13/09/2025

‘Stefa 5%’ : entenda como cadernos apreendidos pela PF incriminaram o ‘Careca do INSS’

O 'Careca do INSS' — Foto: Reprodução/Polícia Federal

Anotações encontradas em primeira fase da ação contra fraudes bilionárias virou mapa para chegar à hierarquia da quadrilha

O empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, e o empresário Maurício Camisotti, foram presos nesta sexta-feira sob acusação de participação em fraudes bilionárias contra o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A ação da Polícia Federal é um desdobramento da Operação Sem Desconto, que apura um esquema nacional de descontos associativos indevidos em aposentadorias e pensões.

Um conjunto de cadernos grandes de brochura e capa dura apreendidos pela Polícia Federal (PF) foi tratado internamente pelos investigadores como a maior descoberta na primeira fase da operação sobre as fraudes bilionárias no INSS, conforme revelou a colunista do GLOBO Malu Gaspar. A apreensão virou uma espécie de mapa para chegar aos próximos níveis hierárquicos da quadrilha que roubava mensalmente uma parte da aposentadoria de milhões de brasileiros.

Encontrados no escritório brasiliense do “Careca do INSS”, os 20 cadernos eram preenchidos todo dia pela secretária dele e contêm um registro das atividades e das finanças do operador, que segundo a PF era quem pagava a propina das entidades que fraudaram as aposentadorias para os funcionários do INSS.

Detalhista, a secretária sempre anotava no alto das páginas a data e as porcentagem devidas a cada integrante do esquema. Graças a ela, a PF encontrou nos cadernos anotações como “Virgilio 5%” e “Stefa 5%”, que os agentes acreditam corresponder aos pagamentos feitos ao procurador-geral do INSS, Virgílio Oliveira Filho, e ao ex-presidente do instituto, Alessandro Stefanutto – ambos afastados pela Justiça.

Segundo a PF, ex-diretores do INSS e pessoas relacionadas a eles receberam, ao todo, mais de R$ 17 milhões em transferências de indivíduos apontados como intermediários das associações, como o “Careca”.

Mas, embora já tenham sido encontradas evidências de que Virgílio ganhou de integrantes da quadrilha um carro de luxo que custa pelo menos meio milhão de reais, ainda não havia pistas de pagamentos de propina para Stefanutto.

Após a publicação da reportagem de Malu Gaspar, em maio, a defesa de Stefanutto encaminhou uma nota na qual o ex-presidente do INSS afirma não manter “qualquer relação pessoal com o investigado Antônio Carlos Camilo Antunes”, o “Careca do INSS”, e que a anotação “apócrifa” dos percentuais “supostamente encontrada em cadernos atribuídos ao investigado não guarda qualquer conexão com fatos, valores ou atos praticados” por ele e “tampouco com decisões adotadas em sua gestão”.

O pedido de afastamento dele feito à Justiça teve como base uma série de despachos em que ele autorizou dezenas de milhares de descontos ilegais das aposentadorias, ignorando as recomendações dos técnicos e procuradores do instituto.

Com os cadernos, que também contêm nomes de empresas, datas de encontros e outros detalhes da atividade dos fraudadores, a PF espera não só desvendar até onde ia o envolvimento de Stefanutto com a quadrilha, como também saber quem mais pode ter recebido vantagens indevidas dos fraudadores.

Segundo a representação da polícia, só o “Careca do INSS” movimentou diretamente R$ 53,5 milhões provenientes de entidades sindicais e de empresas relacionadas às associações que fraudaram autorizações para descontar todo mês dos beneficiários valores que deveriam pagar por seguros e serviços aos aposentados – mas que eram desviados.

No total, a PF estima que a quadrilha tenha desviado R$ 6,3 bilhões de pelo menos 4 milhões de aposentados desde 2019.

Tribuna Livre, com informações da Polícia Federal (PF) 

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