21/12/2025

Segurança da Europa em jogo: líderes se reúnem para reagir a políticas de Trump

Keir Starmer recebeu Zelensky no número 10 de Downing Street, sede do governo britânico, no dia seguinte ao bate-boca no Salão Oval da Casa Branca - (crédito: PA Media)

A Europa está se esforçando para reagir ao ritmo implacável das mudanças em Washington, mas será que vai conseguir se unir em torno de um plano?

Líderes europeus se reúnem nesta quinta-feira (06/03) em Bruxelas, na Bélgica, para discutir como aumentar as forças militares da Europa e ajudar a Ucrânia na guerra com a Rússia. A negociação acontece após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, suspender ajuda militar aos ucranianos.

“É certamente uma maneira de focar nossas mentes — e carteiras! Donald Trump está nos fazendo um favor, se escolhermos pensar dessa forma. E podemos muito bem olhar para o lado positivo. Do contrário, estes tempos serão muito sombrios”.

Estas são as palavras de um diplomata de um importante país europeu, depois que Trump suspendeu a ajuda militar à Ucrânia na segunda-feira (3/3). Ele pediu para não ser identificado para poder compartilhar seus pensamentos com mais liberdade.

O ritmo implacável das mudanças em Washington pode ser vertiginoso. Não apenas para os consumidores de notícias, mas também para os políticos.

A Europa está se esforçando para reagir de forma eficaz.

Houve um frenesi de atividades diplomáticas: telefonemas bilaterais de líderes tarde da noite, encontros europeus em Londres e Paris, reuniões dos ministros da defesa da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em Bruxelas. E a cúpula de segurança de emergência dos líderes da União Europeia (UE) também foi convocada para esta quinta-feira (6/3).

É um momento importante na história da Europa.

A maioria dos países europeus acredita que a segurança de toda a Europa, e não apenas a soberania da Ucrânia, está em jogo — com a Rússia buscando desmantelar o equilíbrio de poder voltado para o Ocidente, em vigor desde o fim da Guerra Fria.

Washington, que apoia a Europa em termos de segurança e defesa desde a Segunda Guerra Mundial, agora parece “não se importar com o destino da Europa”, de acordo com Friedrich Merz, provável futuro chanceler da Alemanha, a maior economia do continente.

Mas o que todas as grandes reuniões e cúpulas europeias estão realmente alcançando?

Apenas algumas horas antes de Washington suspender a ajuda militar a Kiev, o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, que está assumindo a liderança na Europa em relação à Ucrânia, anunciou que era hora de “ação, e não de palavras”. Enquanto isso, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que a Europa precisa transformar a Ucrânia em um “porco-espinho de aço”, com fornecimentos extras e urgentes de armas.

Mas será que o continente pode realmente agir como um só? A Europa é a soma total de diferentes países, com orçamentos de tamanhos diferentes e políticas e prioridades internas diversas.

O objetivo da Europa ao tomar esta medida de defesa é duplo:

Primeiro, mostrar a Donald Trump que — nas palavras do primeiro-ministro britânico — a Europa agora vai fazer o “trabalho pesado” para se defender. A Europa espera persuadir Trump a retomar o apoio militar à Ucrânia, e a manter o atual apoio de segurança à Europa como um todo, se ele acreditar que eles não estão mais “se aproveitando” dos Estados Unidos.

Mas os líderes europeus também vão precisar reforçar urgentemente suas próprias defesas, e o apoio a Kiev de qualquer forma, se Donald Trump se afastar da Ucrânia e, mais adiante, da Europa de forma mais ampla em termos de segurança.

Não é só para Washington que a Europa sente que precisa provar algo.

A Rússia também está observando.

As diversas reuniões de emergência europeias de alto escalão e com grandes promessas precisam agora produzir resultados rápidos, impressionantes e práticos — caso contrário, aos olhos do Kremlin, a Europa vai parecer fraca e vulnerável.

Moscou já se vangloriou das “divisões” que vê na unidade ocidental.

Donald Trump diz que confia no presidente russo, Vladimir Putin, mas ele tem sido mordaz com os aliados da Otan, e chamou o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, de ditador.

A Rússia sabe que, apesar de todo discurso da Europa sobre se defender com determinação agora, qualquer especialista em segurança com quem você conversar, reconhece que — pelo menos a curto e médio prazo — a Europa ainda precisa dos EUA.

É por isso que, na semana passada, em Washington, vimos o presidente francês e o primeiro-ministro do Reino Unido, separadamente, cortejando Trump.

Os EUA preencheram as enormes lacunas na defesa europeia, deixadas por anos de subinvestimento crônico após o fim da Guerra Fria.

O número de tropas na Europa diminuiu com o fim do serviço militar obrigatório na maioria dos países europeus. Os EUA têm cerca de 100 mil soldados e armas nucleares em várias partes da Europa sob a política de compartilhamento nuclear da Otan. Muitos deles estão na Alemanha, uma grande potência europeia não nuclear, que teme ficar gravemente exposta à Rússia caso Donald Trump retire seu apoio.

Se o Reino Unido e a França conseguirem reunir o que eles chamam de “coalizão dos dispostos” — países europeus que aceitam enviar até mesmo um número modesto de tropas de manutenção da paz para a Ucrânia assim que um cessar-fogo for acordado —, isso poderia sobrecarregar os Exércitos europeus e expor lacunas nas defesas da Otan.

É por isso que a Polônia não está disposta a enviar tropas para essa “coalizão”. O país afirma que precisa manter os soldados em casa para se defender da Rússia. E também espera fervorosamente que os EUA não retirem suas tropas do leste europeu.

Mas a Europa também depende dos EUA para obter recursos militares que garantam o bom andamento das operações. Esses recursos são conhecidos como “facilitadores”.

A Ucrânia depende muito da inteligência dos EUA, por exemplo, para manter uma posição forte contra a Rússia.

Mas, na quarta-feira (5/3), o jornal Financial Times informou que os EUA haviam suspendido o compartilhamento de informações com Kiev, em uma medida que poderia afetar seriamente a capacidade dos militares ucranianos de atacar as forças russas.

Qualquer força europeia de manutenção da paz ou de “garantia” na Ucrânia precisaria do apoio dos EUA para estabelecer um escudo aéreo sobre a Ucrânia. A Europa carece de recursos de reabastecimento aéreo, assim como de munições que possam derrubar as defesas aéreas na Rússia, se necessário.

Esses facilitadores “não podem ser comprados às pressas em uma rede de mercado atacadista”, como me disse um político europeu.

É por isso que o Reino Unido, a França e outros países da Europa estão tão interessados em manter o apoio dos EUA pelo maior tempo possível.

“Alguns de meus estimados colegas europeus provavelmente deveriam se abster de tuitar com raiva”, me disse um diplomata frustrado de uma nação importante.

Estávamos discutindo a indignação europeia diante do tratamento dado ao presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, pelo presidente e vice-presidente dos EUA no Salão Oval da Casa Branca na última sexta-feira (28/2).

“A verdadeira liderança não se resume a desabafar online. Trata-se de encontrar as palavras certas para avançar de forma construtiva, por mais complicada que a situação seja.”

“Precisamos do apoio contínuo dos EUA na Ucrânia e na Europa? Temos mais em comum com os EUA do que com a China? Estas são as questões fundamentais que precisamos ter em mente.”

Outra questão fundamental para a Europa é, obviamente, quanto dinheiro é necessário, e com que rapidez, para reforçar a defesa de forma convincente.

Em relação à Ucrânia, a Europa poderia substituir facilmente o atual apoio dos EUA, se realmente decidir fazer isso.

A Alemanha é o maior doador de ajuda militar à Ucrânia depois dos EUA. Se outras potências europeias seguissem seu exemplo, diz ele, a defesa da Ucrânia estaria coberta em um futuro próximo.

A Alemanha e outros países do norte da Europa expressaram ressentimento em relação à França, por exemplo, que, segundo eles, fala muito sobre a defesa da Ucrânia — e é forte em liderança e estratégia — mas, na verdade, doou relativamente pouco.

Quanto aos gastos mais amplos com defesa, a presidente da Comissão da União Europeia, Ursula von der Leyen, declarou na terça-feira que “a Europa está em uma era de rearmamento”.

Ela sugeriu que o bloco europeu sozinho poderia mobilizar um total de 800 bilhões de euros (pouco menos de R$ 5 trilhões) para gastos com defesa, da seguinte maneira:

– Usando o orçamento conjunto de forma mais criativa;

– Fornecendo 150 bilhões de euros em empréstimos para beneficiar a defesa da União Europeia como um todo — por exemplo, em defesa aérea e antimísseis, em sistemas antidrones e mobilidade militar;

– Suspendendo as regras fiscais da União Europeia para permitir que cada país do bloco gaste mais em defesa.

Os líderes da União Europeia vão debater as propostas dela e outras em sua cúpula nesta quinta-feira — incluindo se os ativos russos congelados na Europa poderiam ser usados para financiar a Ucrânia.

Mas potenciais divisões europeias, algumas já conhecidas, pairam no ar. Muitas delas alimentadas pela política interna dos Estados membros.

A Hungria, próxima da Rússia e do governo Trump, é um entrave em praticamente todos os debates do bloco europeu para ajudar a Ucrânia. Bruxelas teme que a Eslováquia esteja seguindo pelo mesmo caminho.

Os países próximos às fronteiras da Rússia não precisam explicar aos eleitores por que os gastos com defesa precisam ser altos. As minúsculas nações bálticas expostas, Estônia e Lituânia, já gastam mais de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) em defesa. Elas querem aumentar este percentual para 5% em um futuro próximo.

Enquanto isso, duas grandes economias europeias, Itália e Espanha, geograficamente muito mais distantes da Rússia, não gastam o requisito mínimo da Otan de 2% do PIB em defesa.

Na Alemanha, na França e no Reino Unido, de acordo com um estudo realizado pelo grupo de pesquisa Focaldata, com sede em Londres, a maioria dos eleitores quer manter ou reduzir os gastos com defesa, preferindo que o governo se concentre em outras prioridades dos eleitores.

Mas o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, está alertando os europeus para que acordem, e sintam o cheiro do café que está sendo preparado em Washington e Moscou.

Segundo ele, as nações europeias precisam gastar mais de 3% do PIB agora para que o continente deixe efetivamente de depender profundamente dos EUA.

Se Donald Trump se retirar completamente da Europa, sem falar da Ucrânia, isso significaria gastar de 4% a 6% do PIB, de acordo com especialistas em defesa: um terremoto político, social e econômico que os líderes europeus esperam não ter que enfrentar.

Tribuna Livre, com informações da BBC News

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