Governo brasileiro promete retaliação; analistas apontam motivação política e risco de inflação com impacto sobre os juros
O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de uma tarifa de 50% sobre todas as importações brasileiras a partir de 1º de agosto provocou forte turbulência no mercado financeiro na manhã desta quinta-feira (10/7). A medida pegou de surpresa tanto o governo brasileiro quanto os agentes econômicos, que esperavam um avanço nas negociações comerciais entre os dois países.
No mercado de câmbio, o dólar disparou. No início da manhã, a moeda norte-americana chegou a ser negociada a R$ 5,620 no mercado à vista, com alta de mais de 2%. Já o dólar futuro para agosto chegou a R$ 5,65 por volta das 9h20, com avanço de 0,60%. A valorização reflete a fuga de capital estrangeiro e o aumento da percepção de risco no Brasil.
O movimento também afetou os juros futuros, que passaram a subir em praticamente toda a curva, especialmente nas taxas de curto prazo, pressionadas ainda pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho, divulgado nesta manhã pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A inflação oficial do mês foi de 0,24%, levemente abaixo da taxa de maio (0,26%), mas ainda acima da mediana das expectativas do mercado (0,20%). Em 12 meses, o índice acumula alta de 5,35%, dentro do intervalo esperado, mas ainda acima da meta de 3% perseguida pelo Banco Central.
Para o economista da Valor Investimentos, Ian Lopes, a resposta dos mercados foi imediata e negativa. “Os mercados estão reagindo bem mal a essa tarifa de 50% que saiu ontem no final da tarde. O dólar já passou da casa dos R$ 5,50, o que mostra uma reação de estresse”, afirma. “Apesar de a tarifa não fazer muito sentido do ponto de vista econômico — já que os Estados Unidos têm superávit na balança comercial com o Brasil —, ela tem um claro caráter político.”
Lopes acrescenta que a medida tem potencial inflacionário e que isso pressiona as expectativas de juros tanto no Brasil quanto nos EUA. “Naturalmente a gente sabe que tarifa é inflacionária. Então, juros mais altos aqui e lá por conta disso”, afirmou. “Por ora, é mercado caindo e dólar subindo. Esperamos que saia algum acordo, mas até lá o cenário é de estresse.”
A decisão foi recebida como um ato de forte impacto político e econômico, com potencial de reconfigurar o relacionamento bilateral e acirrar as tensões comerciais. O Itamaraty declarou que avalia adotar medidas de retaliação com base na lei de reciprocidade, enquanto investidores e analistas reagem com apreensão ao cenário de incerteza.
Retaliação
O governo brasileiro ainda não detalhou quais produtos ou setores seriam alvo de retaliação, mas fontes no Ministério das Relações Exteriores indicam que a medida será proporcional e respeitará as normas da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Especialistas avaliam que o endurecimento nas relações entre Brasília e Washington reflete uma guinada protecionista dos Estados Unidos. Analistas alertam que, se a tensão evoluir para uma guerra comercial, os impactos podem ser duradouros e atingir setores estratégicos da economia brasileira, como agronegócio, siderurgia e manufatura.
Enquanto isso, o mercado segue em compasso de espera, atento a possíveis reações diplomáticas e negociações nos bastidores para tentar reverter a medida antes que entre em vigor no mês que vem.
Tribuna Livre, com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)