos dos novos impostos sobre importações determinados por Trump.

O preço do café aumentou 2,2% de maio para junho, enquanto o das frutas cítricas subiu 2,3%.

Segundo analistas, esses produtos podem sofrer mais pressões inflacionárias caso os EUA de fato apliquem tarifas de 50% sobre importações brasileiras em 1º de agosto, conforme anunciado pelo presidente Donald Trump na semana passada.

O Brasil tem grande peso nos mercados de café e cítricos nos EUA.

Dados oficiais do governo dos EUA indicam que o Brasil – maior produtor de café do mundo – fornece cerca de 30% do café vendido no mercado americano, seguido por Colôbia (20%) e Vietnã (10%).

No setor de cítricos dos EUA, o Brasil é crucial no fornecimento de suco de laranja, responsável por cerca de 60% das importações do produto no país, segundo associações do setor.

Na segunda-feira (14/7), os preços futuros do suco de laranja na Bolsa de Nova York alcançaram seu maior valor dos últimos 4 meses, em meio a temores de que as tarifas americanas reduzam a oferta do produto nos EUA.

Analistas dizem que uma redução na produção de laranja no Estado da Flórida agrava os riscos para o setor.

Já o preço dos brinquedos nos EUA subiu 1,8%, os de eletrodomésticos aumentaram 1,9%, e o das roupas teve uma alta de 0,4% — o primeiro aumento no setor em meses.

Mas o aumento geral permanece contido e está, em grande parte, dentro das expectativas, compensado por quedas nos preços de carros novos e usados, passagens aéreas e reservas de hotel.

“Há um indício do que provavelmente é uma inflação induzida pelas tarifas em algumas categorias, especialmente eletrodomésticos e móveis”, disse Olu Sonola, chefe de pesquisa econômica dos EUA na Fitch Ratings.

“Esse indício provavelmente ganhará força nos próximos meses.”

A tarifa efetiva média nos Estados Unidos aumentou consideravelmente neste ano, após Trump impor uma taxa de 10% sobre a maioria dos produtos que entram no país, atingindo itens essenciais como aço e carros com tarifas ainda mais altas.

Embora ele tenha suspendido alguns planos mais agressivos, nas últimas semanas ele voltou a ameaçar com novas tarifas, alertando sobre planos de aumentar as taxas sobre produtos da maioria dos países a partir de 1° de agosto. Para as exportações brasileiras, Trump anunciou uma tarifa adicional de 50%.

Negociações em andamento aumentaram as esperanças de que os acordos possam evitar tarifas punitivas.

Nesta terça-feira (15/07), o presidente americano disse, sem dar detalhes, que fez um “ótimo acordo” com a Indonésia. Até agora, suas negociações tarifárias com outros países terminaram com taxas sobre produtos muito mais altas do que as que os EUA tinham no início do ano.

Trump alega que as tarifas vão proteger as empresas americanas da competição estrangeira, impulsionar a indústria nacional e a geração de empregos, e trazer mais receita para o governo.

A Casa Branca tem rejeitado as previsões de que as medidas vão levar ao aumento dos preços para os americanos, argumentando que as empresas e os exportadores estrangeiros é que vão absorver os custos.

Essa visão constrasta com a maioria das previsões dos economistas, que afirmam que a economia dos EUA tem sido poupada até agora porque as empresas estocaram muitos produtos com antecedência.

Apesar da pressão de Trump para reduzir as taxas de juros, o banco central dos EUA tem resistindo a fazer qualquer mudança, dizendo que precisa de mais tempo para entender os efeitos das tarifas.

Analistas disseram nesta terça-feira que não esperam cortes na reunião do Fed deste mês e estão divididos em relação a setembro, diante dos novos dados sobre a inflação.

Tribuna Livre, com informações da BBC News

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