22/12/2025

Surra’ na direita pode ser mais difícil do que Lula prometeu, dizem especialistas

/Montagem sobre fotos de Ricardo Stuckert/PR - 19.12.2025 e Flickr do senador Flávio Bolsonaro - Arquivo

Declaração dura do presidente, em pleno discurso de palanque, reacende o debate sobre o cenário eleitoral

A declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a possibilidade de “dar uma surra” na direita nas eleições presidenciais de 2026 elevou o tom do embate político e reacendeu o debate sobre o real grau de vantagem do petista no cenário eleitoral.

Embora Lula demonstre confiança e explore a fragmentação do campo oposicionista, analistas apontam que o caminho para uma vitória ampla está longe de ser simples.

Durante evento em São Paulo, na sexta-feira (19), o presidente associou adversários ao negacionismo e à condução da pandemia e afirmou que o país não pode permitir o retorno da extrema direita ao poder.

A fala teve forte repercussão política e foi interpretada como um recado direto ao eleitorado e às lideranças conservadoras.

Para especialistas ouvidos pela reportagem, o discurso tem forte caráter mobilizador, mas não elimina obstáculos estruturais nem garante uma vitória elástica em 2026.

Confiança retórica, vantagem relativa

Segundo o cientista político Gabriel Amaral, a fala de Lula deve ser compreendida mais como estratégia política do que como leitura objetiva do cenário eleitoral.

O presidente parte de uma posição relativamente confortável, sustentada pelo cargo, pela visibilidade institucional e pela ausência de uma liderança nacional consolidada na direita.

Pesquisas recentes mostram dispersão de nomes conservadores no primeiro turno e desempenho semelhante entre possíveis adversários em simulações de segundo turno.

Esse padrão sugere que o problema da oposição não está apenas nos candidatos, mas na incapacidade de construir uma alternativa nacional coesa.

Ainda assim, Amaral pondera que essa vantagem não significa terreno livre. “A assimetria favorece Lula, mas não garante uma ‘surra’. Ela reflete, sobretudo, a desorganização do campo oposicionista”, avalia.

Direita fragmentada, mas competitiva

O principal desafio da direita, segundo os analistas, está na fragmentação interna. Governadores e lideranças regionais com bom desempenho administrativo ainda não conseguiram nacionalizar seus nomes nem construir uma narrativa comum capaz de dialogar com o centro político.

Para se tornar competitiva, a oposição precisaria abandonar a dependência exclusiva do antipetismo e apresentar um projeto de futuro com foco em crescimento econômico, estabilidade institucional e governabilidade. Sem isso, a disputa tende a permanecer centrada na rejeição mútua, o que limita ganhos eleitorais mais amplos para qualquer lado.

Polarização impõe limites

Na avaliação de Márcio Coimbra, CEO da Casa Política e ex-diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal, a retórica dura de Lula ajuda a energizar sua base, mas esbarra na realidade de um país profundamente polarizado. “A polarização reduz margens. Mesmo presidentes bem avaliados enfrentam limites claros para vitórias amplas”, afirma.

Coimbra destaca que fatores como inflação, percepção de custo de vida e comportamento da classe média baixa terão peso decisivo.

Além disso, o desgaste natural de quem está no poder e os altos índices de rejeição ao presidente indicam que o resultado tende a ser apertado.

Para ele, a direita só se tornará efetivamente competitiva se conseguir unificar nomes como Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado ou Romeu Zema em torno de um projeto claro de “pós-bolsonarismo”, com discurso moderado e foco em eficiência administrativa.

Eleição em aberto

O cenário desenhado pelos especialistas aponta para uma disputa menos previsível do que o discurso presidencial sugere. Enquanto Lula aposta na fragmentação da direita e na recuperação econômica, a oposição tenta se reorganizar e ampliar seu alcance além da base ideológica.

A eleição de 2026 deve ser decidida menos por bravatas de palanque e mais pela capacidade de cada campo em dialogar com o eleitor indeciso, especialmente nas periferias e no interior do país. Por ora, a “surra” prometida pelo presidente permanece como retórica política — e não como um desfecho garantido.

Tribuna Livre, com informações do portal UOL

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