13/11/2025

Só MEC e BC ficam fora dos cortes do governo

Motta: suspensão do decreto para não afetar operações de risco sacado - (crédito: Bruno Spada/Agência Câmara)

Planejamento detalha quanto cada ministério e órgão federal terão de poupar para as contas fecharem. Cidades é o mais atingido e nem mesmo o Novo PAC foi preservado

Pouco mais de uma semana depois de divulgar o congelamento de R$ 31,3 bilhões na execução orçamentária deste ano, o governo federal detalhou quanto cada ministério e órgão federal terá de cortar este ano. A lista abrange quase todas as pastas do Executivo, exceto o Ministério da Educação (MEC) e o Banco Central (BC). Os dados foram divulgados pelo Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO).

O valor tinha sido detalhado no último Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias (RARDP). Antes, a contenção de R$ 31,3 bilhões era composta de um bloqueio de R$ 10,6 bilhões e por um contingenciamento de R$ 20,7 bilhões. De acordo com a regra fiscal aprovada em 2023, o governo federal diferencia contingenciamento (uma contenção feita para alcançar a meta fiscal) de bloqueio (que é utilizado para garantir o cumprimento de gastos).

No decreto publicado na sexta-feira, o governo detalha os valores que serão contingenciados e bloqueados do orçamento. Do total, pouco mais de R$ 24,1 bilhões referem-se a despesas discricionárias (não obrigatórias) que seriam direcionadas para os ministérios e órgãos do Executivo. O restante, que corresponde a cerca de R$ 7,13 bilhões, seria destinado a emendas parlamentares. Dentro das despesas discricionárias, em torno de R$ 7,64 bilhões serão congelados do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

A pasta mais atingida é o Ministério das Cidades, com um congelamento em torno de R$ 4,28 bilhões. Entre as que foram mais impactadas pelo decreto estão Defesa (R$ 2,59 bilhões), Saúde (R$ 2,36 bilhões) e Desenvolvimento, Assistência Social, Família e Combate à Fome (R$ 2,12 bilhões). O Ministério da Fazenda, de Fernando Haddad, é o sexto mais atingido, e terá R$ 1,4 bilhão em recursos congelados, ficando atrás do Ministério dos Transportes, com R$ 1,4 bilhão suprimidos.

Para César Bergo, professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB), a principal novidade do novo congelamento é a transferência de responsabilidade para os ministérios, que têm até 6 de junho para detalhar quais serão os programas que sofrerão contingenciamento ou bloqueio. “Desta vez, o Ministério da Fazenda não foi cirúrgico”, observa.

De acordo com o último relatório bimestral do Ministério do Planejamento e Orçamento, as despesas que mais cresceram, para além do que era planejado pelo governo federal na Lei Orçamentária Anual (LOA), foram as relativas à previdência, que tiveram um avanço de 15,6%. Outros itens que também influenciaram o bloqueio foram os subsídios; as subvenções ao Proagro, no âmbito do Plano Safra (4,5%); e os Benefícios de Prestação Continuada (BPC, 2,8%).

O professor de Economia da UnB ressalta que os gastos previdenciários já somam mais de R$ 1 trilhão por ano — ou cerca de 12% do Produto Interno Bruto (PIB). Na avaliação do acadêmico, a equipe econômica precisa se debruçar em mudanças estruturais, como a reforma administrativa e a do Imposto de Renda (IR), que vem sendo negociada pelo governo Lula no Congresso. Apesar disso, ele enxerga a decisão do Poder Executivo de congelar parte do orçamento como um passo importante, ainda que seja insuficiente para fechar as contas públicas.

“A iniciativa do governo de fazer o bloqueio foi positiva, mas o volume talvez pudesse ser maior. Em termos de bloqueio, R$ 31 bilhões é um valor significativo. Mostra, sim, a boa intenção da equipe econômica em cumprir a meta fiscal. O mercado recebeu bem a notícia”, avalia.

Suspensão do decreto

O governo, porém, ainda tem o nó do Imposto Sobre Operações Financeiras para desatar. Ontem, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), solicitou à equipe econômica a suspensão imediata da incidência do IOF sobre as operações de risco sacado — uma modalidade de crédito em que as instituições financeiras antecipam valores para que os empresários as devolvam a prazo. Isso porque o decreto do governo federal, que passa a valer hoje, determina que o imposto passe a incidir sobre a antecipação, o que pode impactar, principalmente, as pequenas empresas que necessitam dos valores recebidos antes para terem capital de giro.

Nos últimos dias, senadores e deputados vêm se articulando no Congresso para tentar barrar o Decreto 12.467, que estabelece as novas alíquotas de IOF. Foram apresentadas, pelo menos, 20 propostas de decreto legislativo somente sobre esse tema, nas duas casas. Na quinta-feira, Motta e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), reuniram-se com Haddad, que recebeu um ultimato para, em 10 dias, apresentar alternativas ao aumento do imposto. O ministro ainda tentou fazer ver aos dois que a manutenção do decreto serve, sobretudo, para manter a máquina pública funcionando. Mas não os convenceu.

O decreto presidencial pretende arrecadar R$ 20,5 bilhões a mais neste ano, e R$ 41 bilhões, em 2026. Porém, vários atores do setor produtivo deixaram claro que não aceitam aumento de imposto. Uma nota assinada por diversas entidades, de vários setores da economia, criticou a majoração do IOF e destacou que a medida apresentada pela equipe econômica atrapalha o fluxo e a entrada de investimentos no país. Mais: pressionaram os parlamentares por uma resposta ao decreto na forma de derrubada ou de formulação de uma alternativa.

Tribuna Livre, com informações do Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO).

Leia também
f1280x720-162567_294242_5050
Ex-presidente do inss detido por suposto esquema de desvios
fta20250929252
Adiamento: votação do pl antifacção é remarcada para 18 de novembro
f1280x720-160698_292373_5050
Haddad critica relator de projeto: 'enfraquece o estado e favorece o crime'
fernando-haddad
Haddad critica relator de pl antifacção e defende discussão ampla
f1280x720-159597_291272_5050
Campeonato de cortes para tarcísio: tática de apoio fabricado em debate
PL quer enquadramento de criminosos como terroristas
PL quer enquadramento de criminosos como terroristas
Derrite recua, desiste de mudar Lei Antiterrorismo e diz que competência da PF será preservada
Derrite recua, desiste de mudar Lei Antiterrorismo e diz que competência da PF será preservada
bolsonaro-condenado
Moraes libera visitas de políticos a bolsonaro em prisão domiciliar
f1280x720-162409_294084_5050
Flávio dino pede investigação da pf sobre emendas a ongs
f1280x720-162360_294035_5050
Blindagem à polícia federal: acordo político define futuro das investigações
imagem-jvp-27
Pgr pede condenação de deputados do pl por corrupção e organização criminosa
tn220250926047
Derrite propõe mudanças em lei antifacção e pf manifesta preocupação

Não é só o sol: estrela ejeta plasma em evento inédito

Astrônomos testemunham, pela primeira vez, uma estrela diferente do Sol expelindo um jato de plasma conhecido como ejeção de massa coronal (CME). O fenômeno, similar ao que ocorre em explosões solares, foi captado por instrumentos espaciais e terrestres. A descoberta, realizada através da sonda espacial XMM-Newton da Agência Espacial Europeia

Leia mais...

Haddad critica relator de pl antifacção e defende discussão ampla

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, expressou críticas ao deputado federal Guilherme Derrite, relator do Projeto de Lei (PL) Antifacção, questionando sua expertise em investigações e inteligência contra o crime organizado. Derrite, atualmente licenciado do cargo de secretário de Segurança Pública do governo de São Paulo, liderado por Tarcísio de

Leia mais...

Música criada por ia engana 97% dos ouvintes, revela estudo

Uma pesquisa recente revelou um dado surpreendente: a grande maioria dos ouvintes não consegue diferenciar músicas criadas por inteligência artificial daquelas compostas por humanos. O estudo Deezer-Ipsos, divulgado nesta quarta-feira, aponta que 97% dos participantes não notaram a diferença, um resultado que acentua as crescentes preocupações sobre o impacto da

Leia mais...

Campeonato de cortes para tarcísio: tática de apoio fabricado em debate

O cenário político digital contemporâneo enfrenta um desafio crescente: a simulação de apoio popular através de operações pagas nas redes sociais. Esta tática, que busca distorcer a percepção pública e influenciar algoritmos, levanta sérias questões sobre a integridade dos processos eleitorais e a autenticidade do engajamento online. A estratégia, frequentemente

Leia mais...

Gama: homem é condenado por homicídio após 25 anos de fuga

Após 25 anos foragido, Francisco Edson Pereira foi condenado a 18 anos e 9 meses de reclusão em regime inicial fechado pelo Tribunal do Júri do Gama. A decisão, proferida nesta terça-feira, 11 de novembro, é resultado da atuação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), por meio

Leia mais...

Panamá apreende 12 toneladas de cocaína no Pacífico

País é uma das rotas de contrabando que levam drogas provenientes da Colômbia até os Estados Unidos O Panamá realizou uma das maiores apreensões de drogas de sua história, ao confiscar cerca de 12 toneladas de cocaína em uma embarcação no Pacífico que se dirigia aos Estados Unidos, informaram as

Leia mais...

Governo dos EUA está à beira de encerrar shutdown histórico

Depois de 43 dias, o maior shutdown da história do país pode ter fim, nesta quarta-feira, e deixar US$ 11 bilhões em prejuízos permanentes à economia. Câmara dos Representantes deve se reunir para votar orçamento com democratas divididos A declaração de alívio foi proferida pelo presidente Donald Trump durante cerimônia

Leia mais...

PL quer enquadramento de criminosos como terroristas

Deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), líder do partido na Câmara, afirma que proposta do Poder Executivo não traz paz para o cidadão. E assegura que não haverá redução nas atribuições da PF O líder do Partido Liberal (PL), deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), acompanhou nesta terça-feira (11) a coletiva do presidente da

Leia mais...

A sua privacidade é importante para o Tribuna Livre Brasil. Nossa política de privacidade visa garantir a transparência e segurança no tratamento de seus dados pessoais.