Com a variação de 0,4% na comparação com os primeiros três meses do ano, o desempenho do PIB no segundo trimestre colocou o Brasil na 32ª colocação em uma lista de 49 nações listadas pela Austin Rating. Em 12 meses, o crescimento é de 3,2%
Indicador de riqueza do país, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,4% no segundo trimestre do ano, na comparação com os três meses anteriores, totalizando R$ 3,2 trilhões, conforme dados divulgados, nesta terça-feira (2), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nos 12 meses terminados em junho, o Brasil acumula alta de 3,2%.
O resultado do trimestre ficou ligeiramente acima da mediana das estimativas do mercado para a variação trimestral, de 0,3%, mas confirmou a tendência de desaceleração em relação à alta revisada de 1,3% no PIB de janeiro a março, em grande parte, devido aos impactos da política monetária do Banco Central. O número do primeiro trimestre revisado ficou abaixo da alta de 1,4% estimada anteriormente.
Com a variação de 0,4% na comparação com os primeiros três meses do ano, o desempenho do PIB no segundo trimestre colocou o Brasil na 32ª colocação em uma lista de 49 nações listadas pela Austin Rating, ou seja, entre os países que registraram as menores taxas de crescimento. A variação média das economias ficou 0,7%, acima da taxa do PIB nacional. No primeiro trimestre do ano, o Brasil tinha ficado na 5ª colocação no mesmo ranking global da agência de classificação de risco.
Pela ótica da oferta, conforme os dados do IBGE, as altas de 0,6% no setor de serviços e de 0,5% na indústria compensaram a variação negativa de 0,1% da agropecuária. E, pelo lado da oferta, o consumo das famílias ainda registrou crescimento, de 0,5%, enquanto o consumo do governo e os investimentos recuaram 0,6% e 2,2%, respectivamente. Na comparação interanual, o PIB avançou 2,2% no segundo semestre, com destaque para o setor agrícola, que avançou 10,1%.
Aperto monetário
A freada no ritmo de crescimento do PIB no segundo trimestre era esperada pelos analistas, devido ao impacto da política monetária conduzida pelo Banco Central, de acordo com analistas. A taxa básica da economia (Selic) está atualmente em 15% ao ano e o BC tem sinalizado que ela deverá permanecer em patamar elevado por um período “bastante prolongado”. Com isso, o segmento que mais tem sentido o impacto dos juros mais altos é a indústria da transformação, que recuou 0,5% na comparação trimestral, enquanto a média do setor da indústria cresceu 0,5%. Nos três meses anteriores, a indústria da transformação recuou 1%. Outro segmento que vem sentindo o impacto dos juros altos é o da construção, que também registrou queda por dois trimestres seguidos neste ano.
Ao comentar os dados do PIB, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) voltou a defender queda nos juros. “A economia demonstra, claramente, a necessidade de iniciarmos um ciclo de queda na taxa de juros. Esta é, hoje, a maior trava ao desenvolvimento econômico, à criação e manutenção de emprego e ao aumento da renda da população. O atual patamar da taxa básica de juros, em 15%, é insustentável para quem produz”, disse Ricardo Alban, presidente da CNI, no comunicado. Ele lidera, em Washington, uma missão empresarial para abrir canais de diálogo com os Estados Unidos para negociar saídas ao tarifaço imposto pelo presidente norte-americano Donald Trump aos produtos brasileiros.
Analistas reforçam as apostas de que a atividade continuará desacelerando nos próximos trimestres. “Os dados do PIB demandam cautela, apesar de alguns setores apresentaram crescimento melhor do que o esperado. A tendência ainda é de desaceleração e com o PIB caminhando para fechar o ano com alta em torno de 2%, nada acima disso, porque é o que se espera dos efeitos da política monetária”, afirmou a economista Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
“Em linhas gerais, os dados do PIB confirmam essa tendência de desaceleração, apesar de algumas diferenças em termos de magnitude, mas a direção está bem em linha com o esperado”, explicou Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências Consultoria. Ela prevê que, nos dois trimestre seguintes do ano, o PIB deverá apresentar crescimento ainda mais modesto, de 0,2%. “O PIB vai continuar diminuindo o ritmo, nessa linha de continuidade da desaceleração, porque temos a política monetária mais restritiva”, destacou.
De acordo com Silvia Matos, a safra recorde de soja neste ano é um dos fatores que ajudaram nesse desempenho mais positivo no PIB do segundo trimestre, de acordo com os analistas. As estimativas para queda na agropecuária estavam em torno de 2,6% a 2,9% na comparação com o trimestre anterior. “Houve uma surpresa positiva em relação ao setor agropecuário, provavelmente, por conta de um aumento na produtividade”, afirmou Matos. Segundo ela, o cálculo feito pelo IBGE é complexo, porque mede o desempenho de cada cultura de grãos em relação à área plantada.
Tribuna Livre, com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).